
Por Marne (THE MAXX) Rodrigues - Fanboy
Comecei a ler gibi lendo Disney e Turma da Mônica. Li muito Palhaço Alegria, Turma do Gordo, Lulu e Bolinha, Aventuras dos Trapalhões e tantos outros.


Tinha lido algum ou outro Tex e Zagor e não gostava muito das histórias... Mas procurei outros e me deparei com Dylan Dog e confesso que me apaixonei pelo personagem e por suas histórias. E isso me intrigou... O que me fez gostar tanto do Dylan? O que ele tem que me fez comprar um número e sair correndo atrás de outros? Afinal em que o Dylan me fascina? E consegui elaborar alguns motivos:
O primeiro é que a história é fechada, concluindo-se na mesma edição (podendo trazer referências a histórias mais antigas às vezes). Ou seja, não é necessário comprar todos os números pra entender a história e gostar dela. Mesmo um leitor eventual diverte-se com Dylan Dog.

Também podemos contar que, apesar de uma estrutura de texto normalmente fixa ? alguém procura Dylan pra resolver um caso, ele vai atrás de pistas, há um mistério que, no fim, é resolvido, pelo menos em parte ? as histórias trazem um número bem variado de temas como alienígenas (Dyd23), personagens de desenhos animados saídos da tevê (Dyd26), bruxas (Dyd02), experiências extra-sensoriais (Dyd07), universos paralelos (Dyd21), encontro com a morte (Dyd04) e assim por diante. Ou seja, há uma estrutura de roteiro mais ou menos fixa na maioria das histórias, mas com temas bastante diversos, em histórias em que predomina o mistério e o fantástico, regados por um clima de terror, o que faz com que o leitor não enjoe, que cada história tenha um sabor novo.
Às vezes, põe-se em pauta questões sociais importantes, como uso de drogas e omissão de socorro (Dyd04), busca de um mundo perfeito (Dyd27) e função da medicina (Dyd07), por exemplo. Ou autor também ensaia algumas discussões filosóficas, como:
uma partida perdida logo de cara."
(servo da Morte em Dyd04, p. 85 e 86)
Vocês sabem disso, né? Pra mim, a vida toda é uma ficção!
Se eu visse um disco voador ou Drácula, não falaria de alucinações!
Nada é mais real que a fantasia! Concordam?"
(personagem em Dyd21, p.24)

O protagonista é bastante humano. Ele tem medo de avião, enjoa em navio (Dyd02), aceita casos aparentemente ruins só para levar a contratante pra cama, machuca-se, perde lutas, transa... Não humano como um Batman, que, apesar do título, comporta-se muitas vezes como um super ser, que bate em hordas de bandidos armados rindo. Dylan não faria isso... Há também a metáfora do navio: Dog tenta sempre montar um navio miniatura que nunca fica pronto (Dyd26 e 27, por exemplo)... um símbolo pra sonhos que a gente nunca concretiza... ou de que a vida é um eterno construir que nunca se termina, nunca vermos toda a nossa obra acabada. Nada mais humano...
Groucho, os desenhos... você a cadeia de crimes absurdos...
e eu, na falta de clientes, este veleiro que nunca acabo!"
(Dylan Dog em Dyd26, p.17)
E o mais importante na vida é a tarefa que a gente ainda tem a cumprir, o que ainda não se conseguiu fazer:
Pode me despejar, penhorar meus móveis, faça o que quiser!
Só deixe meu galeão... Ainda não o acabei!"
(Dyd16, p. 45)
O galeão representa, assim, a vida... Terminar o galeão, significa o fim. (Dyd01, história tipo elseworld na qual é mostrado um possível fim para as histórias de Dylan Dog.)

A história conta apenas com três personagens fixos. Além do Dylan, temos seu assistente Groucho, responsável por grande parte das piadas da história. Com seu humor non-sense, piadas às vezes velhas, mas sempre oportunas, serve de contraponto para as tramas sombrias que se apresentam. Contrabalançando o non-sense das piadas do assistente do Detetive do Pesadelo e com o humor irônico do protagonista, contamos também com o humor amargo do detetive Bloch, personagem recorrente nas histórias. Na verdade, os três personagens parecem três faces distintas de um personagem só, que pode ver a vida de três formas diferentes, seja de modo realista, um tanto pessimista (Bloch), sem levar nada a sério, como se entendesse os mecanismos que regem o mundo e risse disso (Groucho) ou tentando ser realista, mas atento ao impossível, percebendo a seriedade da vida, mas tentando achar graça nisso (Dog).
Dois loucos, mas simpáticos..."
(diz sobre Dylan Dog e Groucho uma personagem em Dyd18, p.25)
Isso resume bem os dois personagens. Talvez apenas Bloch não seja louco, ou talvez o mais louco de todos, de repente. É uma questão de como o leitor encara a história. Como pertencem a pontos opostos de um mesmo paradigma, Bloch e Groucho não têm uma convivência pacífica. O pessimista Bloch não tem paciência para o lunático Groucho.
para não ser in-vestidos!
Block ? Mais uma dessas e eu durmo!
E te mato caindo em cima!"
(Dyd28, história em que Groucho é escalado por Dog para impedir que Bloch durma...
se dormisse, o detetive poderia morrer)
Não há pudores em se mostrar cenas violentas de mortes (Dyd02, 26 e 27 por exemplo), mas também não se usa a violência sem necessidade. Há cabeças rolando e sangue derramado quando isso é necessário, já que se trata de histórias de terror. Mas a violência nunca é gratuita, vindo sempre para colaborar com o enredo.
Dog e Fay (uma das mulheres que entram e saem de sua revista) conversando sobre o filme Hellraiser:
FAY: Ah, não! Detesto filmes de terror!
DOG: Neste caso, tem razão... já vi quatro vezes e não gostei!
Muito sangue e nenhuma ironia!"
(Dyd18, p.43)

Em Dylan Dog deve haver sangue, sim, mas também ironia, romance, mistério...
Dylan Dog não tem personagens femininas fixas. As mulheres entram e saem das histórias no mesmo número, normalmente para contratá-lo, para se apaixonarem por ele ou como vítimas. Não raro as três coisas juntas. Dylan arrasa o coração das mulheres, e nisso, como a maioria dos homens modernos, esconde a sua fragilidade. Dog tem medo de se envolver mais profundamente, de cair na monotonia de uma vida de casado. Prefere casos rápidos e sem compromissos. É do tipo que não liga nem manda flores no dia seguinte.
Que amanhã lhe mande flores? Hmm... vou pedir pro Groucho mandar!
Sinto vergonha quando o florista dá aquele sorrisinho cúmplice..."
(Dyd19, p.16)

Se ficarmos aqui levantando nuanças, detalhes sobre as histórias de Dylan, levaríamos páginas e páginas, discutindo detalhes de cada história... Mas esse não é o objetivo deste texto. O que eu gostaria de mostrar é que Dylan Dog para mim foi uma grata surpresa. Comprei-o sem esperar muito e me surpreendi. Se tivesse passado minha vida lendo apenas comics e cartum, provavelmente teria desprezado um personagem tão rico. E como meu amigo Dylan, quero descobrir outros, de outros estilos. Continuo decenauta de carteirinha, mas estou aberto ao mundo dos quadrinhos, a todas as experiências que ele puder me oferecer.
Um comentário:
também tive uma experiencia parecida com esse titulo e hoje escrevo e desenho contos de terror nos moldes do velho dilan dog!
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