domingo, 22 de abril de 2012

Pepi Papo: um dos nomes de gibis mais inventivos de todos os tempos

Pestana, Pinduca, Pafúncio e Popeye numa divertida revista em quadrinhos

Pepi Papo
Por Marcelo Naranjo - UHQ
No início da década de 1970, a editora Saber, de São Paulo, colocou diversas revistas em quadrinhos nas bancas.
Em formato livro, em preto e branco, com número de páginas variável - normalmente 96 ou 112 por edição -, a editora publicou títulos como Mandrake, O Fantasma, Mutt e Jeff, Zé - O Soldado Raso e vários outros.
Uma das séries que mais chamou a atenção e deixou saudades foi Pepi Papo, talvez pelo título inusitado ou pela ótima ideia da junção de famosos personagens cômicos numa só revista. Foram dez edições publicadas entre os anos de 1970 e 1972.

O nome Pepi Papo referia-se aos personagens principais da revista - "Pe", de Pestana; "Pi", de Pinduca; "Pa", de Pafúncio; e "Po", de Popeye, todos criações norte-americanas.
Pestana (Hubert, no original), de Dick Wingert, surgiu originalmente como um soldado para fazer graça com os militares, e depois virou um civil no segmento das mais que tradicionais family strips, tiras que brincavam com o cotidiano do ambiente familiar.
O personagem foi criado em 1942, e seu autor cuidou pessoalmente das tiras pelas décadas seguintes, até falecer, em 1994. As gags da fase publicada na revista enfocavam principalmente os problemas enfrentados por Pestana com a sogra, o dia a dia com a esposa e as encrencas no ambiente de trabalho.
Pepi Papo
Pestana também foi chamado de Humberto, no Brasil.
Pinduca (Henry, no original), também chamado por aqui, em épocas passadas, de Carequinha e até Bexiguinha, foi um dos grandes personagens das tiras cômicas. Criado em 1932 por Carl Anderson e publicado no jornalSaturday Evening Post, após dois anos seria contratado para o King Features Syndicate, de William Handolph Hearst. E somente um ano depois já estava nas páginas dominicais, livros e também viraria animação.
Ele não fala (sua boca nunca é desenhada) e atua a partir da pantomima - a arte de narrar com o corpo, que tem em Buster Keaton e Charles Chaplin alguns de seus grandes representantes.
De acordo com o jornalista Antero Leivas, "Pinduca trazia a criança à tona de qualquer adulto e, certamente, tinha plena consciência das mudanças à sua volta. Apenas se recusava (e se recusa) a crescer e, talvez por isso, a razão do seu sucesso" (Pinduca,Coleção Opera King, 2002, Opera Graphica). Sem dúvida, uma HQ que se destaca pelo humor simples e contagiante.
O simpático garoto foi publicado no Brasil em vários jornais e também em edições mensais e especiais por editoras como VecchiEbal e Abril.
Pafúncio (Bringing Up Father, no original) surgiu em 1913, criação de George McManus. Trata-se da história de um casal de novos-ricos - ela, Marocas, sonha em ser aceita pela alta sociedade, enquanto ele quer apenas continuar frequentando os botecos para beber e jogar cartas com os amigos. Outros personagens que apareciam eram a filha Nora e, posteriormente, o filho Sonny, um estudante preguiçoso.
Pepi Papo
"As tentativas de Marocas, a esposa, para educar Pafúncio acerca de sua nova condição social, mais próspera que a antiga, são hilariantes. Ela perde a calma e toma atitudes bem pouco educadas e refinadas, como arremessar impiedosamente a baixela ou a mobília no pobre marido", contam Carlos Patati e Flávio Braga, no Almanaque dos Quadrinhos (2006,Ediouro).
McManus cuidou da série até que veio a falecer, em 1954. Outros artistas assumiram o trabalho, como Vernon Greene, morto em 1965, Frank Fletcher, Hamlet Campana e Bill Kavanagh - a fase publicada na Pepi Papo tem roteiro deste último com arte de Campana e Greene.
De acordo com o pesquisador Maurice Horn, Bringing Up Father foi a primeira tira a desfrutar de fama mundial, tendo sido publicada em forma de livros, traduzida em muitas línguas, adaptada mais de uma vez para o cinema e também para os desenhos animados.
Finalmente, chegamos ao famoso marinheiro Popeye, criação de E. C. Segar. O comedor de espinafre e sua trupe marcam presença - com a eterna namorada Olivia, o encrenqueiro Brutus, o comilão Dudu e o bebê Zezinho (também chamado, no Brasil, de Gugu, Zezé e Procopinho).
O marinheiro surgiu como coadjuvante na série Thimble Theater, em 1929, e logo se torna o personagem principal. As HQs publicadas na revista são criações de Bud Sagendorf, um dos autores que deu continuidade ao trabalho de Segar, sendo considerado o mais fiel ao estilo do original.
De acordo com Goida e André Kleinert, "Bud começou muito jovem como assistente de Elzie Segar na série Popeye. Tornou-se genro também daquele notável criador e acabou como um dos continuadores da história, dividindo a tarefa de criar tiras diárias, páginas dominicais e material paracomic books com Doc Winner, Bill Zaboly e Joe Musial" (Enciclopédia dos Quadrinhos, 2011, L&PM).
Pepi Papo
Popeye já foi publicado no Brasil por diversas editoras, como, por exemplo, AbrilGloboBlochEbal e L&PM - confira outras informações sobre o famoso comedor de espinafre nesta resenha.
Os títulos em quadrinhos da editora Saber adaptavam tiras diárias para revistas em quadrinhos em formatinho. Assim, cada duas tiras viravam seis quadrinhos em uma página. Este expediente também foi utilizado por outras editoras em décadas passadas, como a RGE.
O problema desta adaptação é que algumas histórias aparentemente ficavam sem pé nem cabeça, já que o leitor precisava entender que a cada três ou quatro quadros a trama tinha sua conclusão, ainda que não estivesse escrito "fim", caso de Pinduca e Pafúncio, publicados originalmente como tiras e, em menor escala, de Pestana e de Popeye, que tinham mais quadrinhos antes da conclusão - possivelmente, as HQs publicadas desses personagens saíram originalmente em formato dominical, nos Estados Unidos.
Leitores mais exigentes condenavam essa maneira de publicar quadrinhos, pois ela elimina a proposta original dos autores da série.
Uma curiosidade: a editora fazia propaganda de suas revistas em quadrinhos chamando-as de "livros", por causa do número de páginas e da lombada quadrada.
Dada a grande variedade de títulos em quadrinhos, a Saber marcou época na década de 1970 e, entre erros e acertos, sem dúvida participou de uma fase que deixou saudades. A editora voltou a publicar HQs na década de 1990, com o Recruta Zero e o Fantasma.
Confira outras séries que marcaram época em nossas bancas no Museu dos Quadrinhos.
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