sábado, 3 de setembro de 2011

Uma Matéria da PESADA!

Por Lucio Luiz 
Um lugar-comum bastante conhecido é o que garante que há poucos personagens gordos em mídias como o cinema, a literatura e os quadrinhos. Esse mesmo pensamento afirma categoricamente que os gordos não apenas aparecem pouco como ainda seguem sempre o mesmo estereótipo: bobão, meio mané e servindo essencialmente como alívio cômico.
Mas o Papo de Gordo, que é formado por um bando de nerds (só a tia Maira se salva), está aqui pra mostrar que pelo menos nos quadrinhos essa visão não é verdadeira… bom… não é totalmente verdadeira.
Reunimos um grupo de pessoas que conhecem bem o assunto para selecionar os maiores gordos dos quadrinhos (a lista de jurados está no final do post). Há desde personagens reconhecíveis mesmo por quem nunca leu HQs até aqueles que podem ser um tanto “obscuros” inclusive para os leitores inveterados.
Esse “top 50″ é bastante eclético. Há personagens de tirinhas, comics, mangás, quadrinhos europeus e, claro, uma porção de brasileiros. Os estereótipos naturalmente estão presentes, mas variam do gordo bonachão até o mal humorado. Há mesmo personagens que foram gordos apenas por um breve período, mas que ficaram “marcados” por isso.
Até a próxima segunda-feira, teremos posts diários especiais detalhando essa lista e o motivo principal de cada um desses personagens estar aí. Para aqueles que não conhecem essa “galera”, será a chance de entender um pouquinho mais sobre o “universo gordo” dos quadrinhos. E, para os nerds “tarja preta”, será mais uma chance de xingar quem montou uma lista diferente da que está em sua própria cabeça .

Os 50 maiores gordos dos quadrinhos:
1 – Obelix
2 – Bolinha
3 – Groo
4 – Hagar
5 – Garfield
6 – Rei do Crime
7 – Volstagg
8 – Bolão (Reco-Reco, Bolão e Azeitona)
9 – Dudu (Popeye)
10 – Coruja (Watchmen)
11 – Blob
12 – Besouro Azul
13 – Sargento Tainha
14 – Francine (Estranhos no Paraíso)
15 – Capitão (Os Sobrinhos do Capitão)
16 – Pipa
17 – Foggy Nelson
18 – O Gordo (Ely Barbosa)
19 – Herbie Popnecker
20 – Amanda Waller
21 – Dr. Octopus
22 – Pafúncio
23 – Mônica
24 – Fradim
25 – Lex Luthor
26 – Shunsaku Ban/Higeoyaji
27 – Pedrão (Zé Carioca)
28 – Vovó Bondade
29 – Jotalhão
30 – Maggie Chascarillo (Love & Rockets)
31 – Saltador (Legião dos Super-Heróis)
32 – Radicci
33 – Detetive Diomedes (A Soma de Tudo)
34 – Pinguim
35 – Dale (The Walking Dead)
36 – Quinzinho37 – Coisa
38 – Bibelô
39 – Capitão (Piratas do Tietê)
40 – Toupeira
41 – Bolota
42 – Irmãos Metralha
43 – Dum Dum Dugan
44 – Chico (Zagor)
45 – Urbano, o aposentado
46 – João Bafo-de-Onça
47 – Mojo
48 – Tamara Boula
49 – Sembe Norimaki (Dr. Slump)
50 – Cowboy Wally
Participaram da seleção (em ordem alfabética): Ana Recalde (criadora e roteirista do mangá Patre Primordium), Daniel HDR (desenhista e podcaster – ARG!cast), Dico Didiraja (Comicpod), Diogo Braga (Matando Robôs Gigantes), Dudu Sales (Papo de Gordo), Fernando Lopes (editor da Marvel na Panini Comics Brasil), Flavio F. Soares (Papo de Gordo), Germano Araújo (Hcast), Gonçalo Junior (pesquisador e autor de “A Guerra dos Gibis”), Henrique Magalhães (Marca de Fantasia), Lucio Luiz (Papo de Gordo), Mallandrox (Melhores do Mundo), Pedro Bouça (tradutor), Rod Reis (colorista e podcaster – Papo de Artista), Sidney Gusman (Universo HQ e Mauricio de Sousa Produções) e Sonia Luyten (pesquisadora e presidente da comissão organizadora do Troféu HQ Mix).

PS: Como somos contra o nepotismo, é claro que o MorsaMan não entrou na lista. Afinal, ele ainda deve demorar mais um pouquinho para poder ser considerado um dos maiores gordos dos quadrinhos.
Fonte: Papo de Gordo


"Fat Family Brazil"
Por Lucio Luiz 
O Brasil tem vários artistas talentosos trabalhando com quadrinhos, então era de se esperar que, na eleição dos 50 maiores gordos das HQs, tivéssemos vários representantes tupiniquins (13, para ser preciso). Como não poderia deixar de ser, o brasuca melhor colocado é o Bolão (8º lugar). Se você não está ligando o nome à pessoa (ou, no caso, ao personagem), ele é o gordinho que, junto com Reco-Reco e Azeitona, forma o trio criado por Luiz Sá nos anos 1930 para para a revista Tico-Tico, a primeira publicação brasileira a contar com quadrinhos (fora lançada em 1905).
Contudo, quando falamos dos quadrinhos nacionais, é praticamente obrigatório falar de Mauricio de Sousa, o mais bem sucedido autor brasileiro de HQs. O criador da Turma da Mônica conseguiu emplacar quatro personagens seus no “top 50″: Pipa (16º lugar), Mônica (23º), Jotalhão (29º) e Quinzinho (36º). Se fosse um “top 100″, talvez conseguisse aparecer com vários outros, já que o “universo mauriciano” é pródigo em gordinhos com as mais variadas personalidades e que sempre se destacam, mesmo quando são coadjuvantes.
Pipa, por exemplo, é para muitos a personagem da Turma da Tina com mais personalidade. Embora esse tenha sido o grupo de personagens de Mauricio que sofreu o maior volume de alterações no decorrer dos anos (de galera hippie a pós-adolescentes que resolvem mistérios), Pipa sempre foi muito utilizada para uma grande variedade de histórias, especialmente as que mostravam, com humor, seus problemas com a balança, ataques de ciúme e muita falta de noção. Ela pode talvez ser considerada a mais humana do grupo, tanto que até gerou uma ótima história dramática criada por Fernanda Chiella no álbum MSP +50 (no qual autores diversos recriavam persoangens do Mauricio).
Jotalhão, o “elefante mais amado do Brasil”, nem precisa de comentários. Só o fato de ser um elefante já o credenciaria como gordo, mas as histórias da Turma da Mata na qual ele tem problemas (cômicos, por sinal) por causa de seu peso, são melhores que as de muitas pessoas que tentam fazer graça com gordinhos. Já a Mônica, merece uma observação importante: Embora ela tenha a mesma “forma” (eu precisava de um circunflexo aí, mas a reforma ortográfica aboliu o acento diferencial só pra atrapalhar a minha vida) das outras crianças da turminha, sua alcunha de “gorducha” tem razão de ser, já que ela era realmente bem gordinha (e absurdamente mal encarada) quando surgiu pela primeira vez nas tirinhas do Cebolinha. Mesmo assim, apesar de ser uma das melhores personagens de quadrinhos de todos os tempos, não está tão bem posicionada na lista dos maiores gordos porque hoje em dia lhe falta um tanto de “gordice”, afinal.
Por fim, Quinzinho é um personagem secundário praticamente desconhecido por quem não acompanha os gibis atualmente. Namorado da Magali (que até mereceria uma “honra ao mérito” na lista pelo tanto que come) e sem muitas características marcantes, ele merece seu lugar no “top 50″ porque é a única criança realmente gordinha da turma e, mais importante, é também o único adolescente gordo do gibi Turma da Mônica Jovem (inclusive, já teve um certo destaque num arco de histórias sobre a Magali, no qual ficou com baixa autoestima por achar que ela o estava ignorando; mas ainda tenho esperança de que o utilizem melhor em alguma história que aborde os problemas pelos quais passam os adolescentes acima do peso).
Embora Mauricio seja o mais conhecido do grande público, há uma infinidade de quadrinistas brasileiros importantíssimos com personagens que figuram no “top 50″. Um que certamente merece destaque é Henfil, criador do Fradim (24º lugar). O personagem politicamente incorreto e altamente crítico era uma das vozes que se levantavam contra a ditadura militar em histórias tão ácidas que foram rejeitadas por editores norte-americanos (o que só mostra o quanto eram realmente boas). Já nos anos 1980, mesmo com o início da abertura política, o quadrinho de humor brasileiro continuava em alta, pegando pesado com a as piores características da nossa sociedade. Nesse contexto, surgiram os personagens Bibelô (38º lugar) e Capitão (dos Piratas do Tietê, 39º), respectivamente criados por Angeli e Laerte, dois dos maiores cartunistas do país.
Ainda no campo das tiras diárias, temos Radicci (32º lugar) e Urbano, o aposentado (45º). O primeiro, criado por Iotti, é uma “caricatura” dos colonos italianos do sul do Brasil: Gordo comilão e beberrão, machista, mal humorado, preguiçoso e amante dos vinhos. Suas tirinhas são adoradas especialmente pelo pessoal da Serra Gaúcha, local retratado pela maioria de suas histórias. Já Urbano, criado por Antônio Silvério, é publicado em O Globo desde 1986, quando venceu um concurso promovido pelo jornal. O divertido aposentado, caprichadamente gordo, adora uma boa feijoada mas tem que fugir da marcação cerrada de sua empregada, que não o deixa comer coisas gostosas por causa da saúde (quem nunca passou por isso?).
Mostrando que o talento tupiniquim é universal, um dos personagens mais querido pelos leitores do gibi do Zé Carioca é Pedrão (27º lugar), que foi criado pelo brasileiro Ivan Saidenberg para aumentar o rol de coadjuvantes do papagaio da Disney. O cachorro gordo (não é xingamento, já que ele é um cachorro mesmo, oras) faz a melhor feijoada do mundo e trata com muito carinho sua jaqueira (só mesmo um gordo pra plantar jaca no quintal). Outro gordo brasileiro importante é o menino chamado exatamente de O Gordo (18º lugar). Criado por Ely Barbosa, o garoto era líder de sua turma (algo que não era muito comum para um gordinho, ainda mais em histórias infantis) e chegou a ter um gibi próprio publicado nos anos 1980.
O último brasileiro do “top 50″ que falta ser citado é o detetive Diomedes (33º lugar), criado por Lourenço Mutarelli para a trilogia composta pelos álbuns
O dobro de cinco (que deve virar filme), O rei do ponto e A soma de tudo. Diomedes é um delegado de policia aposentado que resolveu virar investigador particular. Seu estilo visual é bizarro (no bom sentido), assim como as histórias criadas por Mutarelli, que foge de vários padrões estéticos para criar um personagem único, cheio de defeitos e angústias.
Pelo que deu pra perceber, mesmo quando pegamos apenas os personagens gordos nacionais temos uma enorme variedade de personalidades, estereótipos e conceitos. (...)
Obs: Como toda convocação de seleção brasileira, está longe de ser uma unanimidade, também consideramos que vários personagens de PESO foram excluídos dessa lista: Brutus, Gansolino, Balu, Colimério, Miúdinho, Zé Colmeia, Peter Potamus, Pooh, enfim, uma galera do 2º escalão entre coadjuvantes e protagonistas da Disney, Hanna Barbera e derivados! Mas o pessoal do Papo de Gordo está de parabéns pela iniciativa e pelo resgate histórico que essa pesquisa nos proporcionou. E mais, abre margem até para trabalhos acadêmicos sore o tema, por quê não?

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