
Taquara, 28 jun. / 2007
Capitão 7.
Era um herói que fazia muito sucesso na tevê, embora eu nunca tenha assistido. Era época em que alguns bares e poucas casas proletárias tinham o aparelho. Lembro-me que nas tardes de domingo eu ia ver o Corinthians jogar na tevê do bar de seu Quincas, lá na rua de cima, no subúrbio de São Paulo. E quando nos mudamos para o município de Santo André, ia de tele-vizinho (um amigo casado e operário de multinacional. Estudávamos inglês no Instituto Yazigi à noite, e no sábado repassávamos as lições na casa dele. Assim ele me servia café na sala, abarrotada de crianças e senhoras da vizinhança, e constrangido bicava tevê por poucos momentos).
Já fazia terror e começavam os elogios, então o Cortez me assustou com o convite para desenhar a história inaugural de Capitão 7. Assinaram contrato com Ayres Campos, lutador de “catch”, que fazia o papel do super-herói na televisão. Um sujeito simpático, falso-gordo, topete de Elvis, simples e daí o carisma no meio infantil. Então o Cortez me chamou para longe, para que Ayres não ouvisse, e disse: “Shima, não desenhe a cara e nem o corpo dele”. Entregou-me o grande álbum de Flash Gordon no Planeta Mongo e impôs: “Copie a cara e o corpo deste herói de [Alex] Raymond. Lembre-se, a proporção da anatomia é de dez cabeças a doze, porque o Capitão 7 não chega nem a oito”. Fiquei inseguro. Eu não era fã do Alex. Eu gostava do argentino José L. Salinas e de [Harold] Foster (Príncipe Valente). Outros colegas que completaram a revista, Gitahí e Getúlio Delfin, respiravam, comiam e dormiam com o grande desenhista de Flash Gordon na cabeça. Cortez nem se fala. Só falava de Jim das Selvas ou Flash Gordon. Bons tempos os meus de estagiário dos quadrinhos.
Grande abraço, Srbek!
Shima
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