Por Daniela Jacinto: 19/10/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul
Existe um mundo oculto por trás das histórias em quadrinhos. O que parece simples diversão, coisa para distrair a cabeça, como pensam algumas pessoas, está repleto de ideologias políticas, sociais, propostas educacionais e também valores morais. Em meio a esse turbilhão de informações, muita gente pode nem mesmo saber ao certo qual o propósito de cada história que lê. O Homem de Ferro, por exemplo, é um gênio da engenharia de automação e foi criado durante a guerra do Vietnã. Aliás, o personagem cai em uma armadilha no Vietnã e lá é que se torna um super-herói. O Incrível Hulk e o Homem Aranha são do período da Guerra Fria, momento de conflito entre o capitalismo dos Estados Unidos e o socialismo da União Soviética.
O Quarteto Fantástico, de 1961, surgiu na era da corrida espacial. Os quatro super-heróis ganharam poderes devido à exposição à radiação, com a qual teriam entrado em contato durante uma viagem de exploração do espaço. Já o Pantera Negra foi criado para combater o racismo nos Estados Unidos. Esses e outros super-heróis podem ser vistos na Biblioteca Municipal de Sorocaba até o próximo domingo. A exposição é realizada pelo desenhista Edélcio Ipanema, um apaixonado por HQs e bom conhecedor de suas histórias.
Conforme Edélcio, o primeiro super-herói (que tem superpoderes) da história, é Popeye, que tem de comer espinafre para ganhar força sobre humana. O primeiro mascarado é o Fantasma, de 1936. Já a Mulher Maravilha é a primeira heroína criada pela DC Comics, em 1941. “A Mulher Maravilha é filha da rainha das amazonas, mulheres guerreiras”, explica. O criador da história, William Moulton Marston, chegou a declarar que a Mulher-Maravilha seria uma propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deve governar o mundo.
Ainda de acordo com o desenhista, seguindo essa linha de quem foi o primeiro, o Surfista Prateado é um dos primeiros heróis da história em quadrinhos que usa a filosofia para lutar. “Ele é contra a violência”, acrescenta. Apesar de descrever todos esses super-heróis, com suas superforças, Edélcio observa que eles têm seu lado humano e por isso sentem medo, sofrem com suas inseguranças e dúvidas.
Edélcio, que expõe na Biblioteca 40 desenhos de super-heróis, lamenta que no Brasil não exista mercado para a história em quadrinhos. “Posso dizer que 90% dos colaboradores das HQs americanas são brasileiros. Aqui no país nós também temos super-heróis, mas são desconhecidos. Já tivemos Judoca, Raio Negro, Capitão 7 e Velta. O Meteoro continua vendendo, mas é de uma editora independente”, diz.
História de vida
Edélcio Ipanema, hoje com 35 anos de idade, conta que começou a desenhar aos 4 anos. Autodidata, iniciou os primeiros traços com quadrinhos da Turma da Mônica e do Tio Patinhas. Tentou se especializar, mas devido à condição financeira, teve de deixar esse projeto de lado. No ano passado, uma exposição que realizou no Palacete Scarpa foi motivo de reportagem sobre ele no jornal e na TV, divulgações que considera importantes pois através delas ganhou bolsa de estudos para aprender em uma escola especializada em quadrinhos situada em Jundiaí.
De origem humilde, Edélcio conta que muitas vezes não consegue ir para a escola porque falta dinheiro para o transporte. “Se eu tirar R$ 10 que seja do meu orçamento falta leite para as crianças”, conta. Essas crianças são seus sobrinhos, que estão sob sua responsabilidade desde o falecimento da irmã. “Gostaria de ter o poder de mudar o mundo com o meu lápis, gostaria que todos pudessem ter acesso à educação, cultura, etc. No Brasil infelizmente o que estraga são os políticos”, desabafa.
Em busca de recursos para seus estudos e, consequentemente, crescimento na área profissional, Edélcio dá aulas particulares de desenho e pintura e também de desenho especializado para quartos infantis. O artista afirma que também está aberto a convites para palestras.
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