sexta-feira, 4 de novembro de 2011

PRYSCILA VIEIRA – A DEUSA DOS QUADRINHOS

Por Meu Herói
pryscilavieira
Lugar de mulher não é somente na cozinha ou no salão de beleza, é nos quadrinhos. Sabemos que o mundo da nona arte ainda é dominado pelos homens, mas sempre ficamos felizes, como leitores e desenhistas, quando nos deparamos com mulheres talentosas que criam um quadrinho de qualidade. Não é só a Argentina que possui a Maitena como a cartunista de humor feminino. O Brasil agora se orgulha de ter a Pryscila Vieira, morena, cidadã de Curitiba e artista que tem conquistado seu espaço com dedicação e belo traço. Leia a seguir uma exclusiva entrevista que essa deusa das artes dos balões nos concedeu.
1 – Pryscila, recentemente em seu blog você revelou uma pintura a óleo que você fez aos 5 anos de idade. Como iniciou seu interesse pelas artes visuais e pelos quadrinhos?
Às vezes acho que a tinta da década de 80 deveria dar algum tipo de barato, porque eu simplesmente amava pintar. Ainda amo, mas a Wacom que uso não tem cheirinho tão bom. Desenhar é algo espiritual, cármico. Nem sei dizer quando comecei a gostar de quadrinhos, de humor. "Desde sempre" vale como resposta?
2 – Quais foram as suas primeiras publicações na imprensa e na Internet?
Aos 14 anos comecei a trabalhar como chargista num jornal de Curitiba. Na internet, inaugurei um blog bem despretensioso em 2005, que mantenho até hoje no mesmo molde.
3 – Você mantém uma colaboração semanal na Folha de S.P, no caderno Equilíbrio. Fale dessa experiência, como iniciou?
É a soma de um monte de situações. Não sei dizer precisamente por que me chamaram para trabalhar na Folha de SP. Talvez porque os editores tivessem prestado atenção na minha carreira, o que gerou credibilidade, afinal, trabalho com humor gráfico há quase vinte anos. E na época de ser contratada pela Folha de São Paulo, já publicava diariamente no Metro Internacional há 5 anos, e também já tinha concorrido pela primeira vez como melhor tira nacional no HQMix 2009. Então, vou trabalhando espartanamente e vou colhendo frutos. Não costumo despender tempo analisando cientificamente como esses frutos se desenvolvem. Só é bom saboreá-los.
4 – Você participou do 3° Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro, que reuniu dinossauros, expoentes e revelações do mundo inteiro. O que você sentiu ao compartilhar o salão com grandes nomes?
Participo de Salões de Humor com os decanos do humor gráfico desde os meus 17 anos, quando me chamavam de "Pryscilolita", os tarados. Senti que melhorei muito meu trabalho, meu traço e que há um reconhecimento dessa evolução. E fiquei muito feliz porque  me colocaram na sala da "nova geração" na linha histórica da exposição. Fiquei uns dez anos mais jovem depois desse desígnio tão gentil. Praticamente voltei a ser “Pryscilolita” vendo meu painel de cartuns ao lado do "lolito" João Montanaro.
5 – Nas tiras da Amely, você aborda temas amorosos e sexuais. Apesar da abertura dos dias atuais, na sua opinião, ainda existem tabus sexuais que o humor gráfico pode ajudar a superar?
Ridendo castigat mores (Rindo castiga-se mais). Dizer que o humor colabora para a evolução da humanidade é conclusão tão antiga quanto a Hebe. O humor é capaz de dizer as mais terríveis verdades com toda sutileza. Abusa de sua iminência de ofensa, sem deixar espaço para que o leitor sinta sede de revide. Isso faz com que haja reflexão, evolução mental e , consequentemente, social. Mas eu não pretendo salvar o mundo. Se eu salvar um pé de salsinha ou uma lagartixa, já está ótimo.
6- Na revista  Em Família você desenvolve quadrinhos sobre a relação de pais e filhos. De onde você tira inspiração para desenhar o conteúdo?
Fiz apenas uma página de humor para a "Em Família" pois um patrocinador da revista reclamou para o editor que o conteúdo da charge (vide anexo) era inapropriado para a rede de ensino que sustenta a revista, o que culminou em minha "descontratação".  Isso é o cúmulo do que venho combatendo e alertando: O planeta está tomado por uma horda de analfabetos visuais, incapazes de decodificar as verdadeiras mil palavras implícitas numa imagem. E ,ultimamente, quem paga caro por este antigo estilo de ignorância, são os chargistas. Prevejo que em breve os humoristas gráficos terão que legendar suas obras, trabalhando contra seu próprio mister: a sutileza. "Para bom entendedor meia palavra 'bos' ". Mas, em breve teremos que escrever "BOSTA" mesmo, em letras garrafais e ainda explicar que ela não está fedendo para o lado de ninguém, que é ecológica e politicamente correta, biodegradável e que a tal da BOSTA fez crisma no ano passado. Oras... Como o mundo está impoliticamente correto.
7 – Para os novos desenhistas, e especialmente para as garotas que também desenham, qual conselho você daria para investirem em seus projetos?
Não é fácil viver de desenho. Tem que trabalhar muito para colocar brioches na mesa. Portanto, o melhor conselho, acho ainda, é o seguinte:
1- Preste um concurso público para garantir um futuro financeiramente seguro.
2- Tendo passado nesse concurso, faça como quase todo funcionário público: enrole o chefe. Nas horas vagas desenhe bobagens num bloquinho de anotações que caiba no bolso. Faça isso por pelo menos cinco horas das oito que deveria trabalhar.
3- Na sequência crie um blog e poste essas bobagens desenhadas em horário de trabalho para divulgá-lo por toda internet. Torne-se popular. Faça isso nas outras três horas que restam de trabalho na firma.
4- Depois de alcançar a fama enquanto cartunista, dê um jeito de se aposentar do serviço público. (Pesquisas comprovam que fazer cocô no corredor da repartição entoando “Macarena” em ré menor, atesta insanidade mental seguida de incapacidade para o trabalho. É aposentadoria na certa!)
5- Pronto! Depois desses quatro passos básicos, você terá se tornado rico, famoso e por consequência também será bonito.
8- você possui algum projeto de lançamento de livro autoral que possa revelar?
Claro! Você não é ninguém se na sua vida não plantar um filho, escrever uma árvore e ter um livro. Quero lançar o livro com tirinhas da Amely. Algum editor por aí se habilita?
9 – O que você acha do quadrinho nacional atual?
Muita gente boa está tendo oportunidades dignas de seus trabalhos. Vivemos a primavera dos quadrinhos tupiniquins.
10 – Deixe o seu recado para seus fãs.
Quem quiser doar qualquer quantia em dinheiro para mim, pode escrever para pryvieira@yahoo.com.brsolicitando os dados bancários para depósito. Também vendo lindos filhotes de Golden Retriever com pedigree. Pedidos, no mesmo email.
Acesse o blog de Pryscila:
 Nota do redator: Pryscila, adoramos a sua entrevista cheia de charme, inteligência e humor. Você é a deusa atual de nossas arte gráfica do humor brasileiro.
Leia alguns quadrinhos enviados especialmente pela nossa entrevistada:
pryscila
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