sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cangaço pop rende a melhor HQ do ano; veja lista

Por Paulo Floro- NE10

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Como acontece todos os anos, a Revista O Grito!, de Recife, escolheu as obras em quadrinhos mais importantes do ano que passou. A eleição, organizada por mim e por outros editores da revista tem a proposta de mapear a produção editorial do mercado de HQs nacional. Para isso, convida críticos e especialistas na área para contribuir com suas listas individuais. Este ano, Bando de Dois, do quadrinhista Danilo Beyruth foi a mais bem votada. 

A obra de Danilo mostra uma maturidade precoce deste artista que ingressou há pouco no universo das HQs. Antes, ele era conhecido apenas pelo seu personagem Necronauta, um espécie de super-herói sobrenatural. Nesta sua primeira narrativa longa, ele trouxe boas ideias narrativas, numa história com muita ação e ritmo. 

A história também aposta no inusitado e coloca os quadrinhos à frente de outras mídias no que diz respeito a novos olhares sobre o cangaço. A trama trata de Tinhoso e Cavera di Boi, dois cangaceiros que tiveram o bando exterminado. Eles agora querem vingança e também esperam recuperar as cabeças dos companheiros, para que assim, eles possam descansar em paz. 

Beyruth quis trazer ao cangaço referências do western norte-americano, onde a realidade é deixada de lado em favor do entretenimento mais urgente. "Queria fazer o que o faroeste americano faz com suas histórias, tornando aqueles cenários e personagens em algo maior do que são. Se você conhecer o cowboy de verdade verá que é bem diferente daquilo. Aí eles vão e colocam o Clint Eastwood como um super-herói”, disse ele em entrevista à Revista O Grito!. 

Outras boas HQs nacionais, tiveram destaque na lista. Uma delas é Cachalote, talvez a mais comentada do ano. Escrita por Daniel Galera e desenhada por Rafael Coutinho, é uma narrativa não muito fácil sobre cotidiano e relacionamentos. Fazendo uma comparação ruim, é como um filme de arte em que se precisa de dedicação para penetrar. Obra corajosa e ousada para o nosso mercado. Foi ajudada pela forte campanha de marketing da Companhia das Letras, que esse ano investiu bastante em quadrinhos. 

Gefangene, de Koostela é outro destaque. Poucas vezes li uma narrativa tão tensa em tão poucos quadros. Fala de diversas situações em que as liberdades individuais são retiradas, como as prisões. Não há diálogos. As tiras de Orlandeli também marcaram 2010. Muda tudo o que se espera de uma simples tirinha de humor. E como esquecer de Laerte? Este ano, o autor de Piratas do Tietê fez de si mesmo um personagem e provocou a sociedade com suas tiras e vida pessoal. Experimentalismo e ousadia em assuntos que nossas mentes talvez ainda não estejam preparadas. Muchacha foi seu livro mais importante, mas toda a sua produção vale a pena, sobretudo as tiras diárias que saem no jornal Folha de S. Paulo.
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Anos acompanhando quadrinhos, não lembro de ter visto um ano com tanta qualidade. Listas como essa (publicada em 23.12.10) são ótimas para fomentar debates sobre nosso mercado editorial. 

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