domingo, 28 de outubro de 2012

Retrocomics! Dinastia M e o fim da superpopulação mutante na Marvel

Por Judão
Os anos 90 foram o auge dos mutantes na Marvel. Isso aconteceu por conta da grande pavimentação feita por Chris Claremont e John Byrne. A partir da virada dos anos 70 para os 80, os X-Men ganharam tanto destaque que deixaram uma série de “filhos”, gibis mensais, minisséries e crossovers que, a cada ano, formavam mais equipes e personagens mutantes.
O tamanho sucesso mutante nos anos 90 chegou a fazer a Marvel abandonar, durante um ano, franquias de sucesso como Os Vingadores, Quarteto Fantástico e Homem de Ferro, que tiveram as publicações terceirizadas para a Image. Saía mais barato e, assim, a editora tinha tempo de focar nos gibis aracno-mutantes. Isso não quer dizer, claro, que tudo que tinha na Casa das Ideias relacionado a estes personagens era de boa qualidade.
O cenário passou a mudar nos anos 2000. O grande foco nos X-Men e derivados fez com que houvesse uma saturação de ideias e do público, fora a cronologia intrincada que acabou surgindo para os novatos. Além disso, a editora passou a reinvestir com mais força nas outras franquias, o que levou ao surgimento dos Novos Vingadores de Brian Michael Bendis. No entanto, isso não era o suficiente para restabelecer o equilíbrio do Universo Marvel. Era necessário ir além. A editora precisava diminuir a presença mutante, deixando apenas as equipes e personagens que realmente importavam.
Assim surgiu a saga Dinastia M, publicada nos EUA em 2005 e que relembraremos agora aqui na Retrocomics. Tudo, claro, por conta do gancho no final de Vingadores vs. X-Men (caso queira saber qual é o spoiler, click aqui).

Vingadores – A Queda
Dinastia M começa, na verdade, em 2004, quando os antigos Vingadores sofrem uma série de ataques inesperados. Na saga escrita por Brian Michael Bendis, descobrimos que tudo está acontecendo por culpa da Feiticeira Escarlate, que havia pirado por conta da perda de seus dois filhos anos antes — filhos estes que não eram reais, mas sim construtos mágicos criados por ela mesma. Aquele foi o fim d’Os Vingadores, que ressurgiram em seguida como Novos Vingadores, em uma formação que passou a compreender heróis como Homem-Aranha e Wolverine.
A loucura da Feiticeira Escarlate
Na minissérie House of M, o mesmo Bendis nos reapresenta a Wanda agora em estado de total reclusão no que sobrou da nação mutante de Genosha. Charles Xavier e Magneto, outrora inimigos, cuidam dela. O Professor X tenta ajudar a filha de Magnus a manter o contato com a realidade, além de evitar que ela modifique essa própria realidade.
Preocupado, Charles reúne os Novos Vingadores e os X-Men (na época, na fase de Astonishing X-Men, do Joss Whedon, e sem a liderança do próprio Professor X) para decidir o que fazer com Wanda. Ao saber o que está acontecendo, Mercúrio, filho do Magneto e irmão da Wanda, vai até Genosha para alertar o pai que querem matar a Feiticeira Escarlate. “Pietro, eles têm razão”, é a resposta de Erik, para o desespero do Mercúrio.
Matá-la não era a única alternativa. Emma Frost e Wolverine defendiam esta ideia, enquanto Capitão América, Xavier, Homem-Aranha e Dr. Estranho ainda tinham esperanças em um outro caminho, ainda desconhecido.
Sem saber o que fazer, as duas equipes vão juntar até Genosha para, ao menos, tentar dialogar com Wanda, ou ver se os poderes de Xavier, Emma Frost e Estranho podem, juntos, fazer alguma coisa. Porém, algo dá errado. Heróis começam a sumir. Vemos o Homem-Araha sozinho em Genosha. Um clarão. Peter Parker acorda em uma cama. Ao lado dele não está Mary Jane… Mas sim GWEN STACY!
Admirável mundo novo
A realidade foi drasticamente modificada por Wanda. Gwen nunca morreu e é, agora, casada com Peter, com quem tem um filho e é uma celebridade mutante (mesmo sem ter um gene X, em uma grande mentira). Mary Jane é uma atriz de sucesso. Steve Rogers, o Capitão América, nunca ficou preso no gelo e hoje é um idoso. Scott Summers e Emma Frost são um lindo casal feliz. Miss Marvel é a super-heroína mais adorada dos EUA. O Fera nunca ganhou a forma bestial azul. Wolverine é o diretor da S.H.I.E.L.D. E, de modo geral, os mutantes superaram os homo sapiens e mandam na sociedade mundial. Em Genosha, Magneto é o grande líder mutante global dentro de sua “Dinastia de Magnus”.
Os principais envolvidos na caçada à Wanda ganharam tudo aquilo que eles queriam na vida.
Wolverine recupera a memória de toda a vida, toda, incluindo os acontecimentos que ele havia esquecido por conta do envolvimento em Arma X – apesar de não lembrar, especificamente, dos acontecimentos no universo criado em Dinastia M. De certa forma, o que Logan sempre quis era recobrar as memórias de toda a vida, o que conseguiu.
Transtornado, Logan passa a procurar Xavier, quem não encontra – além de ser caçado pelos outros membros da S.H.I.E.L.D., que acham que ele pirou. Wolvie acaba indo parar na Cozinha do Inferno, onde conhece o grupo de Resistência Humana, que tenta se voltar contra a opressão mutante e reúne caras como Luke Cage e o Gavião Arqueiro (que, na realidade, tinha sido morto em A Queda).
Junte com eles está uma garota chamada Layla que, assim como Logan, lembra-se de como o mundo era antes das mudanças. Ao tocar em Cage, ele também se lembrou do mundo no qual vivera, da mulher, do filho…
Wolvie sabe que Xavier era a resposta de tudo e que, de alguma forma, Wanda foi manipulada pelo pai e, usando os poderes mentais de Charles, soube o que todos queriam e assim pode modificar a realidade. No entanto, com o paradeiro desconhecido do Professor X, o mutante vai atrás da segunda mais poderosa telepata viva: Emma Frost. Quando Emma finalmente encontra Layla, ela relembra de toda a vida como vilã do Clube do Inferno e heroína dos X-Men.
Depois de fazer o Ciclope recobrar a memória, a equipe parte para recrutar mais membros. Um dos primeiros é Peter Parker, que curtia um passeio ao lado dos tios (isso aí, o Ben também estava vivo), Gwen e do filho. Quando Layla aparece, BOOM! Picada da aranha, morte do Tio Ben, Morte da Gwen Stacy, Mary Jane, casamento com a ruíva… Tudo na cabeça de Peter em apenas um instante. Ao olhar para a Gwen, ele só consegue ver um pescoço quebrado e um grande amor morto.
Página dupla com as memórias de Peter Parker
Imagine o desespero na cabeça do Homem-Aranha. Do dia para a noite ele vive uma realidade na qual o grande amor dele não morreu. Nem o tio. É tudo perfeito. Só que é tudo uma mentira, a qual ele deve lutar contra. Eventualmente, a memória de boa parte dos membros dos Vingadores e dos X-Men são reestabelecidas.
Em Genosha, o paraíso mutante, reencontramos Erik indo visitar o monumento em memória de… Charles Xavier.
O fim de tudo. Ou o recomeço?
Sem saber da morte de Charles, os heróis atacam Genosha em meio a um grande acontecimento monárquico para resgatar o Professor X. O pau come solto. Uma equipe com Manto Negro, Emma e Layla acaba chegando até onde está o túmulo, descobrindo o que aconteceu. Fim de tudo? Não: lá não há caixão, muito menos corpo. Não acabou.
Ao mesmo tempo, Dr. Estranho vai até o quarto de Wanda, que brincava com os filhos. Ao conversar com ela, o herói descobre que foi Pietro, filho de Magneto, que manipulou a irmã. A culpa de tudo isso é do Mercúrio.
Nesse momento, Clint Barton, o Gavião Arqueiro, surge completamente enraivecido. Ele se lembra de tudo. Lembra que Wanda o matou. “Nós éramos amigos, Wanda. Colegas de equipe. Eu te amava de verdade e mataria por você”, diz Clint. “Eu também te amo”, responde a Feiticeira Escarlate. “Então por que me matou? Por fez isso comigo?”. “Eu te ressuscitei”. “Você nem sabe o que fez… CALA A BOCA!!”, grita o Gavião antes de ser desfragmentado e morto mais uma vez…
Magneto, que recobrou a consciência após confrontar Layla, vai atrás de Pietro dominado pela raiva. “O que você fez em meu nome, garoto?”, grita Magnus. A briga entre os dois é bem feia.
Ao ver o que está acontecendo, Wanda vai em direção ao irmão, que cai morto no chão. Morto pelo próprio pai. “Ele… ele só queria te ver feliz…”, diz Wanda. “Mesmo quando você consegue o que quer, continua a ser um homem horrível. Nós não somos o próximo passo. Não somos deuses. Somos aberrações. Olha para nós, papai! Somos aberrações! MUTANTES!!! Papai…
“CHEGA DE MUTANTES”

E tudo, absolutamente TUDO acaba em uma enorme explosão.
No dia seguinte, todos acordam bem. O mundo voltou a ser o mesmo de antes. Todos aqueles que recobraram a consciência por conta dos poderes da Layla continuam a lembrar do Universo de Dinastia M, mas o mesmo não acontece com os outros. É como se nada tivesse acontecido.
Quer dizer, nem tanto.
Em todo o mundo inúmeros mutantes passam a perder os poderes. “Chega de mutantes”, disse a Feiticeira Escarlate. E assim será. Apenas alguns mantém os poderes, como Ciclope, Emma, Kitty Pride e alguns outros. Homem de Gelo, Jubileu, Xavier e Magneto ficam sem poderes. Apenas 198 mutantes são registrados em todo o mundo pelo Cérebro. Já Wolvie mantém o fator de cura e os outros poderes, além de continuar com as memórias de toda a vida pré-Arma X.
Apesar das ações dos X-Men para reencontrá-la, Wanda foge e passa a viver escondida.
Assim acaba Dinastia M
No Brasil
Capa de Dinastia M #1 no Brasil
Por aqui, Dinastia M foi publicada cerca de um ano depois dos EUA, a partir de setembro de 2006. As oito edições da minissérie estadunidense foram comprimidas em quatro no Brasil, que inauguraram uma prática inédita no nosso País: a das capas variantes. Cada exemplar dia duas diferentes para escolher. Em 2009, a mesma Panini publicou a versão encadernada da saga
Efeito no Universo Marvel
Dinastia M (e, por consequência, A Queda) trouxe inúmeras repercussões ao Universo Marvel. A principal delas é que os mutantes se tornaram uma espécie em extinção, obrigando os X-Men a se reorganizar. Scott Summers se tornou um líder cada vez mais militar, procurando uma forma de devolver aos mutantes a glória do passado. A esperança veio, literalmente, com o nascimento de Esperança, a primeiro mutante a surgir após as ações de Wanda.
Uma corrida pela garota começou, já que muitos viam nela a nova messias. Cable levou a criança para o futuro, criando-a como Esperança Summers, além de receber todo o treinamento necessário para o destino que a aguardava: receber a Força Fênix. Esperança voltou mais uma vez para o nosso presente, se aliou aos X-Men de Scott e é a chave do crossover Vingadores vs. X-Men, que será publicado no Brasil no próximo ano.
Ao mesmo tempo, Scott e Logan passaram a ter cada vez mais divergências sobre os rumos que os X-Men deveriam tomar. O desentendimento entre os dois também leva a um crossover mutante chamado Schism.
Apesar dessa movimentação nos títulos mutantes, a redução destes personagens os tirou de cena das grandes sagas da Marvel — apesar de ainda terem uma certa importância nelas. Em Guerra Civil, por exemplo, eles ficaram neutros, já que todos os mutantes haviam sido registrados pelo governo previamente. Em Invasão Secreta, os mutantes foram poucos na ajuda da resistência da Terra contra a invasão Skrull, e assim vai.
Por tudo isso, o Universo Marvel parou de girar única e exclusivamente ao redor dos X-Men.
Claro que, com o decorrer dos anos, o número de mutantes não ficou restrito aos 198. Caras como o Magneto e o próprio Pietro recuperaram os poderes, mas não foram muitos.
Uma análise sincera
Mesmo relendo Dinasia M sete anos depois, a saga continua atual e movimentada. Apesar de já ser lugar comum, o tema de um herói superpoderoso perdendo o controle (e a sanidade) por conta dos próprios poderes sempre rende boas histórias. Também foi interessante acompanhar o universo criado pelas ações de Wanda, inclusive realizando o grande desejo dos fãs do Homem-Aranha: que a Gwen Stacy nunca tivesse morrido.
Claro que a minissérie força a barra em alguns momentos para a melhor fluidez da história. Por que, por exemplo, a Feiticeira Escarlate daria ao Wolverine todas as memórias sendo que isso poderia ameaçar o próprio plano dela? E de onde veio a Layla?
No entanto, há algo pior. Na última edição, em House of M #8 (aqui, Dinastia M #4), o Homem-Aranha pede que o Dr. Estranho retire da mente dele todas as memórias da Gwen Stacy e do tio Ben ainda vivos. Estranho diz que não pode fazer isso. “Não é assim que a magia funciona”.
Porém, anos depois, Mephisto modificou a realidade e colocou que, como foi revelado em Um Momento no Tempo, que foi Stephen Strange foi o responsável por apagar as mentes de todo o mundo, fazendo com que ninguém mais se lembre que Peter Parker é o Homem-Aranha, mesmo com a declaração em TV aberta feita durante Guerra Civil.
Ok, alguém pode dizer que “é mágica, não precisa explicar” (TM Joe Quesada), mas cadê a consistência nos argumentos?
É, como você pode ver, eu ainda não engulo o fim do casamento entre Mary Jane e Peter Parker, mas acho que isso é assunto para outra hora…

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