terça-feira, 1 de maio de 2012

Quanta Con nas cabeças

Por Milena Azevedo - GHQ

Uma convenção de quadrinhos realizada e sediada dentro de uma escola de artes, durante um feriado. O que parecia ser algo modesto ganhou projeção via twitter, culminando num evento aconchegante e bastante diversificado, mas que ficou pequeno para a glomeração de fãs e quadrinistas que ocuparam as casas 1 e 2 da Quanta, nos dias 21 e 22 de abril.
Foram dois dias intensos com palestras, debates, workshops, aulas-demonstração e lançamentos de quadrinhos, com artistas top, como Laerte, Gabriel Bá, Fábio Moon, Renato Guedes, Greg Tocchini, Lélis, Spacca, Rafael Albuquerque, Rafael Grampá, Gustavo Duarte, André Dahmer, André Diniz, e o idealizador e consultor do evento Rafael Coutinho. Também teve espaço para os independentes venderem seu material, divulgando seus trabalhos, bem como as editoras Devir, Leya/Barba Negra, Zarabatana e Conrad estavam com alguns títulos à venda por lá.
Com a limitação de cada pessoa só poder participar de duas atividades, muita gente, assim como eu, ficou querendo mais. Embora comprar HQs, trocar ideias e pegar sketches com os artistas, entre as atividades, tenha feito o tempo passar tão depressa que quase deixei passar a palestra com o Paulinho Caruso (sim, o filho genial do Paulo Caruso). Até porque no sábado teve o lançamento de Bukkake, do Pedro Franz, mais um título do projeto 1000.

A palestra Quadrinhos e Cinema, que seria proferida pelo Paulinho Caruso e por Heitor Dhalia (que foi substituído por Pepe Siffredi e depois por Marcelo Mesquita), com mediação do Marcelo Hessel (Omelete), foi maravilhosa. Primeiro porque eu não conhecia o trabalho de nenhum dos dois, e segundo porque eles são profissionais de mão cheia e adaptaram HQs curtas do Laerte e do Coutinho, respectivamente, exibindo trechos para a plateia. O Paulinho primeiro apresentou a HQ Penas e em seguida contou como foi o processo de adaptação da mesma em um curta live-action, falando sobre as escolhas que teve que fazer para não perder tantas elipses – figura de estilo própria da linguagem dos quadrinhos -, mostrando alguns story boards e afirmando que os mesmos não são um produto acabado, e sim o princípio para a finalização de uma ideia. Já o Marcelo, que tem uma experiência sólida como montador, co-dirigiu com o Siffredi a adaptação (também um curta live-action) de uma série de HQs curtas, bem antigas, chamadas Fim, feitas pelo Rafael Coutinho. O debate com a plateia foi curto, mas intenso, focando sobre a construção do roteiro e questões técnicas referentes aos pontos de virada da trama, que precisam ser precisos no cinema.
No domingo chegou a vez do debate mais esperado (e o primeiro que teve todas as vagas preenchidas), intitulado pomposamente de Como trilhar a estrada de tijolos amarelos até OZ, com os editores André Conti (Cia. das Letras), Lobo (Barba Negra) e Douglas Quinta Reis (Devir), tendo Daniel Werneck como mediador.
Muitos aspirantes a quadrinista estavam ávidos para saber como deveriam proceder para apresentar suas ideias às editoras. Os editores começaram dizendo que na verdade eles é que estão de olho em nós. Falaram que por indicação de outros quadrinistas e por trabalhos expostos em blogs (eles também olham a frequência com que o artista posta no blog, pois isso indica se é alguém comprometido com o que faz) e no Facebook, já dá pra fazer uma triagem legal. Quem quiser também pode enviar projetos com argumento e/ou roteiro (pronto ou em andamento) com raffs ou algumas páginas desenhadas. Mas, atenção, a dica foi para enviar histórias curtas, em torno de 10 páginas, nada de megassagas e nem algo do tipo “o novo Harry Potter”; e super-herois moldados em figuras do folclore brasileiro também estão totalmente fora de questão (periga até eles marcarem seu e-mail como “maldito”).
O André Conti lembrou que por a profissão exigir a leitura de muito material ruim, os editores são calejados, e sabem separar o joio do trigo. Afirmou que quando um projeto salta aos olhos e há grande potencial de venda do material, eles agarram com força. Tanto que a Quadrinhos na Cia. e a Barba Negra estão para lançar, em 2012, em torno de 10 a 15 álbuns de HQs nacionais e estrangeiras (entre elas Habibi, do Craig Thompson, e Invasão, do Gustavo Duarte), e a Devir por volta de, pasmem, 60 títulos.
Uma outra dica dada pelo Conti e pelo Lobo foi que os quadrinistas precisam saber ler contratos e valorizar seus trabalhos, pois cada contrato é praticamente moldado especificamente para cada projeto.  Negociação é a palavra-chave.
Quanto à publicação de material estrangeiro, todos disseram que há uma porção de títulos que gostariam de publicar no Brasil, mas precisam convencer primeiro seus chefes, e depois há a negociação com os agentes dos artistas ou os próprios artistas. Detalhes como a escolha da capa podem até dificultar o lançamento da obra, como Conti citou o caso do Meta Maus, do Art Spiegelman, que não abre mão da capa com o “furo no meio” (simbolizando um olho), para mostrar o cd que acompanha a edição, mesmo sendo explicado a ele que encareceria demais o material. Conti também falou sobre quão trabalhosa e arrastada foi a negociação para a publicação de Persépolis, da Marjane Satrapi, pois seu antigo agente português só atendia ao fax tipo uma vez na semana e demorava demais pra dar retorno. Já o Lobo disse que foi um prazer publicar Cicatrizes, e como o David Small vibrou com a capa brasileira.
Na tarde do domingo André Diniz deixou à venda alguns exemplares de seu mais novo trabalho, a adaptação de O negrinho do pastoreio, que acabou de sair pela editora Ygarapé. Pena que não o vi, mas levei a HQ pra casa.
A primeira edição da Quanta Con não deixou a desejar. Tudo começando e terminando dentro dos horários estabelecidos. A organização foi perfeita, com o pessoal de apoio registrando todas as atividades, controlando a entrada dos inscritos, que recebiam de imediato seu crachá (os acompanhantes recebiam crachás de “visitante”, e cada crachá tinha cores diferentes, facilitando o gerenciamento de quem estava circulando pela Quanta). Antes de cada atividade, era conferido o nome de quem havia feito a reserva antecipada; caso sobrasse vaga, aqueles que estavam por lá poderiam entrar.
Quem pecou mesmo foi a “grande” imprensa paulistana especializada em cultura pop, que subestimou o evento. Os jornalistas especializados que estiveram por lá foram ministrar palestras e intermediar debates, como Sidney Gusman, Paulo Ramos e o pessoal do Omelete, que já haviam feito sua parte da divulgação. Uma lástima.
Abaixo uma galeria com alguns momentos da 1ª edição da Quanta Con.
Rafael Coutinho super contente com seu evento
Marcelo Hessel, Paulinho Caruso e Marcelo Mesquita
A trinca dos poderosos: Douglas Quinta Reis, Lobo e André Conti
Mario Cau (ocupando o lugar de Renato Guedes), Flávio Luiz e Greg Tocchini
Renato chegou para a alegria dos que disputavam um sketch autografado
Felipe Nunes e Marcelo Costa
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