Soa o gongo para mais um round na luta do humor e da HQ contra o patrulhamento politicamente correto. O último havia sido a polêmica do livro Dez na Área, um na Banheira e Ninguém no Gol. E eu que achava que já tinha visto de tudo, vi o recorde da vergonha alheia ser batido mais uma vez: um sujeito tentou mostrar que os quadrinhos da Turma da Mônica são um mau exemplo para as crianças porque são “conservadores”. Dê uma olhada na imagem acima. Viu como essa turminha representa uma grande ameaça ao seu filho? Medo!
Não será preciso desmontar as fraquíssimas argumentações do texto, porque isso já está feito. O que me assusta é o falso moralismo, a mentalidade primitiva e a mesquinhez do autor, que entre outras sandices, diz que a Mônica pratica “bulling” e que a Magali e o Cascão têm “desvios comportamentais”. Ora, não entendi. Com o perdão da indiscrição, mas será que o autor se deixou influenciar tão fácil pelo Cascão que parou de tomar banho? Nada contra, só perguntando. Ou será que ele, influenciado pela Mônica, passou a praticar o “bulling” lá no sindicato dele?
Aliás, a crítica ideológica do texto é um caso à parte. Entre outras pérolas, ele classifica o Chico Bento como “uma visão elitista e burguesa do campesinato”. Se isso era para ser uma piada, o autor falhou feio — tem gente que fez muito melhor. Mas o fato é que a Turma da Mônica retrata o universo infantil de uma forma lúdica, quase ingênua. E só. Bom ou ruim, não há uma gota de ideologia por trás. Deve ser difícil para as viúvas da Guerra Fria compreenderem isso. O texto, embora travestido de crítica à obra e aos personagens, entrega a real intenção do autor: fazer um ataque pessoal ao Mauricio de Sousa. Sei lá, fazer quadrinhos infantis, ser bem sucedido comercialmente e, além de tudo, sem precisar se pendurar a qualquer governo ou partido… Deve dar uma inveja danada. Talvez seja esse o pecado de Mauricio de Sousa.
Porém, confesso que, lendo o texto, fiquei na dúvida sob qual cartilha ideológica se ajoelha o autor. Tanto poderia ser alguém da extrema direita religiosa quanto um comunista rancoroso, desses que defendem Stálin, etc. De um jeito ou de outro (senão dos dois), só me resta uma certeza: o cara é mesmo um tremendo de um reaça.
Fonte:Diogo Salles - Tragico e cômico - Estadão
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