Por: Bárbara de Alencar - Candango - 16.11.10
Que dispare sua teia-aranha, raio ótico ou algum acessório com o prefixo bat quem nunca mergulhou no universo mágico das histórias em quadrinhos. Com as recentes adaptações cinematográficas, como Hellboy e Woody & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n Roll, as HQs reconquistaram o espaço no imaginário infantil, jovem e adulto.
Entretanto, engana-se quem pensa que para produzir quadrinhos em série é necessário apenas talento. Com poucas editoras especializadas no gênero no Brasil e em Brasília, parece ser unanimidade entre os quadrinistas locais que produzir e publicar é mais uma questão de amor.
Entretanto, engana-se quem pensa que para produzir quadrinhos em série é necessário apenas talento. Com poucas editoras especializadas no gênero no Brasil e em Brasília, parece ser unanimidade entre os quadrinistas locais que produzir e publicar é mais uma questão de amor.
Na opinião de Nestablo Ramos (blog), um dos profissionais da área mais antigos em atividade na cidade, o primeiro requisito para se tornar um desenhista de quadrinhos é não desistir. “Se você gosta de fazer, faça. É muito difícil viver disso. Se você ama, vai fazer de madrugada”, sentencia. Entre seus trabalhos mais conhecidos, destacam-se o título de terror-supense Carcereiros e a publicação quinzenal na revista Tablado, Zona Zen. Recentemente, lançou a revista Zoo, primeira obra de um autor brasiliense publicada pela editora paulistana HQM.
Mesmo com grandes artistas como Angeli e Laerte, o mercado editorial para HQs brasileiras sempre se mostrou tímido. Os personagens mais conhecidos, com exceção de alguns sucessos tupiniquins como Bob Cuspe e Rê Bordosa, são importados dos Estados Unidos, vindos de grandes empresas como a Marvel e a Disney, ou do Japão, com seus vários tipos de super-heróis trazidos pelos mangás e animes.
Para Nestablo, o mercado para HQs está crescendo no Brasil, porém ainda é mais fácil para o quadrinista consolidar uma carreira internacionalmente. “Nos EUA, você é mais uma ferramenta. Você é pago para desenhar as coisas dos outros. Dou muito mais valor ao cara que publica algo seu no Brasil do que àquele que desenha o Capitão América”, afirma com a segurança o artista, que já trabalhou para a Disney e desenhou para uma revista alguns quadrinhos do Eddie (personagem da banda Iron Maiden).
Apesar das dificuldades editoriais, a produção brasiliense está em expansão. Prova disso são as crescentes publicações do gênero, como as revistas Samba, Kowalski e Amarelo Laranja e Vermelho, produzidas por Lucas Gehre, Gabriel Góes e Gabriel Mesquita.
Outro projeto do quadrilátero que ganha espaço e público é o calendário Pindura (blog), idealizado por Caio Gomez, Biu e Stêvz. Segundo Gomez, que atualmente trabalha como ilustrador para o Correio Braziliense, uma grande dificuldade no mercado das HQs também é o estigma de entretenimento para crianças. Mesmo com o preconceito, para ele, esse ainda é um mercado em crescimento. “Um dos sintomas desses processos é visível nas livrarias, o setor de quadrinhos quadruplicou. Mas, sem dúvidas, não dá pra viver de quadrinhos no Brasil. Você tem que sobreviver de frilas de ilustração, animação, design, alguma coisa que realmente sustente”, ressalta.
Para o professor da Universidade de Brasília, Ciro Marcondes, que ministrou o curso de Introdução a História em Quadrinhos, as HQs são uma cultura em ascensão, mesmo com um mercado insipiente. “O pessoal tem de fazer na guerrilha, na marra, na vontade, no suor e na raça, bancar as publicações. Não existe uma estrutura industrial de quadrinhos no Brasil", afirma.
Entretanto, na opinião do professor, apesar da cidade abrigar talentosos ilustradores, ainda falta nascer uma geração de roteiristas. “Os roteiros precisam ganhar mais conceito. Ainda é muito anárquico, no sentido de que não tem muita unidade, nem entre os quadrinhos de um mesmo cara. Fazer HQ é um trabalho em equipe. Nem sempre um sujeito que é habilidoso para desenhar é bom para contar histórias”, pondera.
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