Por Carlos Albuquerque - O GLOBO
    
Che Guevara está com um novo look. A clássica imagem do  guerrilheiro argentino, retratada na imortal foto de Alberto Korda -  cabelos desalinhados, barba por fazer, traços latinos -, foi reciclada  no livro "Che: a manga biography". Ele aparece menos endurecido e cheio  de ternura, com traços infantis, exagerados, a cabeça bem maior, os  lábios finos e minúsculos e os olhos, claro, quase sempre cerrados.  
O visual "made in Japan" é cortesia da ilustradora Chie Shimano,  que divide a autoria do livro - recém-lançado no exterior pela editora  Penguin - com o escritor Kiyosi Konno. Os dois japoneses são os  responsáveis por essa biografia light, em estilo mangá, do icônico e  controvertido revolucionário, aliado de Fidel Castro na Revolução  Cubana, assassinado no interior da Bolívia em 1967.  
Não é a primeira vez que a história de Che ganha uma versão em  quadrinhos. O escritor Sid Jacobson e o desenhista Ernie Colón lançaram  este ano também a HQ espanhola "Che: una biografia grafica". Há também a  graphic novel "Che" (Conrad), do sul-coreano Kim Yong-Hwe, publicada em  2006. Bem antes deles, em 1969, o argentino Hector Oesterheld e o  uruguaio Alberto Breccia haviam assinado "Che: os últimos dias de um  herói" (Conrad) - censurado em 1973 pelo governo militar da Argentina,  que prendeu, torturou e matou Oesterheld.  
Filme de Waltinho é referência
O que diferencia   "Che: a manga biography" dessa leva de bandas desenhadas é o seu  descarado apelo pop, desvendado já nas primeiras das 176 páginas do  livro, quando, numa espécie de prólogo, uma repórter pergunta a dois  garotos por que eles estão usando uma camiseta de Che, embora não  conheçam o personagem. "Porque ele parece legal", responde um deles.  
Daí em diante, é descrita, sem grandes curvas contestatórias, a  trajetória de Che. Dividido em cinco capítulos - "Explorer", "Outsider",  "Guerilla", "Revolutionary" e "Legend" - o livro mostra a evolução do  mitológico personagem, da infância na Argentina, lidando com a asma, até  o tiro final, nas selvas bolivianas. Lá estão a já famosa viagem de  motocicleta pela América do Sul, ao lado do amigo Alberto Granado (o  filme "Diários de motocicleta", de Walter Salles, é citado como  referência pelos autores), a paixão pela medicina, o primeiro encontro  com Fidel Castro no México, a adesão à guerrilha cubana, a vitória  frente às forças de Fulgencio Batista, a crise dos mísseis (momento em  que os traços se tornam mais dramáticos e intensos), a partida de Cuba e  a (desastrada) tentativa de exportar a revolução pela África e América  Latina.  
Sem menções aos fuzilamentos em Cuba ou qualquer desvio de  conduta do personagem principal, Chie encerra o livro narrando o seu  encontro, em Tóquio, com uma das filhas de Che, Aleida Guevara, com a  qual discute uma doce carta de despedida deixada por ele. Mesmo  transformada em "Che: a manga biography", a imagem do mito segue sem  arranhões e cada vez mais pop.  
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