Por Meu Herói
Falar de ecologia em pleno século XX, principalmente a partir dos anos 50, era coisa de eco-chato, de cientistas ou de minúsculos setores governamentais. Porém, desde os protestos contra a caças às baleias nos anos 70, e a defesa mundial a favor de Chico Mendes na Amazônia nos anos 80, a ecologia fortaleceu seus passos a partir da ECO-92 e, perante os recentes relatos climáticos, várias questões climáticas alcançam destaque na mídia. Inspirado nesse assunto Léo Valença organizou a obra Aquecimento Global em Cartuns com a participação de diversos desenhistas que expõem o tema com humor e consciência. Leia a seguir uma exclusiva entrevista com o artista organizador da obra.
1 – Léo, Yuri Gagarin havia dito que a terra era azul, nós a vemos em diversas cores. Qual a sua visão sobre o nosso planeta?
A Biodiversidade é o Arco-Íris da Vida que deixa a Terra mais colorida. Esta diversidade mantém a vida na Terra. As plantas verdes no solo e as plantas microscópicas nos oceanos produzem o oxigênio que respiramos. A mudança climática do globo terrestre seria muito pior, se não fosse pelo papel das florestas e dos oceanos na absorção de grande parte do dióxido de carbono que colocamos na atmosfera. As florestas de mangues mantêm o litoral tropical. Cada espécie individual depende de outras para a sua existência, e os vínculos entre as diferentes espécies mantém a vida. Se uma espécie for eliminada, as outras que dependem dela também morrerão ou serão seriamente afetadas.
Dependemos da biodiversidade para o nosso alimento, os nossos medicamentos, o nosso abrigo, para muitos produtos industrializados, tais como a madeira e a borracha, os cosméticos e muitos outros. À medida que perdemos espécies, estamos, também, perdendo novos possíveis medicamentos e alimentos, que podem ser necessários para dar continuidade à vida humana na Terra. Por exemplo, mais de metade dos nossos medicamentos provém originalmente de plantas, e outros ainda estão sendo descobertos. Um exemplo é o remédio anti-câncer, taxol, proveniente do teixo, uma árvore do Pacífico.
A Terra é a nossa casa. Satisfazer as próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das próximas gerações é prover o melhor para as pessoas e para o ambiente, tanto agora como no futuro. Devemos retribuir o carinho com que o Planeta nos recebe e ajudar neste processo de preservação do meio-ambiente.
2- Quando surgiu a ideia de reunir diferentes artistas com diferentes visões para compor um livro coletivo sobre o aquecimento global?
Eu percebia que o assunto atraía cada vez mais a atenção dos profissionais da área de humor gráfico, que o citavam em salões de humor e exposições. Considero relevante quando vários artistas se unem em prol de uma questão tão importante como essa. No campo da música, pude assistir ao Live Earth, evento que reuniu artistas de vários países em torno do aquecimento global, nas areias de Copacabana, em 2007. O tem da ecologia sempre foi abraçado por artistas e agora mais do que nunca com este problema mundial que atualmente pipoca em forma de reportagens, notas e editoriais.
3 – O livro é vendido sob demanda, ou seja, é impresso um exemplar a cada pedido, a escolha desse sistema de impressão ocorreu por virtude ecológica ou por virtude financeira ( menor capital inicial para um projeto sem tiragem impressa)?Achei ótima a proposta ecológica de publicar o livro sob demanda. Assim optei pela editora PoD ("Print on Demand") que significa "impressão sob demanda" (www.podeditora.com.br).Em uma época em que falamos tanto sobre a preservação da natureza, do uso inteligente dos recursos naturais, dos problemas de emissão de gases e, porque não, da crise de crédito que estamos passando, é paradoxal a pouca discussão a respeito da impressão sob demanda. A utilização do PoD é um recurso no qual os livros são impressos para atender à demanda, em vez da produção em grandes quantidades, para estoque. Dessa forma, menos folhas são gastas, o que diminui o desmatamento e contribui diretamente para a preservação do planeta. Além disso o papel utilizado é ecológico e de origem certificada.
4 – Como foi a busca de artistas para participarem do livro?
Ao organizar o projeto, realizei um processo de seleção com mais de 50 inscritos, dos quais 24 cartunistas forma selecionados e utilizados, além do meu próprio cartum. Recebi muitos desenhos e não foi difícil reunir esses cartunistas para a obra. Tive uma boa receptividade por parte deles que abraçaram a causa com muita paixão. Considero mais difícil realmente o trabalho de conscientização da preservação ambiental junto ao público. Ainda há estereótipos sobre aqueles que lutam em prol de um mundo melhor que precisam ser derrubados. O humor gráfico torna-se um meio eficaz neste processo que consegue atingir o público principalmente mais jovem por usar uma linguagem na qual eles se identificam.