sexta-feira, 7 de outubro de 2011

WildStorm: do sucesso ao ocaso

Conheça a trajetória da editora criada por Jim Lee, que, após quase 20 anos de mercado, deixa de existir como universo autônomo e teve seus personagens absorvidos pela DC Comics

WildStorm
No início da década de 1990, as HQs de super-heróis estavam à beira de uma revolução. O modelo no qual os artistas cediam os direitos das suas criações para as grandes editoras era questionado mais uma vez e uma leva de desenhistas e roteiristas abandonavam suas colaborações para majors americanas, como Marvel e DC Comics, criando vários estúdios reunidos em uma nova casa publicadora: a Image.
Um dos mentores dessa empreitada foi Jim Lee, desenhista de enorme sucesso em X-Men, que fundou a WildStorm Productions, em 1992.
A editora surgiu como um desenvolvimento natural do Homage Studios, fundado por Scott Williams, Whilce Portacio, Joe Chiodo e Jim Lee, que era o "cabeça" do projeto, que tinha sede em La Jolla, na Califórnia.
WildC.A.T.S.O nome da casa publicadora inspirou dois títulos importantes: WildC.A.T.S., série sobre um grupo de super-heróis mutantes de origem alienígena, envolvidos numa guerra entre civilizações rivais, e Stormwatch, que abordava uma equipe violenta a serviço das Nações Unidas.
A WildStorm foi um êxito comercial. Exceto pela criação de Todd McFarlane, Spawn, os filhotes da equipe de Jim Lee foram as que mais tiveram sucesso na Image Comics. Essas HQs incluíam, além de WildC.A.T.S. e Stormwatch, séries como os heróis adolescentes do Gen¹³, Deathblow, Cybernary e a criação de Whilce Portacio, Wetworks.
Mas, apesar do êxito nas vendas, os títulos sofriam com pesadas críticas: mesmo com o chamariz da arte, os roteiros das histórias deixavam muito a desejar. Ainda assim, o chamado "estilo Image" de desenho passou a ser copiado por artistas de outras editoras, fato que, ao longo dos anos, banalizou esse tipo de traço e diminuiu seu impacto sobre os leitores.
Foi por volta de 1995, com a criação do selo Homage Comics, que um time de bons escritores entrou para as fileiras da WildStorm. A começar por Astro City, de Kurt Busiek, e depois com Sam Kieth (também um desenhista de primeira), que publicou suas séries Zero Girl, Four Women e The Maxx (que ganhou uma ótima animação posteriormente), o aclamado Estranhos no Paraíso, de Terry Moore, e Warren Ellis, escrevendo as minisséries Mek, Red (recentemente adaptada para o cinema) e Reload.
Astro City
Em 1996, Warren Ellis inicia o processo de revitalização dos títulos regulares da WildStorm, começando com Stormwatch # 37. Depois, vieram Alan Moore, Adam Warren - que já apresentava um traço inspirado nos mangás -, Sean Phillips e Joe Casey, que escreveram histórias para as séries WildC.A.T.S. (agora rebatizados de Wildcats), Gen¹³ e DV8, revista derivada desta última.
Danger Girl, de J. Scott Campbell, inaugurou o selo Cliffhanger, voltado para trabalhos autorais, em 1997. Nesta linha, saíram títulos como Battle Chasers, de Joe Madureira (que nunca chegou ao final), Crimson e Out There, de Humberto Ramos, Steampunk, de Joe Kelly e Chris Bachalo, Arrowsmith, de Kurt Busiek e Carlos Pacheco, Tokyo Storm Warning, de Warren Ellis, e Astro City, de Kurt Busiek. Em todas elas, os autores mantinham os direitos sobre a publicação.
Em março de 1998, Jim Lee iniciou o processo de venda da WildStorm, que foi concluído no ano seguinte: a DC adquiriu a empresa, mantendo Lee no cargo de editor-chefe.
A DC tinha interesse não apenas nos personagens da editora, mas também em nomes como Jim Lee e Alan Moore, além dos seus ótimos coloristas.
Já sob a batuta da DC veio Authority, HQ criada por Warren Ellis a partir do fim de Stormwatch. O título se destacava pelo fato de apresentar sexo e violência desenfreados em histórias complexas, que desvirtuavam os clichês dos super-heróis, como o caso dos personagens Apolo e Meia-Noite, casal gay inspirados em Superman e Batman, respectivamente.
Authority
Curiosamente, foi a própria DC Comics que minou a força desses personagens, com a censura interna de algumas páginas em histórias escritas por Mark Millar e desenhadas por Frank Quitely.
Essas brigas resultaram no distanciamento de Millar da DC Comics (ele passaria a ser um escritor exclusivo da Marvel) e na demissão do editor John Layman.
Mas Ellis continuava a todo o vapor e criou também, ao lado do excelente desenhista John Cassaday, a série Planetary, uma inteligente homenagem de ficção cientifica às histórias de super-heróis.
Só que o principal evento da WildStorm em seus primeiros anos de DC foi mesmo a criação de um selo exclusivo para Alan Moore desfilar sua genialidade, o America's Best Comics, pelo qual os leitores puderam apreciar Promethea, A Liga Extraordinária, Tomorrow Stories, Tom Strong e Top 10.
Ao longo dos anos, diversos desentendimento entre Paul Levitz e Alan Moore, criaram muitos atritos dentro da WildStorm, resultando na saída de escritor, que optou publicar as aventuras da Liga Extraordinária pela Top Shelf.
Liga Extraordinária
No início dos anos 2000, novamente os principais personagens da WildStorm tiveram seus passados retificados, ganhando novas séries, mais adultas e violentas. Nesse período, Wildcats, Stormwatch e Gen¹³ ganharam novas encarnações. Outro sucesso da editora na época foi Sleeper, de Ed Brubaker, em 2003.
Em 2002, Warren Ellis criou Frequência Global, uma minissérie em 12 edições que mostrava uma equipe de inteligência de agentes especiais, que funcionava por células e combatia todo o tipo de terrorismo ao redor do mundo. A trama ganhou até um piloto televisivo, que, infelizmente, não foi para frente. Recentemente, a Panini publicou o primeiro de dois encadernados com a série.
Foi no ano de 2004 que o ótimo escritor Brian K. Vaughan lançou Ex Machina, que se passa em uma Nova York fictícia com um único super-herói, Mitchell Hundred, cujo codinome era Grande Máquina.
Com a capacidade de controlar aparelhos eletrônicos, Hundred conseguiu salvar uma das torres do World Trade Center dos famigerados ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Isso o faz abandonar o manto de herói para tentar fazer diferença em outra esfera: a política. O processo culmina com sua eleição para prefeito de Nova York.
Tendo a própria cidade de Nova York como um personagem importante e com política e aventura na medida certa, rapidamente Ex Machina se tornou um dos principais títulos da WildStorm, atraindo inclusive quem não era leitor habitual de quadrinhos.
Frequência Global
Além de tudo isso, diversas franquias famosas já tiveram HQs licenciadas pela WildStorm, como Thundercats, A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Halloween, Starcraft, Gears of War (cujo primeiro número foi a revista mais vendida nos Estados Unidos em 2008), Resident Evil, Robotech, Warriors, World of Warcraft, Arquivo X, Heroes, Supernatural e Chuck.
Apesar desses sucessos, a WildStorm não estava numa posição financeiramente confortável. A DC vinha tentando revitalizar o selo, mas, ironicamente, acabou minando a marca com interferências diversas, como no afastamento de Grant Morrison do relançamento de Wildcats e The Authority.
Começavam as primeiras demonstrações da DC de tentar absorver os personagens da WildStorm no seu universo convencional, como no crossover DreamWar, que não teve muito êxito.
Por fim, os sucessos comerciais começaram a rarear e o que restava era apenas um passado respeitável, o que não foi o bastante para sustentar o selo. Em setembro de 2010, a DC decidiu encerrá-lo. Era o fim da WildStorm e de um período importante dos quadrinhos norte-americanos.
Jim LeeWhilce Portacio

Gen13Gen13Lady ZannahWildC.A.T.S.WildC.A.T.S.Astro CityPlanetaryPrometheaSleeperStormWatchEstranhos no ParaísoTeam 7The MaxxTom StrongWetWorksWildC.A.T.S.WildC.A.T.S.

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