terça-feira, 15 de novembro de 2011

DR e HQs


Muitos casais vivenciaram (ou ainda vivenciam) o pesadelo de ver a coleção de quadrinhos de um dos cônjuges ameaçar a relação. Eu acompanhei de perto o sofrimento de alguns colecionadores, clientes da GHQ, em sua maioria homens, que não sabiam mais como proceder para que suas esposas/namoradas entendessem que o amor pelos heróis de papel não podia ser encarado como um rival, levando ao ultimato: “ou eles ou eu”.
Tinha cliente que comprava quadrinhos escondido, procurando não gastar muito, pra esposa não desconfiar. Outro estava recomeçando a coleção, pois no processo de divórcio, a companheira havia feito uma “generosa” doação de todos os seus quadrinhos. E vez por outra aparecia alguém querendo me vender sua coleção, pois estava prestes a casar e as HQs não podiam fazer parte da decoração da casa nova.
Confesso que era duro ouvir aqueles depoimentos. Como leitora e colecionadora de quadrinhos de longa data, não queria estar na pele deles, e até me ofereci algumas vezes pra conversar com a(s) respectiva(s) caras-metades e fazê-las ver que aquele ciúme não tinha motivo. Se bem que em alguns casos era uma questão emotivo-financeira, do tipo, “ao invés dele comprar essas revistinhas, poderia me dar mais presentes ou ajudar nas despesas da casa”. Aí era mais complicado.
Em contrapartida, era bacana quando o casal gostava de HQs e cada um comprava as suas preferidas ou fazia compra para uma leitura compartilhada. Nesses casos, geralmente era o namorado quem influenciava a namorada a ler, e ela ia perdendo o preconceito e selecionando os autores e títulos que mais lhe agradavam. Para citar um exemplo de casal bacana que compartilha o gosto pelos quadrinhos (e que está ilustrando a crônica com suas fotos), temos a ilustradora Ila Fox e o engenheiro de software do Google Ricbit.  Ila e Ricbit não foram meus clientes, mas são amigos que fiz nas minhas viagens a eventos nacionais de HQs.
E em ocasiões mais raras (como descobri esse ano com a Aliny e o Paolo, um simpático casal de arquitetos potiguares), a esposa comprava quadrinhos e os apresentava ao companheiro, que ia tomando gosto pela arte sequencial.
E ainda mais raro é a esposa dar forças ao marido para investir com tudo na carreira de quadrinista, embarcando no sonho e fazendo-o se tornar uma realidade, como o fizeram as companheiras de Daniel BrandãoWendell Cavalcanti e do nosso colaborador Giorgio Cappelli.
A maioria dos colecionadores de quadrinhos é nerd/geek, são caras cuja única diversão é ler, jogar videogame e/ou RPG e passar algumas horas na frente do PC. Ler e colecionar HQs é um hobbie como qualquer outro (embora para alguns seja um investimento também), e não atrapalha os relacionamentos amorosos. A mulher que se sentir insegura quanto a isso é porque não tem confiança na própria relação com o parceiro ou sofre de carência aguda, querendo centralizar toda a atenção pra si.
O mais prudente a fazer é estabelecer momentos para que o casal entre em harmonia um com o outro, mas que também sejam plenos em seus momentos de solidão ou na companhia dos(as) amigos(as). A palavra-chave é respeito.
Encerro o texto com a sabedoria de um casal amigo, que definiu o fim de semana assim: no sábado, ele a acompanha em todas as atividades do dia; e no domingo é a vez dela o acompanhar, até mesmo se for pra passar o dia inteiro numa campanha de RPG. E está dando certo.

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