Lá na Coreia do Sul, manhwa é História em Quadrinhos, desenho animado e ilustração. Aqui, manhwa define apenas os quadrinhos sul-coreanos. No FIQ, manhwa é o estilo de desenho do país homenageado desse ano.
Algumas pessoas podem achar que são imitações de mangás (quadrinhos japoneses), mas não é bem assim. Apesar do nome surgir da junção dos nomes mangá (Japão) e manhua (quadrinhos chineses), há uma longa história por trás desse estilo, além de algumas diferenças básicas que dão aos manhwas características próprias.
Tá vendo esse desenho aí?
Bomyeongshiudo. Desenho da Vaca explicando cânon budista no século X
Pois é, alguns estudiosos acreditam que a primeira arte-sequencial foi feita no século X. Trata-se de um desenho sul-coreano onde uma vaca dá explicações sobre o cânon budista (coleção de escritos budista). Dá pra ver que é bem parecido com os quadrinhos, uma vez que tem legendas e quadros com arte continuada. Mas olhando mais pra frente, com o tempo, os desenhos foram ganhando forma e diferentes estilos. As histórias em quadrinhos também evoluíram e em cada canto do mundo são representadas de um modo diferente. Na Coreia do Sul é o manhwa que evolui e aumenta sua produção. Surgido por volta de 1900 após a Guerra Sino-Japonesa, omanhwa tem como pioneiro Lee Do-yeong, um cartunista que publicou em 1909 a série chamada “Saphwa”, no jornal “Daehanminbo”. No ano seguinte a série foi fechada por ordem do governo colonial japonês, o que tirou a continuidade das edições legitimamente coreanas até o final da Guerra, em 1945. A maioria das publicações eram nitidamente mangás. Mas depois desse fato, tanto em revistas como em jornais, os coreanos começaram a dar preferência aos desenhos de pessoas de seu território, em especial a Coreia do Sul, que buscava sua autonomia no jeito de fazer quadrinhos.
Desenho de 1954 de Kim Yong-hwan, autor de “Soldado Todori”
Mas não há como negar a influência do mangá. Assim como acontece com os quadrinhos japoneses, os manhwas dividem-se em gêneros: os Sonyung são quadrinhos destinados a garotos (equivalente ao Shōnen dos mangás) e os sunjeong são obras direcionadas para o público feminino (equivalente ao Shōjo dos mangás) e ainda tem os tchungnyun, que são os quadrinhos destinados a jovens adultos (equivalente ao Seinen e Josei dos mangás).
Outra diferença é que, ao contrário dos quadrinhos japoneses, os manhwas são lidos da forma ocidental, da esquerda para a direita. Os coreanos trabalharam ao longo do tempo nos detalhes, preocupando-se em não traduzir o nome dos personagens e efeitos sonoros, quando publicados em outras línguas, e usar, com frequência, o gradiente screentone (aqueles pontinhos para dar efeito de gradiente).
Imagem de Chonchu
O sucesso dos manhwas vem aumentando a cada dia. E mesmo com poucas publicações no Brasil, os leitores interessados nesse estilo procuram na internet, sites e fóruns onde possam encontrá-los. Nos Fóruns, um lugar importante para esses leitores, é possível ver troca de sugestões de quadrinhos e discussões sobre o tema. Em um desses, conversamos com usuários (que se apresentam com seus respectivos “nicks”: apelidos), que deram sua opinião:
WaNteD cita dois manhwas e explica onde, para ele, está a diferença entre o quadrinho japonês e o quadrinho sul-coreano: “em especial no The Breaker e no Sun-ken, é que o traço me parece mais marcante, me chama mais a atenção, as cenas são mais empolgantes, e mais vivas na minha mente (…) as histórias são bem construídas. São por estes detalhes que os manhwas se diferenciam dos mangás.”
Outro usuário do fórum, Tsu-san, nos disse que não se percebe as diferenças na forma como os manhwas são concebidos, em comparação aos mangás. E que até a forma como são publicados na Coreia é parecida (em antologias periódicas voltadas para determinado público – feminino, masculino, etc.). “Nem em histórias, nem em traço, em nada. Pra mim, mangá e manhwa são primos”, comenta.
Capa do Manhwa Tarot Café
O FIQ escolheu a Coreia, como país homenageado desta sétima edição, justamente porque a relação entre os manhwas e o Brasil vem se estreitando. A Coreia tem investido de forma pesada nos quadrinhos produzidos por lá, e tudo isso já proporcionou ao público do FIQ bons convidados.
Essa aproximação está tão grande que, no início deste ano, um grupo de coreanos veio ao Brasil, intermediado pelo cartunista Bira Dantas, para conhecer mais sobre as HQ’s nacionais. Além disso, Bira, convidado do FIQ, está na Coreia do Sul para participar do Bicof, Festival de Quadrinhos de Bucheon.
Os representantes do manhwa no FIQ serão as sul-coreanas Chon Kye-young, autora de Audition, e Park Sang-sun, autora de “Tarot Café”. Esse último título foi publicado no Brasil, assim como outros quadrinhos coreanos: “Angry”, “Chonchu”, “Dangu”, “Gui”, “Model”, “Melodia Infernal” e “Banya”.
Para começar a entrar no clima, deixamos aqui um vídeo do anime baseado no manhwa “Audition”:
Publicado originalmnte no FIQBH.
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