Ser
leitor de quadrinhos no Canadá não é uma tarefa muito fácil. Como se
não bastassem todas aquelas famosas leis canadenses repletas de censuras
flagrantes, tratando como únicos e absolutos os conceitos subjetivos
da obscenidade e da blasfêmia, há até uma que estabelece o que pode ou
não constar das HQs que circulam no país.
Basta ler o que diz o Código Criminal do
Canadá sobre os quadrinhos de crimes. Há uma seção que determina que
está sujeito a penalidades quem criar, imprimir, publicar, distribuir,
vender ou ter em posse gibis, livros ou revistas que contenham
ilustrações descritivas de crimes reais ou fictícios.
Quadrinhos eróticos também são monstros a
serem combatidos pela justiça canadense. Alguns casos ganharam
repercussão internacional, como o recolhimento, ainda na alfândega, de
edições importadas da HQ Black Kiss, a genial minissérie de Howard Chaykin.
Isso não foi um acontecimento isolado e a prática é histórica no Canadá. Tanto que, no início dos anos 1990, a Comics Legends Legal Defense,
entidade de apoio a quadrinhistas e a editoras, distribuidoras e
vendedoras de quadrinhos, fundada em 1987, chegou a organizar uma
campanha para arrecadar fundos em favor de livrarias e comic shops que abriram processos contra a alfândega canadense.
O quadrinhista independente Chester
Brown, nascido no Canadá, também tem várias de suas obras proibidas de
circular em seu próprio país. A censura chegou ao cúmulo de impedir a
entrada, em território canadense, de um lote da revista informativa Comics Journal que continha uma entrevista com o artista.
Em 1994, uma edição especial em quadrinhos da revista masculina Penthouse também sofreu censura prévia naquele país. A HQ foi proibida de circular por lá entes mesmo de sair dos Estados Unidos.
Mas o caso que mais repercutiu aconteceu
em 2007. Um morador da cidade de Edmonton foi preso e indiciado por
importação de pornografia infantil. Em sua casa foram encontradas
dezenas de mangás eróticos, incluindo vários com histórias em que
menores de idade praticavam sexo.
Como não se tratavam de fotos, apenas
desenhos pedófilos, a justiça do Canadá abrandou a pena e condenou o
homem a 18 meses de condicional, 100 horas de prestação de serviços
comunitários e multa equivalente a 150 dólares.
Recentemente, a pérola mais fina dessa história maluca, entretanto, ficou por conta do Edmonton Journal,
que demonstrou total falta de conhecimento acerca dos quadrinhos
japoneses e saiu-se com esta: “Animê é uma ramificação pervertida da
indústria chamada hentai“.
A comic shop Little Sister’s Book & Art Emporium,
de Vancouver, cuja especialidade é a comercialização de quadrinhos
eróticos – especificamente os de temática homossexual -, é até hoje a
mais atingida pela censura canadense e a que mais acumula processos na
justiça.
Há alguns anos, a editora Arsenal Pulp Press bancou a produção de uma edição especial com ilustrações cuja renda foi revertida para a comic shop. O álbum What’s Wrong?: Explicit Graphic Interpretations Against Censorship (Qual é o problema?: Interpretações gráficas explícitas contra a censura, em tradução livre), com 160 páginas, continua no catálogo do site Amazon canadense.
Na descrição do álbum no site, os
proprietários afirmam, em defesa de suas importações retidas na
alfândega do Canadá, que “os quadrinhos em questão têm mérito artístico
inquestionável e, portanto, não se encaixam na definição de
obscenidade.”
Via UHQ
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