A vida de Caeto nunca foi fácil. Depois de herdar do pai - homossexual assumido e portador do vírus HIV - três caixas de livros e um relógio cuco, ele experimentou uma verdadeira provação em lares insuportáveis e empregos medíocres pela cidade de São Paulo. Na maioria das vezes, acompanhado de porres homéricos. E de um vira-lata de olhar vidrado, de cachorro louco, chamado Júlio.
Caeto também cantou em uma banda de punk rock chamada Samba Concorrência, foi artista plástico e, através do fanzine "Sociedade Radioativa" - feito em parceria com gente como Ulisses Garcez e Rafael Coutinho -, produziu quadrinhos que funcionariam como um aperitivo para a grande HQ que viria a criar, anos depois: "Memória de elefante", uma autobiografia nua e crua, de mais de 200 páginas em preto e branco, que acaba de sair pela Companhia das Letras.
- Fazia histórias autobiográficas influenciado pelos quadrinhos de Robert Crumb, mas chegou um momento em que resolvi focar naquilo que acontecia na minha vida e na dos meus amigos - explica Caeto por e-mail à Megazine. - O "Sociedade Radioativa" foi uma escola para a turma de quadrinistas com quem eu andava. Eu tinha 19 anos em 1998 e, nessa época, a gente fazia um troço bem artesanal, bem fanzine mesmo, tirava xerox e tal.
Foi através do parceiro de fanzine Rafael Coutinho - filho de Laerte e um dos autores, ao lado de Daniel Galera, da graphic novel "Cachalote", publicada pela mesma editora - que Caeto conseguiu publicar sua autobiografia em quadrinhos:
- Levei para a editora o roteiro da HQ e 20 páginas prontas. Cheguei lá como um quadrinista novo, um amigo do Rafael que tinha o projeto de um álbum.
Álbum este que traz, à primeira vista, um título no mínimo curioso, mas Caeto explica o porquê da referência à memória elefantina.
- Dizem que o elefante tem boa memória - esclarece o quadrinista. - Uma vez, vi um comercial na TV em que um elefantinho tomava porrada de uma criança. Depois, o elefante crescia e, um dia, encontrava a mesma criança, já um homem, e dava uma trombada na cara dele. A ideia do livro é a de que quem apanha não esquece.
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