Quadrinista Caeto desenha episódios da própria vida

Por Portal Imprensa
Em um comercial de televisão, um menino encontra um pequeno elefante e zomba do animal. O tempo passa, os dois crescem e o elefante, já grande, cruza com o rapaz, dando o troco depois da travessura marcada na memória. A história quase banal despertou a ideia principal da primeira experiência vivida em livro pelo quadrinista Caetano Melo dos Santos, o Caeto. Estreando pela Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras, o desenhista conta “Memória de Elefante” a partir de sua vida pessoal, após mais de dez anos de dedicação aos traços.

Caeto começou a desenhar cedo e quase não se recorda com que idade. "Eu comecei a fazer quadrinhos por causa do meu pai. Ele lia muito e, desde criança, eu folheava quadrinhos e adorava ler. No início tentava fazer desenhos como os outros”, lembra.

Aos 11 anos, na escola, já tentava imitar o traço de artistas, hoje referências na área de quadrinhos. “Quando criança eu tentava fazer o que o Angeli, o Laerte Coutinho e o Glauco faziam. Eu comecei nos quadrinhos por causa desses três caras”, confessa.

Crédito:Caeto

Junto às três importantes figuras do desenho brasileiro Caeto destaca-se hoje ao lado de Jean Galvão, Rafael Coutinho, Lourenço Mutarelli, a dupla Fábio Moon e Gabriel Bá, entre outros.

Aprimorando a técnica, na juventude teve o primeiro contato com a estética underground de Robert Crumb, quadrinista de sucesso no Estados Unidos. “Ele fazia de uma forma mais conhecida, algo mais próximo da realidade”, diz. Caeto explora em seus quadrinhos traços acentuados, recurso já usado por Crumb na época.

Crédito:Caeto

Para a proposta autobiográfica em “Memória de Elefante”, o uso do preto e branco é feliz para se aproximar do real. “Todos os episódios [da minha vida] que eu queria usar eu contei na história”, conta. Embora já tivesse a vivência a ser narrada, a tarefa de relembrar não foi fácil. “É cansativo ficar repensando sua vida e revivendo as coisas. Eu interpretava os personagens, criei um esquema de fazer esboços. Várias coisas que me ajudaram a desenvolver um método que hoje eu adoto”.

Desde seu início no mercado editorial, Caeto colabora com ilustrações para diversos projetos. Já estudou no extinto Estúdio Pinheiros e participou de projetos do escritor Fernando Bonassi nas editoras FTD e Conrad. Entre algumas exposições e aulas ministradas fez uma série de painéis ilustrativos em diversas instalações do SESC São Paulo.

Crédito:Caeto

Fora a internet, cuja praticidade ajuda a promover o trabalho de desenhistas, editoras brasileiras investem cada vez mais em quadrinhos. Para Caeto, não se trata de sorte. “Isso aconteceu porque tinha que acontecer. [O Brasil] ficou muito tempo sem quadrinhos e quando chegou esse investimento apareceu muita gente que já fazia quadrinhos e tinha trabalho para mostrar”, comenta. “Não é só no Brasil que vem acontecendo, é uma coisa copiada no mundo inteiro. Desenhistas vem ganhando espaço nas livrarias”.

Aos 32 anos, Caeto finalizou recentemente uma HQ para uma coleção de Marcelo Yuka, fundador do grupo O Rappa, da Editora Barba Negra. Além disso, já trabalha em uma adaptação de um conto do escritor russo Leon Tolstói e um novo roteiro de outro projeto está pronto.

Quando não desenha, Caeto continua pensando em quadrinhos. Nas horas vagas, apenas descansa: “Ah...eu fico em casa, vou sair com meu filho, tomar uma cerveja, faço as coisas normais de qualquer pessoa”. No fim, espera por outra ideia (ou elefante) que desperte a mão sobre o papel.