Por Giorgio Cappelli - GHQ
Primeiro de tudo, gostaria de dizer que considero este meu espaço no PortalGHQ mais um bate-papo informal com dados 99% seguros do que qualquer outra coisa. Não me acho o dono da verdade, embora conheça gente que, se pudesse, ia lá comprar onde a vendessem. Assim, caso alguém tenha informações melhores que as que seguem, por favor, não se acanhe em compartilhar.
Dito o acima, vamos prosseguir.
O ano de 2011 talvez tenha batido um recorde de filmes baseados em quadrinhos. Só de super-heróis tivemos quatro (X-Men – Primeira Classe, O Poderoso Thor, Capitão América – O Primeiro Vingador e Lanterna Verde), um cômico de origem europeia (Os Smurfs) e um de ficção científica (Cowboys & Aliens). Seis no total. Se considerarmos lançamentos no Brasil e não ano de produção, ainda dá para colocar na lista Dylan Dog e as Criaturas da Noite.
O ano de 2011 talvez tenha batido um recorde de filmes baseados em quadrinhos. Só de super-heróis tivemos quatro (X-Men – Primeira Classe, O Poderoso Thor, Capitão América – O Primeiro Vingador e Lanterna Verde), um cômico de origem europeia (Os Smurfs) e um de ficção científica (Cowboys & Aliens). Seis no total. Se considerarmos lançamentos no Brasil e não ano de produção, ainda dá para colocar na lista Dylan Dog e as Criaturas da Noite.
No Brasil, o mais perto que se chegou de uma HQ virar filme foi com o romance O Cheiro do Ralo, do quadrinista Lourenço Mutarelli. Aguardemos quando começarem as filmagens de Mesmo Delivery, de Rafael Grampá. O autor já revelou, via twitter, que há negociações em andamento.
Essa situação me faz pensar nas ótimas oportunidades que perdem certos cineastas brasileiros, tão viciados em mostrar o que eles supõem como “realidade” – e olha aí os donos da verdade outra vez. Se aparecer algum candidato a fim de fazer cinema baseado em quadrinhos nacionais, contribuirei com três sugestões:
1) A Garra Cinzenta, de Francisco Armon (história) e Renato Silva (desenhos). Publicada pela primeira vez em capítulos pelo jornal paulistano A Gazeta, de 1937 a 1939, é uma aventura que mescla elementos de policial, terror e ficção científica. Grande sucesso na época, saiu também no México, na França e na Bélgica. A trama não se passa no Brasil, e sim em Nova York. O inspetor Higgins e seu parceiro Miller investigam um assassino que sempre deixa na cena do crime o desenho de uma mão com garras, daí seu codinome “Garra Cinzenta”. A visível influência de quadrinhos made in USA, como o X-9 de Alex Raymond e Dash Hammett, não tira o brilho dessa obra que, com algumas adaptações para a telona, tem tudo para repetir o sucesso que foi em sua época, tanto aqui como lá fora. A Garra Cinzenta teve uma republicação parcial em 1975, pelo Almanaque do Gibi Nostalgia, da RGE (hoje editora Globo), saiu sob a forma de fanzine nos anos 90 e em 2011 pela Conrad.
2) Destino Oeste, editado em 2005 pela Tanta Tinta, é um álbum em formato europeu produzido por Gabriel Francisco de Mattos (argumento) e Ricardo Leite (ilustrações). Traz duas histórias passadas em Mato Grosso, terra dos dois autores (embora mineiro de nascença, Gabriel Mattos é cuiabano de coração). A primeira, Janeiro 1927, conta como um
militar um tanto maduro e rude decide encarar uma batalha contra a Coluna Prestes para mostrar sua bravura a uma jovem por quem se apaixonara.
militar um tanto maduro e rude decide encarar uma batalha contra a Coluna Prestes para mostrar sua bravura a uma jovem por quem se apaixonara.
A segunda, Asas, tem como protagonista ninguém menos que Saint Exupéry. O autor de O Pequeno Príncipe, sob o patrocínio secreto de Hergé (ele mesmo!), participa de um torneio de aviação. Acaba caindo em Santa Isabela, interior do Mato Grosso, e travando conhecimento com elementos que o inspirariam, depois, à concepção de seu livro mais famoso. Uma obra autoral com um quê de poesia. Talvez não fizesse “aquele” sucesso, mas tem tudo para se tornar um clássico instantâneo.
3) O Entrincheirado Hans Ribbentrop. O trabalho de Luís de Abreu (roteiro) e José Duval (arte) não teve a apreciação merecida quando publicado pela Editora Book, em 1991. Talvez por andar na contramão das tendências da época (ressurreição da onda de HQs europeias, os supercoloridos heróis da Image ou os quadrinhos corrosivos de Angeli, Laerte, Glauco, Fernando Gonsáles e cia.). O traço de José Duval lembra os da escola franco-belga. Alternando entre a década de oitenta e a Segunda Guerra Mundial, os autores contam a história do soldado Luderitz que, casualmente, descobre o dossiê de um certo Hans Ribbentrop, o cavador de trincheiras mais ingênuo, confuso e imbecil da Segunda Guerra Mundial. Vários personagens revelam seu passado em comum com o militar gordo e atrapalhado: o avô de Luderitz; um judeu especialista em fugas e atentados anti-nazistas; um obcecado agente da Gestapo.
O humor da narrativa alterna momentos de sutileza com pastelão. Caso feita a adaptação para o cinema, esta seria muito bem-vinda nos formatos de animação tradicional, animação 3D ou com atores de verdade. Mesmo sem se revelarem sucessos incríveis, todas essas histórias ou pelo menos uma delas, já serviriam para quebrar o marasmo e a mesmice de determinados filmes nacionais, cujos temas já conhecemos e não serei eu a dar aos meus leitores o desprazer de listá-los.
Giorgio Cappelli trabalhou com produção de cinema entre 1986 e 1993. Seu cineasta brasileiro favorito é Carlos Saldanha, responsável por Robôs, Rio e a série A Era do Gelo.
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