Por Judão
Foi em setembro do ano passado que tudo mudou. A DC Comics iniciou um grande reboot, começando do zero praticamente todas as suas histórias. Nunca antes uma grande editora dos EUA havia feito isso, abrindo mão de sua cronologia de décadas e décadas para tentar atrair novos leitores. Naquela época contamos todos os detalhes daquele momento histórico em uma coluna chamada The New 52 Pickup, que retorna agora justamente no momento que a Panini traz para o Brasil todas estas histórias!
Aliás, os gibis d’Os Novos 52 – nome que a iniciativa editorial recebeu aqui no Brasil – só chegaram agora em junho devido a um grande esforço da Panini, já que, pelo delay que havia entre Brasil e EUA, isso só deveria acontecer em agosto ou até mesmo em setembro. Isso trouxe alguns problemas, algumas coisas não foram publicadas e tudo mais, mas o que interessava era trazer o novo momento da DC para cá.
Se o conteúdo é novo, a estratégia é seminova. Continuaram as revistas mensais mix, que têm um grande herói (ou equipe) para dar o título, mas trazem outros personagens – assim fica mais viável publicar tudo por aqui, afirma a editora. Porém, eles também apostaram em uma ~quase~ venda direta, com gibis mensais específicos para venda em comic shops. Tudo com, nesse primeiro mês, data de lançamento programada.
Agora vamos para a análise dos quatro primeiros gibis de banca, à venda desde o dia 2 de junho em todo o Brasil.
Liga da Justiça #1
68 páginas, R$ 5,90
Nos EUA, foi com Justice League #1 que tudo começou – então nada mais justo que começar com o gibi daLiga da Justiça. Por esse mesmo motivo, a edição é aberta com essa história.
Tantos meses depois de ler pela primeira vez – e ter acompanhado as edições seguintes – a opinião não muda: é uma HQ MUITO fraca para iniciar uma publicação, ainda mais um reboot. Nem parece um trabalho digno do roteirista Geoff Johns. Tudo é muito cômico – e esse NÃO era a intenção.
A história se passa cinco anos antes de todas as outras publicações. Batman já defende Gotham City há algum tempo, o Superman já tinha surgido em Metrópolis e outros super-heróis estavam por aí, mas eles não trabalhavam em conjunto. Isso muda quando o Lanterna Verde vai até Gotham levado pela presença alienígena detectada pelo anel e encontra o Batman. Depois de se conhecerem, eles vão até Metrópolis falar com o Superman, já que ele também é alien e pode saber de alguma coisa… E, bom, o resto pra saber só lendo, não é?
O enredo é fraco, o motivo da união é estranho e Hal Jordan está mais parecido com o Guy Gardner do que com ele mesmo. E se os desenhos do Jim Lee não foram interessantes na versão digital, eles parecem ficam ainda menos atrativos na versão impressa em papel pisa-brite.
Era de se esperar muito mais de um título que se tornou o carro-chefe da nova DC.
Em seguida, a publicação mix traz Captain Atom #1, com a primeira história do novo Capitão Átomo. A história, que tem roteiros de J.T. Krull e arte de Freddie Williams II, é boa, até. De certa forma, agrega alguns elementos do Átomo de O Reino do Amanhã e do Dr. Manhattan de Watchmen (que foi criado com base no Capitão original, da editora Charlton). Não é, em nenhum momento, um dos mais importantes personagens da nova DC, nem tem – até agora – ligação com a Liga da Justiça, mas até que, no final das contas, é divertido.
A revista fecha a primeira edição com Justice League International #1, com a nova versão da Liga da Justiça Internacional. Depois da Liga ~original~ se mostrar não tão suscetível a ordens externas, a ONU resolveu criar a sua própria versão do grupo, a qual pudesse manipular e usar de acordo com os interesses dos países membros. Assim, colocaram o Gladiador Dourado (personagem que ganhou muita importância na DC nos últimos anos) para liderar uma formação com Gelo, a brasileira Fogo, Víxen, Soviete Supremo, Augusto General de Ferro, Lanterna Verde Guy Gardner, Godiva e, finalmente, Batman.
As histórias da LJI são até interessantes, apostando principalmente na falta de entendimento entre os membros, já que cada um é de uma parte do mundo e têm ideias diferentes sobre o que fazer.
Dan Jurgens, é bom lembrar, já foi roteirista da Liga no passado, tendo assumido logo após a grande fase cômica da LJI. Como naquela época, ele não tenta ser engraçadinho, o que faz falta em uma HQ da Liga Internacional. Enquanto isso, o desenhista Aaron Lopresti faz um trabalho justo, lembrando até o próprio Jurgens nos bons tempos. Só não se empolga muito com a equipe, já que Justice League International será cancelada em breve nos EUA.
Superman #1
84 páginas, R$ 6,60
Aqui talvez tenha acontecido um erro estratégico da Panini. O gibi mensal do Superman não começa com Action Comics, assinada pelo Grant Morrison e que traz a origem do Azulão, mas sim por Superman #1, que se passa no ~presente~ e foi uma das últimas publicadas no primeiro mês do reboot nos EUA. Na HQ, que tem roteiros de George Pérez e arte de Jesús Merino, estão acontecendo grandes transformações no Planeta Diário, que acaba de ser comprado pelo Sistema Galáxia de Comunicação de Morgan Edge – que agora é negro. E não é só isso que deixa Clark Kent ~sem chão~: Lois Lane não é casada mais com ele, nem se importa tanto com o repórter quatrolhos, pois namora um outro cara.
Talvez pelas determinações da própria DC, George Pérez não faz um bom trabalho nessas primeiras edições de Superman, que são apenas razoáveis. Ele acabou de desentendendo com a editora nas edições seguintes e foi substituído por Keith Giffen e Dan Jurgens.
A segunda história da revista veio direto de Supergirl #1. Nela, a própria Supergirl chega até a Terra – sim, essa é, mais uma vez, a ~primeira vez~ dela no nosso planetinha medíocre. Na primeira edição não dá pra ver muita coisa, ainda, mas você já vai conferir que o primeiro encontro dela com o primo não será da mesma forma do que nas vezes anteriores. Enfim, uma publicação razoável, mas o que esperar da Supergirl? Bons tempos aqueles do Peter David…
Fechando o gibi, aí sim, chega Action Comics #1. A HQ se passa cerca de sete anos antes das outras publicações. Nesse novo começo, Grant Morrison traz a sua visão para a origem do Superman (mais uma!), mas com muitas referências a Era de Ouro dos Quadrinhos.
Assim, sai de cena aquele Homem de Aço meio bundão, entra um cara inexperiente e mais fraco, mas também muito mais agressivo, sem saber direito quais sãos seus limites. É uma pena, claro, apagar toda aquela recente origem feita pelo Geoff Johns em Superman: Origem Secreta, que era uma verdadeira homenagem aos filmes do Christopher Reeve e a Era de Prata, mas essa aqui não é de se jogar fora. Talvez uma melhor caracterização do Lex Luthor fizesse sentido, entre outros problemas…
Ok, ano passado eu fui mais duro com Action Comics #1, mas deve ter sido pela dor da perda de Origem Secreta. Além disso, o Rags Morales faz um bom trabalho na arte, que não deve ser desconsiderado. Também conta essa história do uniforme ir surgindo ~aos poucos~, o que é interessante.
Lanterna Verde #1
68 páginas, R$5,90
Um dos poucos personagens que não sofreu um reboot em sua cronologia foi o Lanterna Verde. Até porque boa parte da mitologia do personagem foi criada recentemente, na grande passagem do roteirista Geoff Johns. Por esse motivo, nada muda aqui em Green Lantern #1, que abre essa revista mix. Johns continua nos roteiros e Doug Mahnke na arte. Oops, eu disse que nada muda? Muda, sim!
Depois dos efeitos da Guerra dos Lanternas Verdes, Hal Jordan perdeu o anel e foi substituído por Sinestro, que não concordou muito com a ideia. Dessa forma, o titular do gibi não é o herói, mas sim o vilão, que agora tem o dever de ser o herói… E quem conhece o Sinestro sabe que muitas vezes ele tem intenções corretas, mas não as executa da melhor forma possível. Já Hal Jordan não ficará quieto aqui na Terra, pelo contrário.
Se você acha que essa fase do Sinestro é passageira, aqui vai um aviso: até agora ele ainda é o titular de Green Lantern nos EUA.
A HQ seguinte é da Tropa dos Lanternas Verdes, publicada originalmente em Green Lantern Corps #1. Nada muda aqui também: o roteiro ainda é de Peter J. Tomasi e a arte de Fernando Pasarin, além de continuar com a mesma cronologia de antes. Kyle Rayner que não está mais no título – ganhou um próprio, que você descobre a seguir – então as histórias são centradas em John Stewart e Guy Gardner. Como tudo continua, as histórias seguem boas – e acessíveis para novos leitores, também.
Fechando a publicação mix chega Green Lantern: New Guardians #1, que é o gibi do Lanterna Verde Kyle Rayner – agora responsável por criar uma equipe de ~Novos Guardiões~, cada um com o anel de uma das Tropas que surgiram nos últimos anos da DC. Tony Bedard (roteiro) e Tyler Kirkham (desenhos) fazem deste o pior título dos Lanternas Verdes. Kyle Rayner não merecia isso. Pelo menos você descobre no começo da história que a origem do personagem continua a mesma. UFA!
Batman #1
76 páginas, R$ 6,50
Esse é o primeiro (de dois) gibis mensais do Batmanpela Panini. Nesse aqui haverá, de acordo com a editora, apenas histórias solo do herói. Por isso temos um mix de um personagem só – que, vale lembrar, é outro que não teve a cronologia modificada por conta do reboot.
Tudo começa com Batman #1, que tem roteiros de Scott Snyder e arte de Greg Capullo. A HQ é uma das melhores do Homem-Morcego na nova fase, além de trazer logo na primeira edição todos os quatro Robins que já existiram para resolver a confusão na cabeça dos novos leitores (ou piorá-la). Como a cronologia não foi mudada, Snyder vai direto ao ponto, contando uma história daquelas que mistura a vida noturna do Batman com os afazeres empresarias do Bruce Wayne. Tudo isso faz uma história em quadrinhos interessante, além tentar o leitor com um mistério a ser resolvido nas próximas edições.
Na arte, Capullo faz um bom trabalho, até – o qual, confesso, não gostei na primeira vez que li, há alguns meses. Talvez o fato de agora estar impresso e, por isso, mais escuro, tenha ajudado.
Em seguida entra Detective Comics #1, com uma das HQs mais polêmicas entre as primeiras edições (ao lado de Catwoman #1). Tony Daniel, que era desenhista na época do Morrison, também é o roteirista dessa nova fase. Apesar de uma primeira edição até que promissora, Daniel se perdeu um pouco no decorrer dos meses e, até por isso, foi parando gradativamente de fazer a arte. É, amigo, não é fácil roteirizar AND desenhar o seu próprio gibi!
A história também ajuda a definir um pouco do status quo do Homem-Morcego pós-reboot. Agora o Batman é caçado pela polícia, sem aquela cooperação que existia com os coxinhas por conta de pressões políticas. Além disso, o Comissário Gordon não é mais grisalho (!?).
Fechando a primeira edição do Morcegoman chega Batman: The Dark Knight. Mas não se empolgue: roteiro confuso, final estranho, arte esquisita… David Finch (arte) e Paul Jenkins (roteiro) poderiam ter feito algo melhor.
Só que poderíamos ter sido poupados disso. Não há necessidade do Homem-Morcego ter quatro revistas mensais, todas partindo do mesmo princípio: o combate ao crime em Gotham City contra os vilões de sempre. Apenas Batman & Robin tem um tempero a mais, explorando o relacionamento entre Bruce Wayne e seu filho, Damian – que, por aqui, será publicada em A Sombra do Batman.
É bom lembrar que, apesar de todas as HQs do Batman serem independentes, elas começarão a se interligar nos próximos meses, quando chegarmos perto da saga A Noite das Corujas – mas isso é papo para outra hora.
E assim terminam as resenhas da primeira semana d’Os Novos 52. Na próxima leva teremos as publicações exclusivas de comic shops, que, aliás, estão chegando (*) nas comic shops.
CB:(*)a previsão era para o último dia 7 de junho. Se rolou como o planejado ou não, pouco importa. O certo é que este ano, o mês de junho além de milho, canjica, pamonha e forró, será marcado com muito Reboot... alavantu!
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