quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quadrinhos no PNBE: o Ministério da Educação responde

Por Gibizada

"O ratinho se veste" (Companhia das Letrinhas) é um dos sete títulos selecionados 
Criado em 1997 com o propósito de equipar as bibliotecas das escolas públicas com obras de literatura, de pesquisa, de referência e outros materiais relativos ao currículo nas áreas de conhecimento da educação básica, o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) do Ministério da Educação divulgou no mês passado a sua lista de livros para 2012. 
Dos 250 títulos, causou surpresa a presença de apenas 7 HQs na lista. Mesmo que os livros do PNBE 2012 sejam destinados à educação infantil (creches e pré-escolas), ao primeiro ciclo do Ensino Fundamental e à Educação de Jovens e Adultos (EJA). O volume costuma ser maior na seleção para o segundo ciclo do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio.
Os quadrinhos surgiram no PNBE em 2006, com 14 livros selecionados. E, no ano passado, chegou ao número de 26 títulos, para felicidade das editoras, que chegam a receber encomendas de mais de 20 mil exemplares.
Mas nem tudo é festa. Alguns livros são criticados por pais e professores, não preparados para lidar com o material paradidático. Foi assim com Will Eisner, um dos maiores autores do gênero, e seu "Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço" (Devir); e com a antologia brasileira "Dez na Área, um na Banheira e Nenhum no Gol" (Via Lettera).
Com a HQ como foco, este blog enviou algumas perguntas por email ao Ministério da Educação, que foram respondidas por Jane Cristina da Silva, coordenadora geral de Estudos e Avaliação de Materiais Didáticos da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), e por Sérgio Gotti, diretor de Formulação de Conteúdos Pedagógicos do Ministério da Educação (MEC).
"Bando de dois" (Zarabatana Books) e "Aya de Yopougon" (L&PM) são 2 dos 7 títulos
- O número de títulos em quadrinhos diminuiu bastante nesta nova leva do PNBE. Depois de 26 títulos no ano passado, agora só 7 foram escolhidos. A polêmica com livros como "Dez na área" e com outros como os do autor Will Eisner influenciou?
MEC: Na verdade, o que houve foi uma redução no número de obras inscritas pelas editoras. É preciso considerar que não é possível comparar a edição do ano passado (PNBE 2011) com a deste ano (PNBE 2012), pois a distribuição é alternada, são públicos bastante diferentes. Naturalmente, há muito mais obras em quadrinhos voltadas para o público jovem - ensino fundamental 6º ao 9º e ensino médio - do que obras em quadrinhos voltadas para alunos menores ou para o público adulto, como o do EJA. Assim, dentre as obras apresentadas para avaliação, foram selecionadas aquelas que reuniam as qualidades necessárias para constar dos acervos.  
- Quem escolhe os livros do Programa Nacional Biblioteca da Escola? 
MEC: Os livros são avaliados por uma equipe de avaliadores - especialistas em literatura, leitura e educação, de diversas instituições de ensino superior. Todo esse processo é coordenado por instituição de ensino superior pública e supervisionado pela Secretaria da Educação Básica. Não há um número fixo de avaliadores, pois depende da quantidade de obras inscritas em cada edição.
- Os professores das escolas escolhidas a receber os livros são devidamente orientados a trabalhar com este novo material paradidático?
MEC: Não há escolas escolhidas. Todas as escolas públicas cadastradas no Censo Escolar recebem as obras. São obras de literatura e sua função é formar leitores, a partir de textos literários, desde a mais tenra idade. Aos sistemas de ensino cabe incluir a formação do leitor em seu projeto político pedagógico e, para tanto, investir na formação de professores voltada para a realidade de cada município e ao projeto político pedagógico da escola. 
- Qual é a tiragem aproximada de um livro de quadrinhos incluído no programa e como é feita a distribuição para as escolas? 

MEC: Os livros em quadrinhos não são distribuidos isoladamente, mas fazem parte de um acervo que inclui também outros tipos de obras, como contos, crônicas, poemas e livros de imagens. A tiragem aproximada do PNBE 2011 - anos finais do ensino fundamental e ensino médio -, segundo a página doFNDE, é de 77.754 acervos distribuidos para o Ensino Fundamental (6º ao 9 ano ) e de 34.704 acervos distribuídos para o Ensino Médio, salientando que são compostos três acervos diferentes para cada uma dessas etapas.
"Frankenstein" e "Drácula", duas versões em quadrinhos para clássicos da literatura, ambos da Companhia Editora Nacional, também estão na lista do PNBE 2012
- Alguns dos quadrinhos escolhidos são adaptações literárias de livros já consagrados, como "Frankestein", que entrou no ano passado e neste; ou "Turma da Mônica - Romeu e Julieta". Esta não é uma forma de subestimar o gênero e tratá-lo como mera ferramenta para se chegar à literatura? 

MEC: O fato de os quadrinhos selecionados serem adaptações de clássicos faz parte de um dos critérios do edital (3.2.3.3. Livros de imagens e livros de histórias em quadrinhos, dentre os quais se incluem obras clássicas da literatura universal, artisticamente adaptadas ao público dos anos iniciais do ensino fundamental; 3.2.4.3. Livros de imagens e livros de histórias em quadrinhos, dentre os quais se incluem obras clássicas da literatura universal, artisticamente adaptadas ao público de educação de jovens e adultos do ensino fundamental e médio). Longe de subestimar o gênero, a proposta é, sim, aproximar o leitor de textos clássicos apresentados em um formato mais lúdico, mas ao mesmo tempo artístico. É preciso levar ao aluno obras de qualidade artística tanto verbal quanto visual e, neste caso, os quadrinhos cumprem essa função. 

- Depois de alguns anos incluindo a história em quadrinhos no PNBE já dá para avaliar o seu uso na educação? O saldo é positivo? 

MEC: As histórias em quadrinhos têm a mesma importância das outras obras. O objetivo é que os alunos e professores tenham acesso a obras literárias de qualidade, capazes de proporcionar a ampliação dos referenciais dos leitores. A estética dos quadrinhos facilita a aproximação com os leitores, mas não menospreza a competência leitora. Quer dizer, para ler quadrinhos é preciso ser tão bom leitor quanto para ler qualquer outro tipo de texto, não é uma leitura menor. Pela aceitação dos alunos relatada por professores e pelas secretarias municipais de educação, o saldo é extremamente positivo.
"Pererê: 365 dias na Mata do Fundão" (Editora Globo) e "Turma da Mônica: Romeu e Julieta" (Panini), respectivamente de Ziraldo e de Mauricio de Sousa, são os dois últimos títulos da lista do PNBE 2012

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