segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os quadrinhos vão à escola

HQs conquistam espaço na sala de aula com distribuição recorde do MEC

Por Tiago Zanoli - A Gazeta
A vida escolar da geração deste repórter teria sido muito mais rica e saborosa se, duas décadas atrás, parte dos estudos envolvesse a leitura de histórias em quadrinhos. Mais do que simples entretenimento, as HQs podem ser uma porta de entrada ao vasto universo literário, além de contribuírem para a educação e o desenvolvimento do senso crítico.

Não tenha dúvidas quanto ao potencial dessas obras, pois o Ministério da Educação (MEC) já perdeu o preconceito contra elas. Desde 2007, o Programa Nacional Biblioteca da Escola passou a adquirir histórias em quadrinhos para uso em sala de aula. Foram 14. Neste ano, dos 298 títulos contemplados, 36 são HQs, que vão desde obras infantis assinadas por Ziraldo à graphic novel "Demolidor: O Homem Sem Medo", de Frank Miller e Johm Romita Jr, passando por adaptações de clássicos da literatura brasileira e universal.


"É muito bom as escolas adotarem quadrinhos, que infelizmente ainda sofrem preconceito, a ponto de dizerem que Neil Gaiman é coisa de criança. Ninguém critica um adulto que lê ?Harry Potter?. Luto sempre para divulgar os quadrinhos como literatura, e não uma coisa associada apenas à diversão", diz o quadrinista Érlon Ramos.


Ele é autor de "Révi Metau", HQ contemplada pelo edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), junto com "Quadrinhos Afins", de Gió, e "Cecille Veronika", de Abel. As três obras foram distribuídas paras as bibliotecas públicas dos 78 municípios do Espírito Santo, mas sem parceria com a Secretaria de Educação (Sedu).

Adultos

Editor do selo Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras, André Conti afirma que, nas escolas progressistas, o preconceito contra os quadrinhos está mais que superado. Ele conta que algumas já adotam HQs como "Maus", de Art Spiegelman, há pelo menos uma década, e "Persépolis", de Marjane Satrapi. Ambos são quadrinhos adultos, e isso mostra que não apenas títulos infantis e adaptações literárias têm vez na sala de aula.

"Tudo depende do professor. Se ele for inteligente, vai trabalhar bem com o Demolidor, podendo tratar de temas como a criminalidade. Não sendo HQ de sacanagem, qualquer tipo de história pode ser bem utilizada", completa André.

Fã de histórias em quadrinhos, a psicopedagoga Maria da Graça Von Kruger Pimentel, coordenadora da Associação Brasileira de Psicopedagogia no Espírito Santo, defende seu uso nas escolas. Para ela, são inúmeras as possibilidades, como o estudo sobre os modelos estéticos ou as diferenças culturais, por exemplo. "As crianças e os adolescentes não devem apenas ler, mas produzir também histórias em quadrinhos, exercitando essa interação entre texto e ilustração."

Com HQs de super-heróis, porém, é preciso estar atento à questão da violência. De que maneira a escola vai introduzir isso, para qual faixa etária? "Não se trata de proibir, porque os jovens estão em contato com isso o tempo inteiro, nos jogos violentos, nos filmes de ação e até mesmo nos jornais, que mostram uma violência que está muito mais próxima. O importante é acompanhar e dialogar."

Lista de histórias em quadrinhos selecionadas pelo MEC


Ensino Fundamental

- A Toalha Vermelha, de Fernando Vilela

- O Curioso Caso de Benjamin Button, de F. Scott Fitzgerald, adaptado por Nunzio DeFilippis, Christina Weir e Kein Cornell

- O Guarani, de José de Alencar, adaptado por Luís Gê e Ivan Jaf

- 25 Anos do Menino Maluquinho, de Ziraldo

- A Busca, de Lies Schippers, Ruud Van der Rol e Eric Heuvel

- Noel, de Nelson Cruz

- Causos de Assombramento em Quadrinhos, de Mauricio Pereira

- O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, adaptado por Eloar Guazzeli

- As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, adaptado por Tom Ratliff

- Palmares: A Luta pela Liberdade, de Eduardo Vetillo

- Diário de Julieta: As Histórias Mais Secretas da Menina Maluquinha, de Ziraldo

- Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, adaptado por Dan Johnson e Naresh Kumar

- Peanuts Completo - 1950 a 1952, de Charles M. Schulz

- Bidu 50 Anos, de Mauricio de Sousa

- O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, adaptado por Edgar Vasques e Flávio Braga

- Robin Hood: A Lenda de um Foragido, de Tony Lee e Sam Hart

- Uma História de Amor Sem Palavras, de Rui de Oliveira

- O Quilombo Orum Aiê, de André Diniz

- Maluquinho por Futebol: As Histórias Mais Malucas Sobre a Maior Paixão do Brasil, de Ziraldo

- Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, adaptado por Ivan Jaf e Rodrigo Rosa

- O Aniversário de Asterix e Obelix, de Goscinny e Uderzo

- Moby Dick, de Herman Melville, adaptado por Lance Stahlberg e Lalit Kumar Singh

- MSP 50 Anos - Mauricio de Sousa Por 50 Artistas, de vários autores



Ensino Médio

- Zoom, de Istvan Banyai

- A Volta do Fradim, de Henfil

- Necronauta: O Soldado Assombrado e Outras Histórias, de Danilo Beyruth

- Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, adaptado por Christophe Gaultier

- Retalhos, de Craig Thompson

- O Guarani, de José de Alencar, adaptado por Walter Vetillo

- O Cortiço, de Aluísio Azevedo, adaptado por Ivan Jaf e Rodrigo Rosa

- Demolidor: O Homem sem Medo, de Frank Miller e John Romita Jr

- Av. Paulista, de Carla Caffé

- Os Brasileiros, de André Toral

- Persépolis, de Marjane Satrapi

- Zoo, de Nestablo Ramos Neto

- Frankenstein, de Mary Shelley, adaptado por Marion Mousse

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