Há vidas de artistas e vidas de artistas. E há Will Eisner (1917- 2005), que muito mais do que artista, foi um visionário genial. Em Life, in Pictures - Vida, em Quadrinhos, o criador do Spirit oferece um painel semiautobiográfico reunindo suas HQs mais próximas da própria vida.
O fato é que Eisner aliou como ninguém talento nato, formação artística, inspiração fora do comum e visão empresarial ao longo de uma carreira que cruzou quase todo o século 20.
Sem contar o fato de que, como um dos inventores do formato graphic novel, contribuiu de forma decisiva para fazer dos quadrinhos a forma de arte adulta, respeitada e cultuada que é hoje em dia.
Por isso mesmo, a narrativa sequencial deve muito a Eisner e os quadrinistas buscam na sua biografia o exemplo a seguir.
Além desta propriamente dita (Will Eisner: Um sonhador nos Quadrinhos, de Michael Schumacher, lançada no Brasil em 2013), o leitor brasileiro agora dispõe dessa pesada coletânea cujas HQs, juntas, formam o que há de mais próximo de uma autobiografia do mestre.
HQ por HQ
Edição de luxo em formato grande, com capa dura e 500 páginas, o compêndio assusta um pouco a princípio - até pelo preço, que não é exatamente barato, mas compreensível para uma edição tão luxuosa.
Só que Eisner era tão bom naquilo que fazia que basta começar a ler - por qualquer uma das cinco HQs do álbum - que rapidamente o que era pesado (fisicamente) se torna leve, pois o autor "carrega" o leitor nos braços e vai embora com ele já nas primeiras páginas.
Só o que pode afastar leitores de Eisner mais experientes de Life, In Pictures é o fato de que, das cinco HQs incluídas, apenas uma é inédita no Brasil.
E é justamente ela que abre o álbum. Crepúsculo em Sunshine City (de 1986) reflete os últimos anos de vida de Eisner, com sua mudança da amada Nova York para a Flórida. Na HQ, ele conta, com muita ironia, da mudança de um aposentado cercado de parentes interesseiros.
Já o Sonhador (outra de 1986) é o relato de seus primeiros anos de quadrinista na Nova York dos anos 1930/40, em meio à depressão e o surgimento dos super-heróis.
Já Ao Coração da Tempestade (de 1991) é uma narrativa mais longa e ambiciosa. Traz as memórias do jovem Eisner na 2ª Guerra Mundial, entremeadas com as trajetórias dos seus pais e avós entre a Europa e os Estados Unidos do fim do século 19 e o início do 20. Uma saga familiar contada de maneira íntima e sem rodeios, no melhor estilo Eisneriano.
O Nome do Jogo (2002) é a história da família de sua esposa, Ann. Outra saga familiar - só que aqui, mais impiedosa, enfocando o jogo de casamentos por contrato ou interesse entre famílias judaicas. E O Dia em que me Tornei Profissional (2003) encerra o livro com uma breve e reveladora HQ.
Via Portal A Tarde
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