segunda-feira, 18 de julho de 2011

A primeira história em quadrinhos pode ser escocesa

Por Sérgio Codespoti - UHQ - 21-02-2011

The Glasgow Looking Glass
Segundo o jornal Scotland on Sunday, a primeira história em quadrinhos pode ser escocesa. A afirmação é de John McShane, proprietário da comic shop AKA Books & Comics.
John McShane defende que uma página de Our House In Town, escrita e desenhada por William Heath e publicada no jornal The Glasgow Looking Glass, em 1825, é a primeira HQ publicada no ocidente. Heath, que também usava o pseudônimo Paul Pry, nasceu por volta de 1795 (a data exata não é conhecida) e faleceu em 1840.
The Glasgow Looking Glass era uma publicação quinzenal que surgiu em 11 de junho de 1825 (16 anos antes da famosa revista inglesa Punch), fundado por John Watson. O jornal mudou de nome após a quinta edição, passando a se chamar The Northern Looking Glass, e foi publicado até junho de 1826.
Já no segundo número, o jornal passou a usar o termo "continua na próxima edição". Heath foi o primeiro a usar o termo numa HQ, em Life Of A Soldier, publicada na décima edição de The Glasgow Looking Glass. Alguns cartuns e tiras também já usavam um balão de fala primitivo (The Northern Looking Glass, volume 1 - #13), que também estavam se tornando bastante comuns entre os caricaturistas ingleses.
A história My House In Town, publicada em The Northern Looking Glass, volume 1 - #20, tinha 20 quadros.
A descoberta não é nova. O assunto já vem sendo debatido há alguns anos e a defesa do trabalho como sendo "a primeira HQ" tinha o apoio do historiador Denis Gifford, que faleceu em 18 de maio de 2000. Esta é a primeira vez que o assunto ganha grande destaque e cobertura por parte da imprensa.
O assunto será debatido no documentário Scotland's Amazing Comic Book Heroes, produzido pela BBC Scotland, que será exibido no segundo semestre deste ano. Também participarão do programa Mark Millar, Grant Morrison e Frank Quitely.
Entretanto, apesar do uso de diversos quadrinhos, a maioria das "HQs" do The Glasgow Looking Glass se limitava a mostrar eventos isolados, sem usar da sequencialidade entre os quadros. Os artistas do jornal, na época, ainda não haviam percebido a possibilidade de que quadros seguidos poderiam representar um mesmo espaço, mas em momentos diferentes no tempo.
Como estas páginas, existem muitas outras, em países diferentes, datadas dos séculos 15 ao século 18, mas que por motivos diversos não se enquadram exatamente nas definições mais aceitas do que é uma história em quadrinhos.
The Yellow Kid
Afinal, qual é a primeira HQ?
Se você respondeu O Menino Amarelo (The Yellow Kid), está enganado. Por enquanto, a pergunta não possui uma resposta final, pois depende da definição do que é história em quadrinhos e qual a sua abrangência.
De modo geral, existe um consenso entre pesquisadores europeus, norte-americanos e brasileiros de que Rodolphe Töpffer é o criador da primeira HQ "moderna", Histoire de Mr. Vieux Bois, que foi escrita e desenhada em 1827 (a primeira HQ publicada de Töpffer foi Histoire de Mr. Jabot, em 1833).
Apesar disso, um grande número de autores norte-americanos ainda afirma que O Menino Amarelo, que surgiu em 17 de fevereiro de 1895, é a primeira HQ, repetindo o que foi escrito em décadas passadas, ou usando uma definição que serve apenas para o propósito de excluir outras obras. Essa informação é repudiada e refutada até mesmo por pesquisadores estadunidenses como David Kunzle e Patricia Mainardi.
A verdade é que existem dezenas de obras em diversos países, incluindo o Brasil (As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora surgiram em 1869), e ironicamente até nos Estados Unidos, que são anteriores ao Menino Amarelo.
O tema é tão polêmico, que, em 1996, ano no qual se festejou os 100 anos dos quadrinhos, baseado no surgimento do Menino Amarelo, o Festival de Angoulême, na França, promoveu uma festa celebrando os 150 anos de Rodolphe Töpffer. Enquanto isso, o Centro Belga de História em Quadrinhos, na Bélgica, e o Festival de Lucca, na Itália, (cujo prêmio se chama Yellow Kid) homenagearam o O Amenino Amarelo.
Apesar da nova "descoberta", Rodolphe Töpffer parece continuar, pelo menos por enquanto, com o título de "pai dos quadrinhos".
The Glasgow Looking GlassHistoire de Mr. Vieux Bois

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