Por Milena Azevedo - GHQ
Joann Sfar e Emmanuel Guibert dispensam apresentações, para os leitores de quadrinhos que gostam de obras fora do mainstream.
Enquanto Sfar fez sucesso com a série em quadrinhos O Gato do Rabino e dirigindo longas-metragens, Guibert é conhecido por ter sido um dos autores de O Fotógrafo, obra que mistura quadrinhos e fotografias para contar o trabalho de uma equipe dos Médicos sem Fronteiras, no Afeganistão.
Além disso, os dois já firmaram parceria na série Sardine de l’espace e em uma pouco divulgada graphic novel, chamada La fille du professeur, ou The Professor’s daughter, em inglês (80 páginas, colorido, US$ 16,95).
O álbum foi produzido em 1997 e é o primeiro trabalho da dupla, tendo Sfar como roteirista e Guibert assinando a arte.
O enredo não esconde a referência ao clássico A múmia,
de 1932, estrelado por Boris Karloff, trazendo o amor improvável entre
uma mulher e a múmia do “faraó” Imhotep IV, em pleno Século 19.
A
múmia pertence ao Museu Britânico e está sob os cuidados do Professor
Bowell, renomado egiptólogo. Ao despertar de seu sono de 3000 anos,
depara-se com a filha do professor, Lillian, e tem certeza de que ela é a
reencarnação de sua esposa.
Ambos
aproveitam a ausência do professor para passar uma tarde agradável em
Londres, mas uma série de acontecimentos desastrosos os coloca sob a
mira da polícia e da Sociedade de Arqueologia.
Em
meio a essa confusão, a múmia de Imhotep III também desperta e, de
forma inusitada, pretende ajudar seu filho a voltar para casa.
Marcada
por um humor surrealista, essa louca história de amor não perdoa nem a
Rainha Vitória, mas se perde ao lidar com a fina linha entre realidade e
fantasia, contribuindo para a falta de empatia dos personagens junto
aos leitores. Por exemplo, se as pessoas vão ao museu para ver as
múmias, por que não se surpreendem ao ver uma andando e falando em plena
luz do dia?
Há outros furos, mas nada tão grave quanto não pesquisar um pouco de História quando a trama assim a pede.
Tal qual o filme A múmia,
o personagem principal foi batizado como Imhotep, um sacerdote do
Antigo Império, mas aqui ele é um faraó desperto. Na verdade, Sfar o
confundiu com a linhagem de Amenófis ou Amenhotep (mais precisamente
Amenófis IV, conhecido como Akhenaton, o faraó que elege o disco solar
Aton como único Deus egípcio do Novo Império).
O
atrativo fica para a arte limpa e a aquarela de Guibert. Mas elas não
são suficientes para prender a atenção do leitor – nem os estudos de
múmias, hieróglifos e estátuas egípcios, bem como das ruas de Londres,
feitos por ele e inseridos ao final da obra merecem destaque.
A qualidade de The Professor´s daughter resume-se em mostrar a relevância do registro dos trabalhos iniciais de grandes quadrinistas.
(Resenha publicada no Universo HQ)
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