terça-feira, 21 de junho de 2022

O GALEGO DOS RAIOS: cordel inspirado no Deus do Trovão!

 

O GALEGO DOS RAIOS

I

Ele é tido como um deus

Mora em riba lá no céu

Solta raio pelas ventas

Até casa do chapéu

E é virado na cachaça

Chamada de hidromel.

 

II

Apresento o Galego

O maioral dos trovão,

Do martelo arretado

Para-raios do sertão

Que é a alegria do povo

Nos tempos de São João.

 

III

Lá nas nuvens onde vive

É rodeado de manás

Tem ainda um irmão

Que é pior que satanás,

É o rei da pilantragem

Que passa todos pra trás.

 

IV

O seu pai é carrancudo

E por muitos é temido.

É cheio de nove horas,

Mas pelo filho é querido.

Quando inventa de dormir

O reino fica é perdido.

 

V

O irmão é uma marmota

Quer o trono conquistar

Porém o rei das trapaças

Só consegue é se reiar

Levando altos cacete

Apanhando sem parar.

 

VI

Mas fora esse encosto,

Que vive a aporrinhar

Ele tem uma patota

Que ameniza o seu ar

Um trio de cabras de peia

Seus pareceiros de bar.

 

VII

Um que vive enfezado,

E metido a guerreiro.

Outro é namorador,

O maior dos xavequeiro

Ainda tem um buchudo

Que come o dia inteiro.

 

VIII

E no terreno dos love

Bem valente e guerreira

Tem uma dona de lá

Que perdeu pra enfermeira

Que arrochou o Galego

E lhe passou uma rasteira.

 

IX

E esse nunca foi santo

Já tendo sido um boçal

Entrava em cada roubada

Que sempre acabava mal

Depois sobrava pro pai

Limpar todo o lamaçal.

 

X

Teve um dia em que ele

Não tendo o que fazê

Com os gigantes do gelo

Foi arranjar um fuzuê

Só para passar o tempo

Bateu neles pra valê.

 

XI

Foi aí que o pai irado

Quis lhe colocar nos eixo

Com um cipó de goiabeira

Meteu no meio dos queixo

E lhe deu como castigo

Catar coco e quebrar xêixo.

 

XII

E foi mandado pra Terra

Pra humilde se tornar

Deixar de ser um gabola

E parar de aprontar

Pois já bastava o irmão

Pro véio apoquentar.

 

XIII

Na Terra virou doutor

Perdeu todos os podê

Passou a viver injuriado

Sem saber o que fazê

E seu único passatempo

Era as reprises na tv.

 

XIV

Mas um dia acordou

Pra lá de desanimado

Cansado e lascado ser  

E de não ser estimado

Se lançou de porta afora

Como um menino mimado.

 

XV

Queria achar as respostas

Pras tanta das aflição

Aí entrou na caverna

Na maior da escuridão

Sofreu tropeço num toco

Que tava largado no chão.

 

XVI

E chamou tanto dos nome

Até uns que num existia

Homenageou as mãe

E um punhado de tia

Até vir um raio acabar

Com toda sua antipatia.

 

XVII

Nessa hora a verdade

Pois então foi revelada!

Pelo tal doutor magrela,

Com as pernas entortada,

E que virou Galegão

Das terra tão encantada!

 

XVIII

Recuperado a memória

E com o martelo na mão

Voltou pra casa vexado

Pra não ter outro sermão

Pra pedir ao seu painho

Um punhado de perdão.

 

XIX

O véio achou arretado

Tudo o que se procedeu

E ficou emocionado

Com o amado filho seu

E o deixou perdoado

Por tudo que aconteceu.

 

XX

E o Galego acolheu

Essa Terra de valor

Porque foi por essas banda

Que encontrou o seu amor.

Nos tempos em que na UPA

Dava uma de doutor.

 

XXI

Apesar de ser danado

Seu coração tinha dona

A enfermeira baixinha

Que conheceu lá na zona

Que além de aprumada

Também tocava sanfona.

 

XXII

Como prova de amor

Deu a boy o seu podê

E ela ficou foi irada,

Num êxtase de prazê

Saiu na rua gritando:

Uh,tererê! Uh, tererê!

 

XXIII

E além da enfermeira

Que recebeu por amor

Teve mais uns galados

Que receberam por favor:

Um motorista de van

E um caboclo assustador.

 

XXIV

Motorista cabra macho

Virou outro relampejante

E o que vinha de longe

Que era feio, mas galante

Teve a nobreza aprovada

Por todas terras distante.

 

XV

Também teve aquela vez

Que a fim de se divertir

Com uma tuia de herói

O Galego foi se unir

Pra bater nos malfeitor

E poder se exibir!

 

XVI

Ficou então conhecido

Até mesmo no cinema

Como o grande invocado

Dono do novo dilema:

“O de defender o mundo

Ou boyzinha de Ipanema”.

 

XVII

Galego também curtia

Dar uns tapa no visual

Com a barba ou cara limpa

Entrevista dos jornal

Botava uns pano da hora

Ou enfeites de carnaval.

 

XXVIII

E vez por outra o pai

Sim, mandava lhe chamar

Pois tirava uns cochilo

Demorava pra acordar

E pedia pro Galego

Das suas terra cuidar.

 

XXIX

Nessas horas seu irmão

Com a mundiça aparecia

Querendo botar terror

E dominar a freguesia

Mas, só levava toco e

Pau, até raiar do dia

 

XXX

E assim, foram seus dias

De glórias e de labuta

Enfrentando os vilões

E grandes filhos da truta

O Galego nunca tremeu

Nem nunca fugiu duma luta

 

XXXI

E essa foi uma história

Do Galego trovejante

Que morava lá nas nuvens

Nas paragens bem distante

Que hoje fez-se bom moço

Mas que já foi arrogante.

 

XXXII

Agora ele assumiu

O lugar que era do pai

Tomando uma canjibrina,

Lutando seu muay-thai

E assistindo de sunga

As reprises do Popeye.

 

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