Por Milena Azevedo - GHQ
Nem os mais otimistas teriam previsto um ano tão incrível para a arte sequencial como foi 2011. Uma porção de eventos dedicados à cultura pop e aos quadrinhos aflorou em diversas regiões do Brasil, como a Gibicon (Curitiba) e a FLIQ (Natal), e o tradicional FIQBH bateu recorde de público, superando a badalada San Diego Comic Con.
E nesses eventos todos, o quadrinho nacional provou que tem seu espaço garantido, com vários lançamentos independentes excelentes (Nanquim descartável 4, São Jorge da Mata Escura, By the Southern Grace of God), novas editoras chegando (Nemo, Tordesilhas) e outras iniciando selos de HQs (Ática, Draco), apostando também nas pratas da casa, antes mesmo da polêmica cota para publicação de quadrinhos nacionais.
Podemos dizer, igualmente, que 2011 foi um ano “milagroso”. Tivemos o fim da “maldição” de Preacher, no Brasil, com a Panini publicando o arco completo de Álamo; Mutarelli voltando a fazer quadrinhos; o álbum Toute la poussière du chemin, escrito pelo brasileiro Wander Antunes e desenhado pelo espanhol Jaime Martin, concorreu ao Grand Prinx do Festival de Angoulême; e os quadrinistas potiguares viram o sol brilhar através do projeto 1ª Edição, contando pela primeira vez com um estande próprio no FIQ.
Vi com bons olhos as iniciativas do Cláudio Martini, da Zarabatana Books, de relançar Saino a Percurá, do Marcelo Lelis (o desenhista argentino Horácio Altuna ficou encantado); da Conrad Editora, com a compilação das HQs de A Garra Cinzenta; daeditora Abril, que voltou a investir no setor de quadrinhos, criando uma linha infanto-juvenil brazuca; e do Portal Ig Jovem, abrindo espaço para webcomics e webtiras de artistas nacionais consagrados.
Destaco também o trabalho do Wellington Srbek à frente da jovem editora Nemo. Graças a ele, voltamos a ter em mãos obras de Pratt, Moebius, Tardi, todos com um projeto gráfico bacana, voltado para colecionadores exigentes, e com um preço justo pelo acabamento do material. Esse início da Nemo com o pé direito me faz indicá-la como melhor editora de 2011.
Se fazer a lista do Top 20 já era algo um tanto quanto complicado, a safra 2011 foi de rachar a cuca, embora, como de praxe, não tenha sido possível comprar e ler todos os títulos lançados.
1°) Morro da Favela (Barba Negra/Leya): o retrato que André Diniz fez do fotógrafo Maurício Hora, enquadrando o Morro da Providência e o início do tráfico de drogas nas favelas cariocas, é de uma grandeza ímpar. Seguro do seu traço e da história que narrava, Diniz escapou dos clichês e construiu uma obra coesa e sincera ao mostrar uma realidade desfavorável de forma poética e sensata.