terça-feira, 11 de setembro de 2012

Record prepara coleção definitiva de Asterix

Por HQ Maniacs


Editora Record, que publica desde a década de 1980 os álbuns de Asterix no Brasil, está preparando o retorno do gaulês às livrarias em edições definitivas, com novas traduções e novos letreiramentos.

*Criado em 1959 por René Goscinny e Albert Uderzo para a nova revista francesa Pilote, Asterix foi um sucesso imediato. A história de uma tribo gaulesa que resistia à ocupação romana caiu como uma luva para um povo ainda traumatizado com a ocupação nazista na II Guerra. Enfim a França tinha seu herói nacional! Além de se tornar a principal série da revista, as aventuras dos gauleses passaram a ser as compiladas em álbuns partir de 1961 e os gauleses atravessaram as fronteiras e conquistaram o mundo.

No Brasil, os gauleses chegaram em 1967, através de edições com sotaque lusitano. Nos livros da Ibis/Bertrand, importados pela filial brasileira da espanhola Bruguera, o nome era ligeiramente diferente: Astérix (com acento e sílaba tônica no E). Os primeiros álbuns que chegaram aqui foram Astérix o Gaulês e Astérix entre os Bretões. No ano seguinte, a Bruguera lançou a versão brasileira de O Caldeirão e tirou o acento, e passou a lançar regularmente os demais álbuns. O personagem também saiu, em continuação em diversas revistas e jornais.

 
A Bruguera, que virou Cedibra, lançou as primeiras 24 aventuras escritas por Goscinny, que faleceu de ataque cardíaco em 1977. Uderzo ficou tão traumatizado que levou quase dois anos para terminar Asterix entre os Belgas, o último roteirizado pelo parceiro. Embora inicialmente tenha anunciado que Asterix iria parar, na década de 1980 Uderzo assumiu o roteiro e continuou produzindo novos álbuns. Ele e a viúva de Goscinny romperam com o editor Dargaud e fundaram sua própria editora, a Albert-René. Esses já começaram a ser publicados pela Record, que adquiriu os direitos da nova coleção e, posteriormente, herdou os álbuns antigos da Cedibra.

Asterix teve muitos tradutores diferentes em seu percurso pelas várias editoras. Assim, alguns personagens recorrentes tinham nomes diferentes entre um álbum e outro. Para piorar, o letreiramento da Cedibra era muito irregular. Em 1986 a Record começou uma primeira tentativa de padronização, corrigindo os nomes e reletreirando alguns dos álbuns, além de lançar os novos simultaneamente com a França. A essa altura, o tradutor era Cláudio Varga (pseudônimo usado por muito tempo por Gilson D. Koatz). 

Essa versão revisada pela Record ficou valendo por mais uma década e meia. Entretanto, no início dos anos 2000, Uderzo começou a fazer sua própria revisão na coleção. Desde a publicação da primeira aventura, em 1958, os processos de impressão haviam se sofisticado muito. A essa altura os velhos fotolitos já tinham sido substituídos por arquivos digitais e aproveitaram para fazer uma recolorização geral das primeiras histórias, corrigindo alguns erros históricos (como as cores dos uniformes e demais apetrechos dos romanos e outros povos) e melhorando as nuances das cores, que anteriormente eram muito chapadas. Não houve, entretanto, modificações nos desenhos nem nos textos. A Record aproveitou o embalo e fez uma nova revisão no texto quando lançou esses álbuns remasterizados, que foram reletreirados digitalmente.

Essa revisão do colorido, entretanto, não foi suficiente para Uderzo, que decidiu que todos os álbuns teriam que ser recolorizados novamente, pois a nova Astérix La Grande Colléction (em tamanho gigante) requeria que até mesmo os desenhos fossem restaurados. Os originais de Uderzo amarelecidos pelo tempo foram retocados e reescaneados. Em alguns deles o letreiramento foi refeito manualmente. A cor sofreu um novo trato. Os álbuns em tamanho normal passaram a ser reeditados também com essa versão. Praticamente todas as capas sofreram adaptações e algumas foram até redesenhadas.

Esta coleção definitiva está sendo relançada pela Record, que aproveitou para fazer mais uma revisão, e de quebra restaurou a numeração correta dos álbuns na coleção -- os primeiros haviam sido publicados em ordem trocada. Cleópatra era o número 2, embora tenha sido a sexta aventura. O texto, além de ficar nos parâmetros do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, foi ligeiramente mexido para consertar o que tinha escapulido na revisão anterior, como algumas palavras que caíram em desuso, e padronizar alguns personagens que ainda estavam com nomes duplicados. Todos os álbuns foram reletreirados com a nova fonte oficial BD Asterix, criada para o mais novo álbum O Livro de Ouro - O Aniversário de Asterix e Obelix, lançado para comemorar o cinquentenário da criação de Asterix, em 2009. 

A nova versão pode ser reconhecida pela lombada, que passa a apresentar uma silhueta de Asterix na parte inferior. Todas as novas edições obedecem a esse padrão e as primeiras já começaram a chegar às livrarias.

Asterix também volta a chamar a atenção da mídia este ano por outro motivo: em 17 de outubro deste ano, será lançado na França o mais novo filme live-action do personagem, onde Gérard Depardieu interpreta pela quarta vez o personagem mais querido da série, o gordo e superforte ObelixAstérix et Obelix au service de Sa Majesté, inspirado no clássico Asterix e os Bretões.
*Texto publicado originalmente no site da Editora Record e escrito por Ota, que também é o responsável pela "remasterização" dos novos álbuns de Asterix no Brasil. Cartunista, quadrinista e escritor brasileiro, é formado em jornalismo e trabalhou durante 34 anos para a revista Mad. Trabalha junto à Record desde 1984. Recebeu, em 1994, o prêmio de Melhor Revista Independente no Troféu HQ Mix, pela criação da Revista do Ota.

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