Por Mário Abbade - Jovem Nerd
Desde a década de 70, com o surgimento da crise de energia, de petróleo e, principalmente, do papel, os quadrinhos não conseguem repetir os números do passado. Os Super-heróis, que sempre desempenharam o papel de protetores da sociedade, tinham como seu instrumento de trabalho superpoderes que os mantinham fisicamente superiores aos seus inimigos. Portanto, o estigma, portanto, da força é o que sempre acompanhou a vida desses heróis. A razão pela qual sem ela de nada adiantaria os montes de músculos de nossos justiceiros, e a violência, dada como única maneira de se tratar os delinqüentes.
Dois dos primeiros heróis dos gibis – Super-Homem e Batman – tinham como principal arma a força bruta. É claro que Batman dependia bastante de sua capacidade intelectual, tanto que é considerado o maior detetive dentre todos os seus companheiros. Porém, de nada adiantaria uma pista certa se, na hora de enfrentar o bandido, ele não utilizasse seus punhos. O mesmo ocorre com o Homem de Aço que, sem precisar de todo aquele aparato técnico do Batman – cinto de utilidades, Batmóvel, Batcomputadores, etc. – concentrava nele próprio, toda a capacidade tecnológica do mundo contemporâneo. Trata-se, precisamente de encontrar um ser humano – ou kriptoniano, como queira – que tenha todo o poder da máquina, sem ser máquina.
A forma de trabalho do super-herói é a aventura, e seu resultado espiritual é aquilo que todo Estado, que se considere eficaz, deveria promover: a felicidade social. Portanto, tudo gira em torno da idéia da preservação da Lei e da ordem nem que, para isso, seja necessária a mais drástica das violências, como um trecho de uma história de Aquaman de 1970, em que ele próprio narra:
Foi através do amor à pátria que começou a se perceber o quanto era importante nestas histórias a presença de uma relação afetiva. Sem ela, toda violência não teria sentido. O Capitão América, por exemplo, foi criado em 1941 sob encomenda do governo americano em um momento delicado da história mundial, quando se tornava imprescindível a presença do sentimento patriótico.
Os EUA precisavam do respaldo popular para que pudessem participar da guerra, de forma a não comprometer sua supremacia. Por isso, nada mais eficaz do que o apelo à emoção para sensibilizar a opinião pública. Este fato em si já revela todo o poder que a indústria cultural, através de uma veiculação em massa – no caso, as histórias em quadrinhos – exerce sobre a população, e prova definitivamente, que o divertimento é usado como instrumento de manobra ideológica.
Em 1955, quando Sedução do Inocente, doDr. Fredric Wertham, foi publicado, iniciou-se uma reação social. Pela primeira vez uma série de ilustrações típicas de revistinhas de histórias de crimes despertou a atenção dos pais, cientistas e de outros adultos. Muitas pessoas, pela primeira vez, passaram a ter conhecimento do que contém as “revistinhas”. Foi, também, mostrada a prova clínica e científica dos efeitos resultantes da leitura das histórias de crimes das revistinhas. Uma mudança ocorreu. Diminuiu o assassinato nas revistas, bem como o número de editores. É verdade que títulos de crimes (não histórias) diminuíram e não eram expostos na capa. As histórias de assassinatos realistas, em ambientes urbanos, tornaram-se menos freqüentes. O crime e a violência ainda reinam supremos, embora freqüentemente disfarçados. A partir dessa controvérsia, foi estabelecido o Código de ética das H.Q. (Comics Code Authority). Neste pequeno tratado, além das regulamentações concernentes a crimes, violência e vocabulário, há uma parte dedicada especialmente ao casamento e ao sexo:
Batman foi o personagem mais sacrificado por todas essas regras e códigos do passado. Acabou tornando-se especialmente interessante para o público gay por três razões:
Ele acreditava que os leitores copiariam o conteúdo das histórias. Alegava que todos absorviam aquilo de forma passiva. Batman foi o escolhido para exemplificar suas estapafúrdias teorias:
E o Batman? Perdeu sua couraça de vigilante e tornou-se um defensor dos valores americanos. Introduziram Batwoman e Batgirl para que não existisse nenhuma dúvida a respeito da vida sexual da Dupla Dinâmica. Em 1963, a história “The Great Clayface-Joker Feud” exemplifica as normas sexuais vigentes para todos os morcegos reunidos. Batgirl diz para Robin: “Mal posso esperar para colocar meu uniforme! Não seria o máximo a gente sair em missão juntinhos de novo? (suspiro)”. Robin responde: “Seria ótimo! (suspiro)”. Batgirl era sobrinha da Batwoman, pois se ela fosse filha, implicaria em relação sexual com alguém. Esta é a era de Troy Donohue e Pat Boone. Batman servia de termômetro cultural, ‘tirando a temperatura’ dos tempos.
Clayface/Joker não representavam uma ameaça ou violência. O episódio ainda conclui com mais uma mensagem heterossexual: “Oh Robin,” diz Batgirl, “Fiquei tão assustada depois desse confronto com o Coringa que preciso de um abraço…você é tão forte!”. Batwoman aproveita a deixa e diz: “Batman, você ainda está preocupado com o Coringa. Por que não segue o exemplo de Robin e me deixa aliviá-lo?”. Batman: “É uma ótima idéia!”. Mesmo essa história tendo sido publicada em 1963, ela ainda era um reflexo da década de 50. Se os anos 60 começaram para o mundo com a chegada dos Beatles, para Batman só começou em 1966 com o seriado para a TV.
E o que Bob Kane, criador de Batman, achava disso tudo? Em todo esse período ficou bastante desapontado. Tive a oportunidade de conversar com o lendário criador em uma convenção sobre o Cavaleiro das Trevas nos Estados Unidos. Ele disse que as convenções americanas são as mais hipócritas do mundo. Primeiro teve que criar o Robin para humanizar a figura do Batman por exigência do moral e bons costumes. Não achavam uma boa influência para os leitores o estilo sombrio e seus métodos violentos. Robin foi criado para contrastar com o lado negro do morcego.
Depois dessas mudanças, resolveram acusar os personagens de homossexuais. Bob Kane afirma que Batman e Robin são heterossexuais e que infelizmente os fãs serão obrigados a conviver com essa chacota, por causa da mente insana do Dr. Fredric Wertham. Mas fez questão de frisar que não tinha nada contra os homossexuais. Se os mesmos precisavam do Batman para desmistificar o preconceito, teriam seu apoio. Só queria que isso fosse de forma positiva e não na galhofa, pois incentivava mais ainda a homofobia.
Desde que foi criado, Batman teve vários relacionamentos com mulheres de todos os tipos e estilos. Seu alter ego, Bruce Wayne também. Mas uma coisa é lógica no mundo dos quadrinhos: Batman jamais poderia se casar. Ele estaria se limitando ou até mesmo se castrando como super-herói.
E isso é justamente o que os editores não querem, pois é inconcebível para os leitores a figura de Batman casado e com filhos, ou o herói tendo que voltar mais cedo para casa para fazer companhia a sua esposa, ao invés de se dedicar exclusivamente ao combate do crime. Isso não impede que ele se apaixone. Nesses casos, o amor é utilizado em grande escala, mas é claro que há uma situação limite, pois o amor nada é do que um engodo para atrair a curiosidade do público e que nunca será levado às últimas conseqüências. Com isso, o personagem se aproxima de seu público, satisfazendo por um lado o desejo da aventura e por outro o sonho romântico.
O amor como integrante de um universo de amenidades, teve sempre uma presença maciça dentro dos veículos de massa. As Histórias em Quadrinhos, um pouco diferentes, passaram a abordar assuntos como amor e sexualidade com maior freqüência no intuito de projetar algo que esteve reprimido durante muitos anos, a custo de leis e códigos de ética.
É uma pena que tudo isso levou a deturpar a verdadeira personalidade dos heróis. Tantas décadas de repressão foram as responsáveis por erros que talvez nunca sejam corrigidos. Além disso, há uma enorme luta por parte da comunidade gay em adquirir direitos iguais. E nessa busca por igualdade, uma parte dos gays procuram se auto afirmar se utilizando de personalidades, heróis mitos e lendas. Eles acreditam que divulgando possíveis gays históricos, seja a forma de sensibilizar a sociedade.
Com isso começam a criar e inventar em qualquer particularidade um signo de homossexualidade. O mais patético é quando ser gay, é uma característica negativa. Nesses casos, eles preferem não citar a personalidade em questão. Um exemplo recente é a suposta homossexualidade de Adolf Hitler – já comprovada inexistente – que era usada como uma qualidade para denegrir ainda mais a imagem do sanguinário Führer.
Realmente é muito mais confortável exibir homossexuais tidos como exemplo de heroísmo, capacidade e inteligência. Batman encaixa-se perfeitamente nesse perfil. Até por ser um personagem fictício, ele não existe fora das mentes de seus leitores e escritores. Por isso ele pode ser usado como elemento de auto-afirmação por aqueles que ainda não conseguiram sair do armário ou os que precisam da aprovação da sociedade. Esses não querem saber dos motivos que levaram Bob Kane a criar o herói ou descobrir a psique do personagem.
Preferem fantasiar seu próprio Cavaleiro das Trevas, tanto que, descobriu-se recentemente que Fredric Wertham, o responsável por toda essa polêmica, pode ter tido relações homossexuais na adolescência. Isso sim, merecia um estudo aprofundado por parte da psicologia.
A forma de trabalho do super-herói é a aventura, e seu resultado espiritual é aquilo que todo Estado, que se considere eficaz, deveria promover: a felicidade social. Portanto, tudo gira em torno da idéia da preservação da Lei e da ordem nem que, para isso, seja necessária a mais drástica das violências, como um trecho de uma história de Aquaman de 1970, em que ele próprio narra:
“Um dia, durante uma busca, avistei um mergulhador na eminência de arpoar um narval. Eram águas protegidas da pesca por leis internacionais. Cego de raiva, ataquei-o para detê-lo. Mas na minha fúria me traiu… A bordo do navio oceanográfico, percebi com horror o que fizera…Este, portanto, era o principal atrativo das histórias em quadrinhos da época. A grande maioria delas não continha historietas para fazer rir, e sim de criminalidade e de violência. O cenário pode mudar, mas a substância é a mesma, seja em florestas, no lar, na rua, num ambiente urbano, no mar, no espaço sideral, onde quer que seja. Muitas revistinhas de guerra pertencem à mesma categoria, com o crime e a violência disfarçados de patriotismo.
- É o Doutor Simon Link, biólogo. Estava marcando narvais para estudos sobre migrações! Você o matou, Aquaman!
- O quê…? Mas eu não queria… Pensei que era um pescador clandestino!”
Foi através do amor à pátria que começou a se perceber o quanto era importante nestas histórias a presença de uma relação afetiva. Sem ela, toda violência não teria sentido. O Capitão América, por exemplo, foi criado em 1941 sob encomenda do governo americano em um momento delicado da história mundial, quando se tornava imprescindível a presença do sentimento patriótico.
Os EUA precisavam do respaldo popular para que pudessem participar da guerra, de forma a não comprometer sua supremacia. Por isso, nada mais eficaz do que o apelo à emoção para sensibilizar a opinião pública. Este fato em si já revela todo o poder que a indústria cultural, através de uma veiculação em massa – no caso, as histórias em quadrinhos – exerce sobre a população, e prova definitivamente, que o divertimento é usado como instrumento de manobra ideológica.
Em 1955, quando Sedução do Inocente, doDr. Fredric Wertham, foi publicado, iniciou-se uma reação social. Pela primeira vez uma série de ilustrações típicas de revistinhas de histórias de crimes despertou a atenção dos pais, cientistas e de outros adultos. Muitas pessoas, pela primeira vez, passaram a ter conhecimento do que contém as “revistinhas”. Foi, também, mostrada a prova clínica e científica dos efeitos resultantes da leitura das histórias de crimes das revistinhas. Uma mudança ocorreu. Diminuiu o assassinato nas revistas, bem como o número de editores. É verdade que títulos de crimes (não histórias) diminuíram e não eram expostos na capa. As histórias de assassinatos realistas, em ambientes urbanos, tornaram-se menos freqüentes. O crime e a violência ainda reinam supremos, embora freqüentemente disfarçados. A partir dessa controvérsia, foi estabelecido o Código de ética das H.Q. (Comics Code Authority). Neste pequeno tratado, além das regulamentações concernentes a crimes, violência e vocabulário, há uma parte dedicada especialmente ao casamento e ao sexo:
1- Divórcio não deve ser tratado humoristicamente, nem sendo representado como sendo desejável.Os padrões morais, hoje, são bem diferentes dos da época da publicação deste código e também a abordagem do sexo do casamento nos quadrinhos. Depois da leitura do item 3, pode-se compreender que as regras e moral de cinco décadas atrás eram bem mais rígidas. Tanto que em 1988 foi lançada pela primeira vez uma revista que conta como o Monstro do Pântano “transa” com uma mulher. A história, chamada Ritual da Primavera, não transcreve exatamente o relacionamento sexual, porém transmite todo o significado sutil do que seja o orgasmo. Envolto por um clima de completo romantismo, o monstro dá um pedaço do seu corpo (ele não possui órgão genital) para a mulher comer, fazendo com que ela embarque numa viagem psicodélica. Este é, sem dúvida nenhuma, um marco na história das Histórias de Quadrinhos.
2- Relações sexuais ilícitas não devem ser retratadas e anormalidades sexuais são inaceitáveis.
3- Todas as situações que tratem com a unidade familiar devem ter como principal objetivo a proteção das crianças e da vida familiar. Em caso algum a quebra do código de moral deve ser representada como recompensadora.
4- Estupro nunca deve ser mostrado ou sugerido. Sedução não deve ser mostrada.
5- Perversão sexual ou qualquer alusão ao mesmo é estritamente proibida.
Batman foi o personagem mais sacrificado por todas essas regras e códigos do passado. Acabou tornando-se especialmente interessante para o público gay por três razões:
1- Foi o primeiro personagem fictício a ser atacado pelo Dr. Fredric Wertham em seu livro aSedução do Inocente.A Sedução do Inocente é um livro extraordinário, não por seu conteúdo, mas por ser um melodrama extravagante disfarçado em psicologia social. Fredric Wertham parece um clone do Senador McCarthy – que perseguiu pessoas inocentes, com a desculpa de serem comunistas nos anos 50. Wertham era um evangélico imbuído em salvar a juventude americana dos seus piores impulsos.
2- O seriado dos anos 60, que satirizava o personagem como sendo um homossexual enrustido.
3- O herói mais popular e conhecido desse planeta, simbolizando como nenhum outro a figura masculina.
“Todo pré-adolescente tem um período que despreza as meninas. Algumas revistas em quadrinhos fixam essa atitude e ainda criam a idéia de que garotas só servem para apanhar ou para te seduzir. É sugerida uma atitude homo erótica da forma que a masculinidade é apresentada. As mulheres sempre são bruxas ou violentas. As mulheres sempre são desenhadas num tom pouco erótico. Já os heróis sempre estão em tons agressivamente eróticos. O musculoso “super-tipo” é enfatizado com o objetivo de criar estímulo e curiosidade sexual no leitor.”É tanto absurdo que nem vale a pena confrontar. Até porque Martin Barker destrói cada um das teorias absurdas de Wertham no ótimo A Haunt of Fears (1984). O homossexualismo para Wertham é sinônimo de misoginia. Homens amam outros homens, porque detestam mulheres. Desenhos de mulheres apanhando são responsáveis pelos sentimentos homoeróticos reprimidos. Isso deve ser novidade para as milhares de mulheres que são sistematicamente abusadas fisicamente por heterossexuais. As mulheres que não se encaixam nos estereótipos existentes de feminilidade são mais um estímulo para o homossexualismo. Após explicar suas teorias infames, Wertham dispara sua metralhadora na mansão Wayne:
“Algumas vezes Batman está de cama por causa de algum ferimento. Robin aparece sentado ao seu lado. Eles levam uma vida idílica. Eles são Bruce Wayne e ‘Dick’ Grayson, Bruce é descrito como milionário bon vivant e Dick como seu pupilo. Eles moram numa mansão suntuosa com lindas flores em vasos enormes. Eles têm um mordomo, Alfred. Batman aparece algumas vezes de roupão. Parece um paraíso, um sonho de consumo de dois homossexuais que vivem juntos. Às vezes aparecem num sofá. Bruce reclinado e Dick ao seu lado sem paletó e de camisa aberta”.As suposições homossexuais de Wertham são sugeridas por sua interpretação de certos signos visuais. Então para se evitar ser chamado de homossexual por Wertham, Bruce e Dick deveriam ter feito o seguinte: não mostrar preocupação quando estivessem feridos, morar numa cabana, terem flores horrorosas em pequenos vasos, chamar seu mordomo de Joe ou nem ter um, nunca dividirem um sofá, usar paletó, manter a camisa toda abotoada e nunca usar roupão. Nem a Mulher-Maravilha escapou dos devaneios de Wertham:
“A conotação homossexual das histórias da Mulher-Maravilha é psicologicamente irrefutável. Para os meninos, a imagem da Mulher-Maravilha é assustadora. Para as meninas é um ideal mórbido. Se Batman é anti-feminino, a atraente Mulher-Maravilha e suas contrapartes são definitivamente anti-masculina. A Mulher-Maravilha tem suas próprias seguidoras femininas. Suas seguidores são as meninas que gostam de ‘festejar’, as lésbicas”.A visão de homossexualismo de Wertham é inconsistente. Mulheres fortes, resolutas e admiráveis irão transformar meninas em lésbicas – um heroína dessa maneira só poder ser apontada como ‘mórbido ideal’. As loucuras de Wertham surtiram efeito.Nos anos 50 aconteceu um pânico moral por causa dos ‘perigos’ das revistas em quadrinhos. Depois da introdução doCódigo de Ética, carreiras acabaram e companhias faliram. Da mesma forma que oCódigo Hayes censurou Hollywood na década de 30, os quadrinhos ficaram reacionários. Na Inglaterra chegou a ser proibido a importação de revistas em quadrinhos americanas.
E o Batman? Perdeu sua couraça de vigilante e tornou-se um defensor dos valores americanos. Introduziram Batwoman e Batgirl para que não existisse nenhuma dúvida a respeito da vida sexual da Dupla Dinâmica. Em 1963, a história “The Great Clayface-Joker Feud” exemplifica as normas sexuais vigentes para todos os morcegos reunidos. Batgirl diz para Robin: “Mal posso esperar para colocar meu uniforme! Não seria o máximo a gente sair em missão juntinhos de novo? (suspiro)”. Robin responde: “Seria ótimo! (suspiro)”. Batgirl era sobrinha da Batwoman, pois se ela fosse filha, implicaria em relação sexual com alguém. Esta é a era de Troy Donohue e Pat Boone. Batman servia de termômetro cultural, ‘tirando a temperatura’ dos tempos.
Clayface/Joker não representavam uma ameaça ou violência. O episódio ainda conclui com mais uma mensagem heterossexual: “Oh Robin,” diz Batgirl, “Fiquei tão assustada depois desse confronto com o Coringa que preciso de um abraço…você é tão forte!”. Batwoman aproveita a deixa e diz: “Batman, você ainda está preocupado com o Coringa. Por que não segue o exemplo de Robin e me deixa aliviá-lo?”. Batman: “É uma ótima idéia!”. Mesmo essa história tendo sido publicada em 1963, ela ainda era um reflexo da década de 50. Se os anos 60 começaram para o mundo com a chegada dos Beatles, para Batman só começou em 1966 com o seriado para a TV.
E o que Bob Kane, criador de Batman, achava disso tudo? Em todo esse período ficou bastante desapontado. Tive a oportunidade de conversar com o lendário criador em uma convenção sobre o Cavaleiro das Trevas nos Estados Unidos. Ele disse que as convenções americanas são as mais hipócritas do mundo. Primeiro teve que criar o Robin para humanizar a figura do Batman por exigência do moral e bons costumes. Não achavam uma boa influência para os leitores o estilo sombrio e seus métodos violentos. Robin foi criado para contrastar com o lado negro do morcego.
E isso é justamente o que os editores não querem, pois é inconcebível para os leitores a figura de Batman casado e com filhos, ou o herói tendo que voltar mais cedo para casa para fazer companhia a sua esposa, ao invés de se dedicar exclusivamente ao combate do crime. Isso não impede que ele se apaixone. Nesses casos, o amor é utilizado em grande escala, mas é claro que há uma situação limite, pois o amor nada é do que um engodo para atrair a curiosidade do público e que nunca será levado às últimas conseqüências. Com isso, o personagem se aproxima de seu público, satisfazendo por um lado o desejo da aventura e por outro o sonho romântico.
O amor como integrante de um universo de amenidades, teve sempre uma presença maciça dentro dos veículos de massa. As Histórias em Quadrinhos, um pouco diferentes, passaram a abordar assuntos como amor e sexualidade com maior freqüência no intuito de projetar algo que esteve reprimido durante muitos anos, a custo de leis e códigos de ética.
É uma pena que tudo isso levou a deturpar a verdadeira personalidade dos heróis. Tantas décadas de repressão foram as responsáveis por erros que talvez nunca sejam corrigidos. Além disso, há uma enorme luta por parte da comunidade gay em adquirir direitos iguais. E nessa busca por igualdade, uma parte dos gays procuram se auto afirmar se utilizando de personalidades, heróis mitos e lendas. Eles acreditam que divulgando possíveis gays históricos, seja a forma de sensibilizar a sociedade.
Com isso começam a criar e inventar em qualquer particularidade um signo de homossexualidade. O mais patético é quando ser gay, é uma característica negativa. Nesses casos, eles preferem não citar a personalidade em questão. Um exemplo recente é a suposta homossexualidade de Adolf Hitler – já comprovada inexistente – que era usada como uma qualidade para denegrir ainda mais a imagem do sanguinário Führer.
Realmente é muito mais confortável exibir homossexuais tidos como exemplo de heroísmo, capacidade e inteligência. Batman encaixa-se perfeitamente nesse perfil. Até por ser um personagem fictício, ele não existe fora das mentes de seus leitores e escritores. Por isso ele pode ser usado como elemento de auto-afirmação por aqueles que ainda não conseguiram sair do armário ou os que precisam da aprovação da sociedade. Esses não querem saber dos motivos que levaram Bob Kane a criar o herói ou descobrir a psique do personagem.
Preferem fantasiar seu próprio Cavaleiro das Trevas, tanto que, descobriu-se recentemente que Fredric Wertham, o responsável por toda essa polêmica, pode ter tido relações homossexuais na adolescência. Isso sim, merecia um estudo aprofundado por parte da psicologia.
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