Por Fernanda Maia - Fanboy
Grant é escocês, e careca. Escocês de nascimento, careca por opção. Grant escreve gibis, já foi modelo de cueca e usa drogas. Grant é meio eu, meio você, mas Grant é mais.
Com apenas 17 anos ele publicou seu primeiro trabalho, para a revista independente de tiras, Near Myths. Um de seus primeiros trabalhos era uma tira semanal sobre um super-herói escocês desempregado, para o jornal local. Lembrem-se, Grant tinha apenas 17 anos.
Depois de várias propostas frustradas enviadas à DC Comics, Grant começou a escrever Zenith para a2000AD. Bastou para que a Editora que o havia ignorado tantas vezes, finalmente o chamasse para escrever um personagem de quinta, o Homem-Animal. Nascia aí o Evangelho do Coiote. Grant criou lendas, mitologias, deu propósito ao personagem, fez barulho em relação aos direitos dos animais, fez muita gente chorar lendo gibi e colocou a si próprio na edição #26. Grant estava fazendo história.
Do Homem-Animal para a Patrulha do Destino. Um grupo de heróis meio feios, meio sujos. Grant inseriu o surrealismo.
Foi o suficiente para Grant pular para um dos seus maiores trabalhos, Asilo Arkham. A DC entregou na mão do escocês maluco, um elo da sua Trindade. Grant já havia preparado o roteiro de Asilo Arkham há alguns anos e agora podia pôr pra quebrar.
Eu lembro quando li Arkham pela primeira (e única) vez. Tive medo, cagaço extremo... daquele ambiente, daquele Coringa, daquele Duas-Caras e suas cartas e tarô. Depois nunca mais eu li, Grant me traumatizou.
Já nos anos 90, Grant resolveu escrever Kid Eternidade. É um Grant que eu não gosto. Confuso demais, despropositado demais. Mas ele se redime ao me entregar Como Matar Seu Namorado. Grant leva apenas uma edição pra criar uma obra digna de ser lembrada.
Grant faz parecer que ser ele é muito fácil.
Em 96, mais uma vez a DC entrega o ouro na mão de Grant e lha dá a incumbência de escrever a Liga da Justiça. Grant não só escreveu a equipe magistralmente, como fez vender como água.
Depois de ter sido abduzido por aliens em Kathmandu (ou tido uma viagem de ácido), Grant resolveu escrever Invisíveis, onde mesclava política, psicodelia e cultura pop. Muita gente não entendeu e aí ficou um pouco difícil ser Grant. Ter que explicar é muito chato e Grant achou melhor finalizar a obra junto com o milênio.
Já no novo milênio, escreveu Terra 2 e colocou as mãos mais uma vez na Liga, dessa vez aproveitou pra meter a colher no Sindicato do Crime. Estaria aí, deixando a DC por um tempo.
Mudou-se de mala e cuia pra Marvel e foi ser Grant por lá. E como ele não era só mais um escocês maluco, a Casa das Idéias entregou-lhe sua galinha dos ovos de ouro, os X-Men. Grant escreveu, vendeu, fez sucesso, mexeu e remexeu. Mas talvez tenha sido Grant demais e as coisas ficaram feias. Muita gente começou a criticar o final da série e a Marvel não teve culhão de se deixar levar por Grant. Ele ainda escreveria a família número um da Marvel em Fantastic Four 1234.
Grant resolveu ser Grant onde ele mais podia. Na Vertigo. Lançando três minis: We3, Seaguy eVimanarama. Em We3 mais uma vez, Grant acena para os animais, com um olhar ao mesmo tempo carinhoso e cruel. Nesse tempo também teve a chance de trabalhar em The Filth, também para aVertigo. Perturbador, sem pudores, daqueles que é preciso ler várias vezes para se entender Grant.
Depois disso Grant libertou-se. Não mudou, pois ele já nasceu Grant. Mas se abriu e encarou sem medo o desafio de remodelar a mais antiga e histórica editora de quadrinhos do mundo. Começou com Os Sete Soldados da Vitória, continuou em 52 ao lado de outros escritores.
Libertou-se Grant e libertou-se a DC, que, sem medo de também ser Grant lhe entregou seu tesouro maior, o Superman. All Star Superman criou fãs, arrebatou críticos e todos queriam ser, ler, ter, entender Grant.
Também lhe deram o Batman mais uma vez e ele devolveu ao Morcego, o filho perdido. Devolveu a muita gente a vontade de ler, de acompanhar. E agora, cá estou eu, acompanhando, esperando, torcendo, enquanto vejo Grant transformar a DC com sua Crise Final.
Deixa ele! Deixa Grant tornar tudo mais Grant. Só assim seremos todos um pouco mais escoceses de nascimento e carecas por opção.
Fernanda Maia é carioca de nascimento, tem cabelo por opção e nunca foi abduzida por aliens, nem em Kathmandu e nem em Copacabana.
PUBLICADO EM 04.01.11
Grant é escocês, e careca. Escocês de nascimento, careca por opção. Grant escreve gibis, já foi modelo de cueca e usa drogas. Grant é meio eu, meio você, mas Grant é mais.
Com apenas 17 anos ele publicou seu primeiro trabalho, para a revista independente de tiras, Near Myths. Um de seus primeiros trabalhos era uma tira semanal sobre um super-herói escocês desempregado, para o jornal local. Lembrem-se, Grant tinha apenas 17 anos.
Depois de várias propostas frustradas enviadas à DC Comics, Grant começou a escrever Zenith para a2000AD. Bastou para que a Editora que o havia ignorado tantas vezes, finalmente o chamasse para escrever um personagem de quinta, o Homem-Animal. Nascia aí o Evangelho do Coiote. Grant criou lendas, mitologias, deu propósito ao personagem, fez barulho em relação aos direitos dos animais, fez muita gente chorar lendo gibi e colocou a si próprio na edição #26. Grant estava fazendo história.
Do Homem-Animal para a Patrulha do Destino. Um grupo de heróis meio feios, meio sujos. Grant inseriu o surrealismo.
Eu lembro quando li Arkham pela primeira (e única) vez. Tive medo, cagaço extremo... daquele ambiente, daquele Coringa, daquele Duas-Caras e suas cartas e tarô. Depois nunca mais eu li, Grant me traumatizou.
Já nos anos 90, Grant resolveu escrever Kid Eternidade. É um Grant que eu não gosto. Confuso demais, despropositado demais. Mas ele se redime ao me entregar Como Matar Seu Namorado. Grant leva apenas uma edição pra criar uma obra digna de ser lembrada.
Grant faz parecer que ser ele é muito fácil.
Em 96, mais uma vez a DC entrega o ouro na mão de Grant e lha dá a incumbência de escrever a Liga da Justiça. Grant não só escreveu a equipe magistralmente, como fez vender como água.
Já no novo milênio, escreveu Terra 2 e colocou as mãos mais uma vez na Liga, dessa vez aproveitou pra meter a colher no Sindicato do Crime. Estaria aí, deixando a DC por um tempo.
Mudou-se de mala e cuia pra Marvel e foi ser Grant por lá. E como ele não era só mais um escocês maluco, a Casa das Idéias entregou-lhe sua galinha dos ovos de ouro, os X-Men. Grant escreveu, vendeu, fez sucesso, mexeu e remexeu. Mas talvez tenha sido Grant demais e as coisas ficaram feias. Muita gente começou a criticar o final da série e a Marvel não teve culhão de se deixar levar por Grant. Ele ainda escreveria a família número um da Marvel em Fantastic Four 1234.
Libertou-se Grant e libertou-se a DC, que, sem medo de também ser Grant lhe entregou seu tesouro maior, o Superman. All Star Superman criou fãs, arrebatou críticos e todos queriam ser, ler, ter, entender Grant.
Também lhe deram o Batman mais uma vez e ele devolveu ao Morcego, o filho perdido. Devolveu a muita gente a vontade de ler, de acompanhar. E agora, cá estou eu, acompanhando, esperando, torcendo, enquanto vejo Grant transformar a DC com sua Crise Final.
Fernanda Maia é carioca de nascimento, tem cabelo por opção e nunca foi abduzida por aliens, nem em Kathmandu e nem em Copacabana.
PUBLICADO EM 04.01.11
Nenhum comentário:
Postar um comentário