A escolha desse personagem perseguido, marginalizado e incompreendido para estrear o Blog HQ – Hoje em Quadrinhos – não foi aleatória. Da mesma maneira que Parker, apesar de todos os obstáculos, mantêm sua determinação na luta contra o mal, outra figura, essa do mundo real, vivencia dificuldades semelhantes as do Aranha. Perseguidos e muitas vezes incompreendidos, os jornalistas vivem em um mundo que os hostiliza, crendo que eles não passam de “Abutres” em busca de uma fatalidade alheia para publicar em seus jornais, mas que ainda assim, continuam em frente, cumprindo com as grandes responsabilidades da profissão.
A relação entre os heróis dos quadrinhos e os jornalistas da vida real é tão estreita, que é possível imaginar porque os dois dos maiores heróis das hq`s foram criados como repórteres: Parker, do Clarim Diário (atualmente o CD!) e Clark Kent, do Planeta Diário (para quem não sabe, aqui vai uma revelação: Kent é o alter ego do Super Homem). Acredito que anteriormente eu citei as responsabilidades da profissão, mas acho que estava errado. Não é uma profissão. É uma paixão. Assim como um médico ou bombeiro, o jornalista não tem hora, não tem momento. A notícia acontece em todo lugar, a todo o momento. Boa ou ruim, importante ou irrelevante, triste ou alegre, existem histórias que merecem e precisam ser contadas e essa função cabe a nós, artífices do cotidiano, capazes de transformar atos comuns na mais interessante matéria.
E é essa dedicação interminável, esse “Sentido de Alerta Constante”, que nos deixa preparados. Assim como o herói sempre trás consigo seu uniforme sob a roupa, andamos munidos de algumas folhas de rascunho e uma caneta, para encararmos, a qualquer momento, um desafio. Obstáculos são vários, desde enfrentar as chefias de redação diariamente, até os riscos de matérias arriscadas ou as dificuldades de apuração. Tudo isso tendo como norte a verdade, porque sem ela, o jornalismo não faz sentido.
É de se estranhar que apesar dessa relação entre heróis e repórteres, o mesmo não aconteça entre os quadrinhos e jornalismo. Aqui não me refiro a produção de jornalismo em quadrinhos, como faz o italiano Joe Sacco, mas a noção de que as hq`s são um meio de comunicação tão válido como um jornal impresso, uma televisão ou o rádio. Basta selecionar o que se quer ler/ver.
Ainda me recordo em uma das primeiras aulas no curso de especialização na UFMG, quando disse que pretendia fazer um estudo da obra de Sacco. O orientador achou muito interessante e perguntou para a sala se alguém conhecia o autor. Éramos cerca de 20 alunos. Ninguém se manifestou. Poderia ter me gabado e me sentido a última bolacha do pacote, mas ao contrário notei uma falta de informação inconcebível, principalmente para quem pretendia trabalhar no ramo da comunicação.
Desde então venho realizando uma cruzada para tentar difundir os quadrinhos e sua linguagem (na minha sala de especialização eu consegui). Observe que não disse em momento algum que pretendo convencer todos a ler histórias de super-heróis (apesar de elas serem muito bacanas). Essa modalidade é apenas uma de milhares de outras opções. É como se a modalidade de super-herói fosse um canal ou programa de televisivo: você pode escolher outro canal ou outro programa, mas a televisão ainda estará lá. Assim também são as histórias em quadrinhos.
O objetivo do Blog HQ é poder discutir, resenhar, criticar e comentar sobre histórias em quadrinhos, de todos os gêneros. Desde Spielgman (de Maus), a Moore (de Watchmen); de Eisner (de Um Contratro com Deus) a Marjane Sartrapi (de Persépolis); de Moon e Bá (de 10 Pãezinhos) a Maurício de Souza (Turma da Mônica), de Bendis (de Alias) a Jhons (de Lanterna Verde), de Shaw (Umbigo sem Fundo) a Thompson (Retalhos), de Manara (de Verão Índio) a McLoud (de Desvendando os Quadrinhos).
A premissa inicial é poder comentar semanalmente um pouco do que leio (que não é pouco) e postar novidades do que é lançado aqui e também no exterior. Acredito que vale destacar a valorização das hq`s nos últimos anos, seja na criação de um espaço na FLIP (Feira Literaria Internacional de Parati), na premiação de uma obra em quadrinhos (O Alienista) com o maior prêmio nacional de literatura juvenil, o Jabuti, ou mesmo a relevância que jornais impressos vem dando a esse meio, como o HOJE EM DIA, com minhas resenhas semanais, ou mesmo a Folha.
Com perspectivas tão promissoras de maior reconhecimento, acredito que este espaço trará algo importante para quem quer saber um pouco de quadrinhos, mas não é um nerd de plantão: conhecimento. E finalizo, torcendo para que o Blog HQ siga como o Homem de Aço: “Para o alto e avante!”.
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