quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cangaço invade as histórias em quadrinho

Por Maíra Fernandes - Cruzeiro do Sul

Publicitário sorocabano Aloísio de Castro lança "Carcará", novela gráfica passada no sertão nordestino de 1928; publicação é tida como uma das melhores lançadas neste ano
As publicações especializadas em histórias em quadrinhos apontam a novela gráfica "Carcará", do publicitário sorocabano Aloísio de Castro, como uma das melhores lançadas neste ano.
As publicações especializadas em histórias em quadrinhos apontam a novela gráfica "Carcará", do publicitário sorocabano Aloísio de Castro, como uma das melhores lançadas neste ano.
O livro, finalizado em agosto com apoio do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (Proac), e que apresenta em quase 100 páginas uma história passada no sertão nordestino, no ano de 1928, é o resultado de um trabalho começado pelos idos de 2003, mas que foi sendo protelado por Castro por um bom tempo. "Não tinha tempo para fazê-lo, até que em 2010 eu acabei escrevendo o projeto no Proac e ele foi um dos 10 escolhidos. Tive 11 meses para fazer e produzir o material e, se não fosse assim, com tempo marcado, estaria trabalhando nele ainda hoje. A seleção foi o start para que eu desenvolvesse e terminasse o livro", confessa o autor, que trabalha no setor de marketing do Metrô de São Paulo e que já foi cartunista do jornal Cruzeiro do Sul.

Tal qual a música homônima de João do Vale, a novela "Carcará" retoma o sertão, porém, diferentemente da música lançada na década de 60, que denuncia o êxodo dos nordestinos para o sudeste, a novela de Castro narra uma aventura de ódio, traição e vingança. "As violentas disputas entre fazendeiros poderosos pela terra e pela água escassa, e a total falta de perspectiva de um povo sofrido numa região de grande miséria levaram ao surgimento de grupos armados, conhecidos como cangaceiros", explica o autor sobre a narrativa que conta sobre um conflito entre dois fazendeiros. O protagonista da novela, e que dá nome ao livro, carrega o nome da chamada "águia do sertão", o carcará.
Aliás, a história do cangaço é uma das paixões de Castro, filho de nordestinos e pesquisador ferrenho da história do cangaceirismo. "A história do cangaço sempre me atraiu... Minha família toda é do nordeste, lembro das histórias, das lendas, sempre me atraiu a história do nordestino em geral, do folclore... Meu avó era um folclorista muito famoso e toda essa convivência de férias foi importante", conta ele.O processo de criação da novela começou de uma forma curiosa, explica o autor, que primeiro desenhou toda a novela e, após pronta, é que nasceu a narrativa verbal. "Eu sou diretor de arte, trabalho com a parte de desenvolvimento visual, para mim o "Carcará" estava praticamente pronto visualmente, foi mais fácil desenhá-lo, depois as falas foram aparecendo das próprias imagens. Apareciam na minha frente, sabia como tinha que ser a imagem, aparecia a ideia de um diálogo e escrevia. E embora tenho sido roteirista de alguns filmes, não fiz roteiro, o que fiz foi muita pesquisa, vivo pesquisando tudo o que aparece sobre cangaceiros, ainda mais hoje com a internet, que facilitou a vida de todo mundo", declara Castro, cujos traços escancaram cenas de morte, lutas e outras ações comuns à época vivenciada no sertão nordestino.
 
Sertão na veia
Castro conta que nasceu na capital por mero detalhe, mas como viveu a vida toda na cidade, se diz sorocabano. O publicitário, que já trabalhou como cartunista, ilustrador, entre outras funções em agência publicitárias, logo cedo foi influenciado pelo rumo das artes: a mãe pintava e o pai sempre o incentivou a desenhar.

Mas foi por volta dos 10 anos, segundo ele "de uma hora para outra", que se apaixonou pelo mundo dos quadrinhos. "Tive em mãos gibis do Fantasmas com 10 anos e troquei o Pato Donald"s por ele e, daí para frente, não parei mais de desenhar. Mas os quadrinhos sempre foram um lazer, um hobby, tenho outras atividades profissionais", revela ele.
Feliz com a aceitação do trabalho, adianta que, dentro em breve, deve publicar outras novelas, sempre focando o folclore. "Sempre li muito sobre folclore e histórias do Brasil e tenho três ou quatro linhas para tocar, uma delas é sobre a história de Sorocaba, partindo da Feira de Muares", explica Castro, que recentemente participou como convidado de festivais de quadrinhos no País. "A gente vê a receptividade dos quadrinhos, principalmente independentes. Fui a um festival com um pacote de livros para bater papo e todos foram vendidos", comemora.
A novela gráfica "Carcará" pode ser adquirida nas livrarias COMIX e HQMix, em São Paulo, e na Livraria Espaço Alexandria, em Sorocaba.

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