Por Judão
Se existe uma polarização no cinema entre “autores” e “executores”, a Marvel já mostrou que escolheu um lado há algum tempo. Sem julgamentos desnecessários, até porque a escolha de lados aqui não faz sentido algum, o estúdio que era — ainda é, na verdade — editora de quadrinhos vem, desde Homem de Ferro, mostrando que não pretende dar grandes liberdades nas mãos de seus diretores.
Jon Favreu, que depois ainda faria a subestimada sequência do herói predileto do Borbs, vinha dos infanto-juvenis Zathura e Um Duende em Nova York quando foi contratado para fazer o Homem de Ferro, dando o pontapé inicial no universo cinematográfico da Marvel.
O filme seguinte, Thor, foi o que mais se aproximou de ter um diretor com uma personalidade mais definida. Kenneth Branagh, sempre associado a adaptações de Shakespeare, certamente foi chamado para dar um tom solene às cenas de Asgard. Mas Branagh soltou tanto a franga que mal se reconhece um estilo ali. Não que isso seja um defeito. Gosto muito de Thor. Mas o Mestres do Universo vitaminado ali em nada lembra o bardo.
Joe Johnston, que comandou o Capitão América, também sempre se mostrou um executor. Apesar de ter um gosto pela nostalgia que certamente cativou o estudio na hora de escolher um diretor pro Bandeiroso. Já sobre Louis Leterrier não precisamos nem falar, certo?
Joss Whedon é, sem dúvidas, o mais talentoso entre todos os diretores que já pegaram um filme da Marvel para fazer. Mas seu talento reside muito mais na capacidade de executar um projeto de forma adequada do que em reinventar a roda. Ele foi lá, pegou um projeto com grande probabilidade de dar merda e executou de forma impecável.
Então, em nada surpreende as escolhas da Marvel para seguir adaptando seus heróis. Shane Black, dono de uma história bem inusitada dentro da indústria, é amigo de Robert Downey Jr., competente e não vai querer fazer nada de muito autoral numa franquia que já funciona.
Os irmãos Anthony e Joe Russo certamente foram as nomeações mais surpreendentes. Os novos diretores de Capitão América 2: O Soldado do Inverno têm como principal crédito a série cultCommunity, uma comédia passada numa universidade. Certamente vão apitar pouco numa trama – pelo menos em teoria – mais séria, adaptando o excelente arco do Soldado Invernal.
Para Thor 2, foi escalado Alan Taylor, de Game of Thrones, Família Soprano, Lost, Mad Men… Diretor ascendente, graças ao sucesso de Game of Thrones, mas desprovido de poder e arroubos criativos, do jeito que a Marvel gosta.
O mais novo membro da lista é James Gunn, que estreou no cinema com o bacana Seres Rastejantes e foi contratado para fazer o Guardians of the Galaxy.
Quem pode entrar para essa lista e mudar um pouco a coisa de figura é Edgard Wright, esse sim um cara com mais estilo de autor, como vimos em Scott Pilgrim, Todo Mundo Quase Morto e Hot Fuzz. Será por isso que o projeto do Homem-Formiga desenvolvido por Wright está tão embaçado para sair?
O fato é que essas escolhas da Marvel fazem muito mais sentido quando olhadas de longe, observando o universo como um todo. É muito mais prático organizar isso tudo sem ter que lidar com talentos ousados como David Fincher, Ridley Scott ou mesmo Christopher Nolan.
Por isso que, dificilmente, teremos um filme com o selo Marvel com o mesmo nível de excelência de O Cavaleiro das Trevas, ou mesmo de O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Muito se falou sobre a falta de ousadia em Os Vingadores, com certa razão. Mas essa foi a escolha da Marvel. A opção por executores. Talvez um diretor mais ousado tivesse arruinado a mistura bem equilibrada que fez Os Vingadores ser o que foi.
A obra da Marvel no cinema precisa ser avaliada do alto. De longe. A teia que está sendo construída precisa ser firme, forte e sem buracos. E, para isso, vale mais uma dúzia de aranhas esforçadas do que uma varejeira louca, criativa e visionária.
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