Por Ronaldo Barreto - Quadrinhos em Questão
Gazy Andraus, nascido em Ituiutaba (MG), é professor e coordenador do Curso de Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior e criador da disciplina de HQ e Zine, no curso de Tecnólogo em Design Gráfico da FIG-UNIMESP – Centro Universitário Metropolitano de São Paulo. Doutor em Ciências da Comunicação na área de interfaces da comunicação pela ECA-USP (premiado com a melhor tese de 2006 pelo HQ-MIX-2007), Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, pesquisador do Observatório de HQ da USP e do INTERESPE – Interdisciplinaridade e Espiritualidade, editor e autor independente de histórias em quadrinhos adultas de temática fantástico-filosófica. (Trecho extraído e adaptado do site PapiroDigital).
Para conhecer um pouco mais sobre esse Gazy, acesse: http://tesegazy.blogspot.com.br/. Para questões acerca da sociedade e consciêcnia: http://conscienciasesociedades.blogspot.com.br/ e, para e-mails: gazyandraus@gmail.com ou gazyandraus@yahoo.com.
Confira, abaixo, uma entrevista que ele concedeu ao Quadrinhos em Questão, via e-mail.
Como surgiu o seu interesse por histórias em quadrinhos?
A leitura, desde a infância, me trouxe o gosto pelas histórias em quadrinhos. Comecei aos 7 anos, e naquela época, ano de 1974, só havia mesmo HQ e um pouco de TV...nada além disso. Mas, os gibis e sua profusão de títulos eram maravilhosos.
Quais foram os primeiros quadrinhos que leu? E qual o seu gênero favorito?
Tudo de humor: Turma da Mônica, Disney, Mortadelo e Salaminho, Satanésio, Kactus Kid, Os Flintstones e uma miríade de outros. Foi uma época maravilhosa, pois a cada sexta ou sábado à noite eu ficava imaginando qual gibi compraria na manhã seguinte...minha semanada era um gibi. Mais sobre isso pode ser lido em meus textos aqui: http://www.ibacbr.com.br/?dir=artigos&pag=013.
No humor, eu gostava de Mortadelo e Salaminho, e gostei bastante do Kactus Kid, do Canini, mas atualmente eu curto e releio Asterix e Iznogud, por exemplo, fora os sérios como as HQ de Edgar Franco e europeus como os de Caza (na fase antiga). Porém, na adolescência, parti pros super-heróis, e daí foram muitas influências por gostos de estilos de desenhos que foram variando: Jim Starlin e seu Capitão Marvel, John Byrne com os X-Men, Neal Adams e Jim Aparo com Batman,Gil Kane etc. Atualmente, não sigo muito as HQ de Super-Heróis, mas gostei dos desenhos de Jae Lee nos Inumanos, série escrita por Paul Jenkins que saiu anos atrás cujo roteiro também apreciei bastante.
Qual a sua adaptação de HQ favorita? E a que você detestou?
Adaptação pro cinema? Se for, tem várias, em épocas distintas: Superman com Cristopher Reeve, tanto o primeiro como o segundo, que também é excelente e que parecia quadrinho mesmo nas batalhas dele com os três vilões de Krypton. Mais, recentemente, gostei do primeiro Hulk que ninguém gostou (principalmente, porque o trazia no deserto fugindo, tal qual as HQs dele, que eu apreciava, e também porque inseriram a linguagem dos quadrinhos mesmo no filme, em muitas cenas). Atualmente, gostei de V de Vingança e Watchmen, e até mesmo Thor (nas passagens em Asgard, não as da Terra). Mas, me irritou não porem o capacete nele. Os Vingadores também é um bom filme até a metade, mas depois tem um pouco de humor infantil e aí não gostei tanto.
Em que momento, os quadrinhos passaram a ser uma fonte de pesquisa para você?
Creio que na Licenciatura em Educação Artística, quando comecei a trabalhar usando a linguagem das HQs e analisando algumas como O Edifício, de Will Eisner, para valorizar as HQ frente aos professores de arte que não as consideravam. Mas, foi no mestrado e doutorado que me concentrei mais no esforço de mostrar o valor dos quadrinhos.
Como você avalia a pesquisa acadêmica sobre quadrinhos no Brasil?
Creio que, de alguns anos pra cá, ela saltou vertiginosamente. Participei do Congresso Internacional de HQ, em Buenos Aires, em 2010 (e participarei de novo esse ano) e a das 1as. Jornadas Internacionais de HQ, do ano passado na USP: esta mostrou que as pesquisas tomam conta do país inteiro, tanto em TCCs, como mestrado e doutorado. Agora mesmo, em Recife, ocorrerão dois eventos no fim de julho e agosto. O de julho eu participo numa mesa de discussão das HQ poéticas:http://encontrohq.blogspot.com.br/p/programacao.html.
Em seu blog Consciências e Sociedades, você descreve à sua ida ao cinema para conferir o filme Thor (2011). Em determinado trecho, você faz a seguinte afirmação: “Essas manias dos produtores visarem detalhes pops e comerciais extremos, mas que não justificam e não casam com os temas tem me deixado irritado com o nosso sistema”. Você poderia falar mais sobre isso?
Sim: Thor usa um capacete. Cadê ele? Só no começo do filme, depois o retiraram para ficarem mostrando o rosto do ator a que conquiste as meninas para verem o filme. É o exemplo que me lembro no momento e até basta para mostrar a incoerência. Daí, nos Vingadores o mesmo: o capacete sumiu de vez! Tirem logo o martelo, o escudo do Capitão América e o capacete da armadura do Homem de Ferro, já que é pra avacalhar mesmo!
Em julho, estreia O Espetacular Homem-Aranha, reiniciando a franquia do Aracnídeo no cinema. Depois, Batman – O Cavaleiro Das Trevas Ressurge. Há boatos de que os produtores pretendem fazer um reboot. Em 2013, tem Superman – O Homem de Aço que, também, é outro reboot, deixando o filme antecessor no limbo e, ao que parece, o mesmo pode ser feito com o Lanterna Verde. Você acredita que Hollywood pode, ao longo do tempo, “sofrer do mesmo mal” das editoras, sempre reiniciando suas franquias, ou para não deixar de lucrar ou para “consertar” algo que deu errado?
É...tá virando mania para ganharem dinheiro. Parece que pegam o filão de novos leitores e fãs mais antigos que querem ver as origens dos heróis melhoradas. Mas, sinceramente, não acho que precisem ficar fazendo isso. Aliás, apesar disso, gostei do retorno de Superman, de Bryan Singer, justamente, por ser reflexivo, e X-Men – First Class, apesar de não usarem todos os heróis-base originais.
Você também é criador de zines independentes como Barata, Quadritos e Fantasia Filosófica. Há quase três décadas, o autor de um zine possuía dificuldades em alcançar o público-alvo. Tanto por conta de imprimir uma tiragem como ter os canais próprios de divulgação, restando poucas opções ao leitor. Hoje, com as facilidades proporcionadas pela Internet e as novas tecnologias, o custo de produção e divulgação se tornou quase nulo. Porém, a imensa quantidade de trabalhos independentes em blogs e sites, tem dificultado que o autor alcance o público-alvo, pois há uma enorme variedade de opções e o leitor tem dificuldade em tomar conhecimento do que possa lhe interessar. Com base na sua experiência, o que você sugere para minimizar essa situação?
Bem, primeiro, eu não criei o Barata, mas participei dele quando já estava no número 12, creio. Foi minha estréia nos fanzines. O mesmo ao zine Quadritos, que só participei. O zine Fantasia-filosóficaeu fiz um número publicando vários autores como Edgar Franco e Calazans, mas que não chegou a correr por problemas de impressão também (e verba). Mas, tenho criado meus zines como Homo-Eternus, Convergência, AlmaHQ e até cdzines como o MúsicaHQ e os mais recentes HQMente,Nefelibantes Pareidólicos (https://skydrive.live.com/?cid=046bc10ed5316dd7#cid=046BC10ED5316DD7&id=46BC10ED5316DD7!133) e Cáucaso. Lembro, também, que a Revista Camiño di Rato tem-me publicado, com HQ e textos explanatórios dos processos de elaboração criativa das obras nela publicadas. Porém, é bom lembrar a diferença dos fanzines pras revistas independentes, apontada pelo pioneiro Henrique Magalhães: o que faço se enquadra nessa segunda categoria pois traz HQ (as artes), enquanto que os autênticos fanzines (ou zines) trazem artigos e matérias. O Edgard Guimarães, em seu mais recente fanzine, QI #115,traz uma discussão salutar explicando que os zines, atualmente, diminuíram mesmo em quantidade (então, os que trazem matérias e artigos), enquanto que as revistas independentes têm aumentado de quantidade (basta ver o pessoal do 4o. Mundo e os montes de revistas que seus autores vivem lançando, tais quais gibis e cada vez melhores editados graficamente). Guimarães adverte que essa diminuição é mesmo devida a várias razões, mas em especial, diferenciando os fanzines das revistas independentes (que estão em alta de quantidade), os zines estão em franca diminuição, muito provavelmente devido aos blogs serem mais fáceis e baratos, facilitando a “publicação” pela Internet e a migração para a rede virtual. Justamente, aí reside a discussão dele: o que aponta o futuro? Ninguém pode prever com acuidade...mas eu continuo dando forças a todo tipo de publicação independente, para escoamento das ideias libertárias e autorais!
Arte de Gazy Andraus |
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