sexta-feira, 8 de junho de 2012

Editores da DC no Brasil contam todos os bastidores de Os Novos 52 no Brasil, distribuição digital e MAIS!

Por Judão

Os Novos 52, o tão falado reboot da DC. Quando aconteceu nos EUA, em setembro do ano passado, foi uma grande revolução no mercado editorial. Afinal, nunca antes uma grande editora havia feito um recomeço tão amplo em sua cronologia. Se muitos leitores mais antigos reclamaram, as vendas foram para o lado oposto: a DC vendeu como não fazia há anos.
Panini, que tem os direitos de publicação da DC no Brasil, claramente viu uma oportunidade no chamado ~relançamento~ da editora da qual é licenciada. Uma oportunidade única, que, se acontecer novamente, será daqui dez ou 20 anos. Momento, então, de fazer tudo da melhor forma possível. Assim, Os Novos 52 chegam ao nosso País OITÔ meses depois dos EUA.
Para contar um pouco destas novidades – incluindo uma estratégia inédita de lançar revistas mensais diretamente para as comic shops – o Judão entrevistou durante o evento Super Power Con (que aconteceu no último fim-de-semana) a equipe de editores da DC Comics pela Panini, Levi Trindade, Alexandre Callari e Bernardo Santana.
Também falamos um pouco do relacionamento entre os editores no Brasil e o pessoal nos EUA e, claro, não deixamos de lado temas polêmicos, como os atrasos na distribuição e a venda online.
    01 Como funciona o relacionamento de vocês, enquanto editores da Panini aqui no Brasil, com a DC lá nos EUA? Há uma troca de informações, diretrizes ou um direcionamento?
    Bernardo Santana ~ Direcionamento não existe, não dá pra falar. É assim: o produto é licenciado e a gente aqui faz como achar mais adequado… O que influi mais, talvez, seja a Panini Itáia. Existe esse diálogo entre a Panini e a Panini Itália, além da Mythos [que faz o trabalho de edição propriamente dito]. Mas isso pode acontecer mais quando é questão de design de capa, de onde fica o logo, de informação que tem no expediente, esse tipo de coisa. Agora, na parte do que vai sair, como vai sair, isso é totalmente livre pro licenciante. Decidimos entre nós e as Paninis Brasil e Itália. O novo logo, por exemplo, foi uma diretriz deles. Teríamos que usar o logo novo, que eles já estão usando lá nos EUA.
    02Como vocês viram o anúncio deste reboot lá foram e como vocês transportaram isso para o Brasil enquanto estratégia?
    Levi Trindade ~ No princípio ficamos tão assustados quanto os leitores – pelo menos eu fiquei, não sei os outros. Pegou de surpresa, porque, na verdade, por mais que achássemos que isso já poderia ter acontecido na, sei lá, Crise Final, que poderia talvez ter um reinicio do universo DC, acabou não acontecendo naquela época. Mas acabou acontecendo agora, depois da série Ponto de Ignição. As perguntas que mais vinha dos leitores eram “o que eles vão fazer?”, “como vai ser isso?”, “como vai ser divulgado?”, “quais serão os títulos?”, “quem vai ser rebootado?”, “como vai ser esse reboot para alguns personagens?”, “o que vai mudar e o que não vai mudar?”, “quem vai sumir”, “quem nunca mais vai aparecer?”. E, depois, veio a consequência: “Como é que nós vamos fazer isso aqui no Brasil?”, “quanto tempo vai levar?”, “o que os leitores vão ficar nos cobrando até lá?”. A princípio a perspectiva era de grande emoção e ansiedade. [Depois, com o resultado] Eu fiquei muito satisfeito.

    Ponto de Ignição #5: o início do reboot
    03Você falou de Ponto de Ignição. Uma das coisas comentadas aqui na SP Con é o atraso do #5, que é justamente a ponte para Os Novos 52 e não chegou às bancas até o momento desta entrevista. Os atrasos das publicações da Panini foram sempre um problema apontado pelos leitores. Para Os Novos 52, surpreendeu o fato das datas de lançamento terem sido divulgadas previamente. Isso aconteceu apenas pelo momento editorial ou vocês pretendem ter, a partir de agora, todos os lançamentos com as datas previstas e divulgadas antecipadamente?
    Levi Trindade ~ Não diria que, talvez, a gente lance com data programada, mas, de acordo com a Panini, existe um dia da semana marcado para que a Chinaglia faça a distribuição. Este dia da semana é então informado para as comic shops e depois elas informam todo mundo, assim todos ficam sabendo quando vai chegar. A intenção é essa: os títulos chegarem em semanas determinadas. Tem títulos que vão na primeira, na segunda, na terceira ou na quarta semana. Nós os espalhamos ao longo do mês.
    No caso do lançamento de Os Novos 52, nas edições de lançamento, fizemos um esforço para trazer pelo menos oito títulos na primeira semana, juntos, até para prestigiar o evento aqui, já que era a grande razão da festa. Seria interessante, então, ter a maioria dos títulos. Mas, a partir dos próximos meses, deve ficar com uma leva de títulos na primeira semana, depois na segunda, na terceira e na quarta semanas do mês, como normalmente estávamos tratando a DC. Um dia determinado da semana vai chegar.
    04 A Panini não fala sobre tiragens, é a política da editora, mas as vendas estão dentro daquilo que vocês esperam, considerando antes do reboot? E vocês acreditam que o relaunch irá ~turbinar~ essas vendas nos próximos meses, como aconteceu nos EUA?
    Levi Trindade ~ O que nós esperamos é que o que atraia novos leitores seja o evento como um todo, incluindo a campanha toda que foi feita para lançar esses novos títulos, tudo que vem sendo feito na internet, divulgação em comic shops, filme… Se tudo isso não contribuir para que venda mais, então passamos a vender coquinho na rua porque nada mais vai ajudar. Eu boto fé que isso vai dar resultado. Talvez não uma reprodução fiel do que aconteceu nos Estados Unidos, porque aí já é uma coisa de mercado. O deles funciona de uma forma e o nosso funciona de outra. Mas eu torço muito para que isso dê resultado sim e que, a partir do número dois, já tenhamos um norte para seguir em relação às ações que precisaremos fazer, ou não fazer, para poder manter as mesmas revistas em banca ou aumentar as vendas.
    05 Nos EUA, a estratégia da DC foi aproveitar o relaunch para lançar tudo no formato digital. Aqui no Brasil a situação é outra. Na SP Con o Levi comentou que o iPad e outros suportes para a leitura digital aqui são ainda muito caros que lá fora, sem contar a renda média do brasileiro ser menor que nos EUA. Por isso, talvez seja ainda cedo para iniciativas digitais no nosso País, sem contar que também foi dito que o contrato com a DC não prevê vendas digitais. De qualquer forma, como vocês vêm essa oportunidade para o futuro?
    Levi Trindade ~ Fatalmente isso é algo que deverá ser discutido mais para frente. Em algum momento isso vai ter que entrar na conversa, porque… Não diria que é uma tendência de mercado, mas é uma consequência. Está acontecendo e nós não podemos perder o bonde. Em minha opinião pessoal, a editora que ficar parada vai acabar vendo outras pessoas trabalhando melhor isso. Acho que precisamos pensar nisso para o futuro.O aplicativo da Panini Itália pode ser um começo. Na verdade, pode ser um teste que eles estão fazendo lá para depois começar a detonar pelo resto das empresas que fazem parte do grupo.

    HQs no iPad? Por enquanto só se for direto da DC...
    06 Continuando um pouco na estratégia, agora falando mais uma vez de Os Novos 52. Fiquei surpreso quando vi o anúncio dos títulos mensais exclusivos para comic shops, uma iniciativa inédita da Panini. Como foi identificar essa necessidade e no que vocês estão apostando com essa ação?
    Levi Trindade ~ Nosso desejo é que dê muito certo. Isso proporcionaria que mais projetos saíssem da mesma forma. Coisas que até olhamos, mas pensamos que nunca teriam visibilidade, porque não vão sair. Coisas boas, mas que sabemos que não vão vender. Não são para todo mundo.
    Se você já tem um produto mais direcionado, de repente funciona para aquele público. Aquele público pode se mostrar o receptor ideal para aquele material, que vai dar vazão para que aquilo saia e dê oportunidade para mais coisas. O que nós apostamos é que essa iniciativa funcione bem e que, no futuro, possamos ter mais produtos direcionados para comic shops e que, ao mesmo tempo, tenhamos títulos em banca e que uma coisa não acabe com a outra.
    07 Bastante coisa mudou na cronologia por causa do reboot. No entanto, muitos arcos interessantes e até recentes, que poderiam virar encadernados, perderam importância na nova fase. São histórias que ficaram antigas. Vocês vão abandonar este material ou os encadernados continuarão sendo publicados?
    Levi Trindade ~ Os clássicos continuam. A DC recomeçou, mas ela não esquece o passado dela. Para fãs que leram materiais como O Cavaleiro das Trevas… Se você tem um material tão relevante como esse, não pode deixar para trás. Se tiver que sair, sai. Tem material dessa fase do Grant Morrison que estamos publicando como livro. Isso continua. Não precisa parar porque teve a reformulação. Nem a DC, acho, teve essa intenção também. Ela pode ter diminuído a quantidade de lançamentos nesse período todo de adaptação pelos Novos 52 – assim como nós tivemos que puxar o freio, olhar o ambiente e começar a se preparar pra esse momento, mas não quer dizer que isso vai impedir que saia, sei lá, a continuação da saga do Lanterna Verde, como nós estamos fazendo em livro, ou a continuação do Batman. Podem surgir lançamentos de clássicos que a Panini não publicou, mas que deveriam sair. Há até fases do Superman que precisam ser publicadas, que foram muito boas. Eu acho que isso vai continuar. Aliás, é certeza que vai continuar.

    Arquivo DC: morte depois de apenas um volume
    08Nesse sentido, lembro-me das coleções Biblioteca DC e Arquivo DC, que são coleções bem interessantes de material mais antigo, principalmente no Arquivo DC. Porém, nos últimos anos, elas ficaram de lado. Vocês pretendem retomá-las?
    Levi Trindade ~ Da Biblioteca nós tínhamos lançado dois volumes, um da Mulher-Maravilha e outro dos Titãs, e isso não funcionou tão bem como queríamos. Então, por enquanto, dessa forma não volta. Mas é tudo questão de estudar e, de repente… O mercado mudou daquela época para hoje. Talvez hoje possa funcionar melhor. É o caso de voltarmos a estudar isso. Na verdade vamos ter que voltar a estudar isso em algum momento. Em uma das reuniões que temos com a Panini, vamos ter que voltar a citar essas situações de novo e ver qual é o plano a seguir. Agora, Arquivo DC… Depende muito. Temos lançado muito material clássico e republicado arcos direto para a livraria, mas sem direcionar para uma coleção específica, como, por exemplo, coleção DC 70 Anos. Aquilo era algo específico. Agora o que estamos fazendo são coleções mais, digamos, isoladas, focadas apenas na força do produto em si. Você tem a A Piada Mortal, o próprio V de Vingança, O Cavaleiro das Trevas, Watchmen… São materiais que não precisam fazer parte de uma grande coletânea DC. Mas nada impede que possamos fazer um lançamento assim. De qualquer forma, do Arquivo DC, por enquanto não temos planos.

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