Por UHQ
Doze volumes da época em que as tiras marcavam forte presença nas bancas brasileiras
Na segunda metade da década de 1970, diversas revistas em quadrinhos apresentando coletâneas de tiras, no formato horizontal, estavam à venda nas bancas brasileiras. Na época, algumas das editoras apostaram suas fichas neste segmento.
A Abril publicou revistas deste gênero com os personagens da Turma da Mônica, diversos títulos da Disney, e ainda edições como As Melhores Piadas do Pinduca, As Melhores Piadas da Arca de Nóe, As Melhores Piadas do Professor Tantã, As Melhores Histórias do Popeye e King Tongo.
Outras editoras também apostaram no formato, como, por exemplo, a Idéia Editorial, que publicouTico e Teca Especial e Don Piloto.
Mas o grande destaque ficou por conta da RGE, com a coleção Quadrinhos de Bolso. Foram 12 edições com 80 páginas cada e algumas das melhores séries da época - a publicação da série teve início em 1976.
Começou com o impagável Hagar, de Dik Browne. Sempre envolvido em confusão, o viking tenta fugir da esposa Helga para comer até não poder mais e ainda "tomar todas", ao lado do atrapalhado amigo Eddie Sortudo, da filha guerreira Honi e do filho poeta Hamlet.
Alguns elementos da série seriam deixados de lado décadas depois, em prol do politicamente correto, quando o filho do criador, Chris Browne, assumiu as tiras no lugar do pai, que faleceu em 1989.
Depois foi a vez do não menos famosoRecruta Zero, de Mort Walker. Toda a turma marca presença nas tiras: o Sargento Tainha, General Dureza, Dentinho, Roque, Cuca, Tenente Escovinha, Tenente Mironga, Platão, Quindim, Capelão e outros que ajudaram a sedimentar o enorme sucesso dessa tira, que soube como poucas brincar com as agruras da vida militar.
O destaque, sem dúvida, fica para o embate entre o "boa vida" Zero e o estressado, nervoso, comilão e passional Sargento Tainha, um dos maiores personagens coadjuvantes dos quadrinhos de todos os tempos - e não só em função de seu tamanho. Dessa estranha relação de amizade e ódio surgem as melhores piadas da edição.
Na sequência, Frank e Ernest, de Bob Thaves. Os dois personagens aparecem em todo tipo de situação imaginável na criação das gags: como vendedores, mendigos, esportistas, turistas, médicos e várias outras atividades, numa tira sutil e inteligente.
A quarta edição apresenta material europeu - é o famoso Asterix, O Gaulês, de René Goscinny (roteiro) e Albert Uderzo (arte). No ano 50 antes de Cristo, toda a Gália está ocupada pelos romanos. Menos uma pequena região que resiste bravamente aos invasores... É lá que estão os divertidos Asterix, seu amigo Obelix e os irredutíveis gauleses que, tomando a poção do druida Panoramix, ficam invencíveis e tem como esportes prediletos caçar javalis e espancar os romanos, não necessariamente nessa ordem.
A HQ desta revista é a mesma publicada no primeiro número da coleção do personagem da editora Record. Na trama, um espião romano tenta descobrir o segredo da força dos gauleses. Para tanto, os homens de César raptam o druida, mas Asterix vai tentar resgatá-lo.
Como os dois são capturados, eles bolam um plano e fazem uma poção para os romanos, que faz os cabelos, barbas e bigodes de seus adversários crescerem sem parar.
Touro Sentado, de Gordon Bess, é o destaque da edição seguinte. O mote dessa tira nada mais é que criar as típicas situações familiares, porém vistas numa aldeia de índios.
Em Versus, Artur é um cara com complexo de inferioridade, com medo da esposa, do cunhado e, em especial, do gigante Sherman, que sempre "pisa" nele - literalmente. Um trabalho que brinca como poucos com o fracasso e mazelas do ser humano. Criação de Jack Wohl.
Já a série Mãe, de Mell Lazarus, traz uma família judia e brinca com o arquétipo da matrona - ela é superprotetora, ciumenta, fofoqueira e tem outras "qualidades", que são levadas ao extremo para criar ótimas gags em meio ao eterno embate entre noras, cunhados, mães e filhos.
Mais material europeu veio com Lucky Luke contra Jesse James, com texto de René Goscinny e arte de Morris. Bem ao estilo do roteirista, o leitor confere divertidas situações enquanto conhece Jesse James, que queria roubar dos ricos para dar aos pobres inspirado em Robin Hood, e acompanha o inusitado embate do vilão e sua quadrilha com o caubói mais rápido que a própria sombra - óbvio que os bandidos vão se dar mal. De quebra, uma biografia de Jesse James no final da edição.
O Mago de ID, criação de sucesso de Brant Parker e Johnny Hart, mostra um rei tirano, sacana e baixinho, a donzela doida para casar, o cavaleiro covarde, um mago trapalhão, um prisioneiro cínico, o bobo da corte sempre bêbado e outros personagens marcantes, em situações politicamente incorretas.
Zezé (Hi and Lois, no original) é outra bem-sucedida criação dos polivalentes Mort Walker (Recruta Zero) e Dik Browne (Hagar). A tira traz piadas referentes ao cotidiano familiar, tema recorrente em centenas de tiras de sucesso criadas nos Estados Unidos. O curioso é que a família da bebê Zezé surgiu primeiro nas tiras do Recruta Zero, para depois ganhar série própria.
A.C. (que no original tem o título de B.C.), de Johnny Hart, mostra os homens da idade da pedra e diversos animais em situações que o autor aproveita para fazer um painel ácido do modo de vida do ser humano.
Finalmente, Iznogud traz o terrível grão-vizir que queria ser califa no lugar do califa. Mas seus planos invariavelmente acabam em enormes desastres. Texto do polivalente René Goscinny, mestre em fazer quadrinhos para todas as idades, com arte de Jean Tabary.
Apesar de antigos, não chega a ser impossível encontrar esses títulos da RGE, uma ode aos bons quadrinhos produzidos na década de 1970. Vale a peregrinação nos sebos e sites de leilão.
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