Por André Miranda - O Globo (via Yahoo)
Para os fãs de quadrinhos, a estreia de "Os Vingadores" - desde sexta-feira em cartaz no Brasil - é a oportunidade de se assistir ao maior grupo de heróis criados pela editora Marvel no cinema. Porém, para este mesmo cinema, o filme significa muito mais. É o desfecho de um projeto idealizado há pelo menos cinco anos, em que os filmes são produzidos e lançados seguindo a mesma lógica que sempre norteou a indústria de quadrinhos. Oferece-se ao leitor, agora espectador, uma série de histórias que se entrelaçam entre vários gibis, agora filmes, com uma data de lançamento marcada com bastante antecedência e muito mistério atrelado. É a percepção de que as duas indústrias - quadrinhos e cinema - têm tudo para dialogar.
A primeira empresa a perceber isso foi a Marvel. Todo mundo sabia que os antigos filmes do Super-Homem com Christopher Reeve viraram cults. Todo mundo sabia, ainda, que a série dos filmes do Batman dos anos 1980 e 1990 só não foi mais bem-sucedida por bizarrices como escalar Arnold Schwarzenegger para viver o Senhor Frio em "Batman & Robin" (1997). Era um tiro certeiro: os fãs adoravam ver seus heróis na tela grande, e os avanços tecnológicos permitiam caprichar nos efeitos. A Marvel, que não tinha nada a ver com Super-Homem e Batman (ambos são da DC, sua principal concorrente), se mexeu. Vendeu aos estúdios Fox os direitos de adaptação dos X-Men e do Quarteto Fantástico. Para a Sony, os direitos do Homem-Aranha e do Motoqueiro Fantasma. E, para a Universal, os do Hulk. Os anos 2000 foram marcados por uma enxurrada de filmes de heróis, alguns bem bons, outros nem tanto.
Mas o resultado de bilheteria foi, digamos, super-humano. O primeiro "Homem-Aranha", lançado em 2002 com Tobey Maguire no papel do alter ego do herói, Peter Parker, custou US$ 140 milhões e rendeu, só nos cinemas, US$ 821 milhões. A esse valor, deve ser somado ainda o ganho, difícil de se estimar, com venda de DVDs, camisetas, fantasias, carrinhos de bebê e qualquer coisa em que se pudesse estampar uma teia.
- A Marvel tem um perfil muito agressivo para trabalhar a marca. O Avi Arad, que organizou essa estrutura e é quem produz esses filmes, é um homem de negócios. Com ele, a empresa virou uma máquina de licenciamento de produtos - diz o gaúcho Rodrigo Teixeira, produtor-executivo que trabalhou nas equipes de efeitos visuais de filmes como "Superman - O retorno", "Alice no País das Maravilhas" e "A invenção de Hugo Cabret".
O questionamento dos executivos da Marvel, a partir dali, foi: por que se associar a um estúdio para produzir um filme (isto é, dividir o lucro)? A empresa passou a produzir seus próprios longas e recorrer aos estúdios tradicionais apenas para a distribuição. Assim nasceu "Homem de Ferro" (2008), de John Favreau, o primeiro longa do Universo Cinematográfico da Marvel. Ali foi traçada a estratégia que se veria nos anos seguintes. No filme do playboy-herói vivido por Robert Downey Jr., uma cena após os créditos fez os fãs delirarem. Samuel L. Jackson apareceu como Nick Fury, o poderoso diretor da agência de espionagem Shield, falando de uma tal "Iniciativa Vingadores".
Dali em diante, foram inseridas referências em todos os filmes da Marvel: "O Incrível Hulk" (2008), "Homem de Ferro 2" (2010), "Thor" (2011) e "Capitão América: o primeiro Vingador" (2011). A lógica, bem conhecida por qualquer guri que lê histórias em quadrinhos, era que um filme levaria ao outro. Foi a fórmula do sucesso.
- Houve muitas tentativas falhas de se emplacar heróis como franquia. Mas, desde que Hollywood começou a ser governada pelos blockbusters, percebeu-se que o lance era estrear o filme numa grande campanha, com o maior número de salas - avalia o quadrinista Arnaldo Branco.
Os grandes estúdios e até mesmo outras editoras de quadrinhos perceberam que havia ali uma mina de ouro. Em dezembro de 2009, a Disney anunciou a compra da Marvel. Pato Donald e Wolverine passaram a viver na mesma casa.
Só no Brasil, que tem cerca de 2.400 salas de cinema, "Os Vingadores" estreou em mais de mil salas, no maior lançamento da história da Disney no país. No mundo, o filme está tendo um investimento de marketing de mais de US$ 100 milhões. Fora isso, estão em produção pela Marvel/Disney "Homem de Ferro 3" (a ser lançado em maio de 2013), "Thor 2" (novembro de 2013) e "Capitão América 2" (abril de 2014). Além desses, por acordos fechados antes de a Disney entrar no negócio, chegará aos cinemas, em 6 de julho, "O incrível Homem-Aranha", um reboot produzido em parceria com a Sony, tendo Andrew Garfield como o herói.
A editora DC também se mexeu. Nos anos 2000, o Batman ganhou dois novos filmes, com direção de Christopher Nolan, e terá um novo - "O Cavaleiro das Trevas ressurge" - lançado em 27 de julho. O Super-Homem também deu origem a outro longa, de 2006, e tem mais um a caminho, com previsão de lançamento para 2013. Foi feito, ainda, um filme sobre o Lanterna Verde, e são fortes os boatos de que o sucesso de "Os Vingadores" será o incentivo que faltava para se fazer um filme sobre a Liga da Justiça, o supergrupo de heróis da DC.
- Temos obrigações com a expectativa do público. Tudo isso tem a ver com honrar um ícone, mais do que competir com outros filmes já feitos sobre ele - disse Marc Webb, diretor do novo "Homem-Aranha", numa coletiva de imprensa promovida pela Sony neste mês, em Cancún.
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