segunda-feira, 2 de abril de 2012

Histórias em quadrinhos facilitam o aprendizado em aula

Por O Norte de Minas 02/04/2012 - 19h05m



As histórias em quadrinhos são lidas por 30% dos leitores do País, segundo a 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada em 2011 e divulgada na última semana pelo Instituto Pró-Livro (IPL). O dado representa um aumento em relação a 2007, quando eram 22%. As HQs ficam à frente até mesmo de textos escolares, de internet e de livros digitais, abaixo apenas de revistas, livros, jornais e livros didáticos em número de leitores.
O estudo tem como base uma amostra da população brasileira com 5 anos ou mais (173 milhões), dos quais 50% (88,2 milhões) são leitores (leram um ou mais livros nos três meses antecedentes à pesquisa). Os números refletem a penetração desse tipo de história em públicos de diversas faixas etárias e sustentam os argumentos de quem defende sua utilização em outros ambientes, como a escola.

Mais utilizados em aulas de português e interpretação, os quadrinhos também podem ser bons instrumentos na hora de transmitir ou revisar o conteúdo de outras áreas do conhecimento, como história, física, matemática e geografia.
-O limite é a criatividade ou a imaginação do professor. Se você quer discutir uma questão de física, por exemplo, pode trabalhar alguma história de super-heróis, explica o coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da Universidade de São Paulo (USP), Waldomiro Vergueiro.
Uma das principais vantagens em trabalhar com HQs em sala de aula é a aproximação do professor com um universo já conhecido pelo aluno, além da dinamização da disciplina. Vergueiro ressalta que os estudantes já estão familiarizados com os quadrinhos, e o custo desse material é relativamente baixo, o que diminui as chances de desinteresse ou rejeição. Mas é preciso planejamento, pois a má aplicação do recurso pode prejudicar o aprendizado e provocar nos alunos até antipatia pelo meio, segundo o especialista.
-O professor tem que se preparar. Existem métodos, técnicas, escolhas, seleção apropriada. São vários aspectos que devem ser considerados, adverte.
Quando todos os requisitos para a boa utilização são satisfeitos, o resultado costuma ser positivo.
-Há um aumento de interesse pelo tema tratado, além de uma ampliação do diálogo em sala de aula, acrescenta Vergueiro.
A professora de história, Magna de Assis, é uma das defensoras da utilização dos quadrinhos e costuma aplicá-los em suas turmas de ensino fundamental. Nas de ensino médio, a professora busca um material mais elaborado, recorrendo a tirinhas da época da ditadura e à famosa obra do humorista argentino Quino, Mafalda.
-Trabalho essas HQs, onde há uma crítica interessante sobre política, para ver se o aluno consegue perceber um contexto histórico-geográfico. Costumo dizer que, se existe humor, só é engraçado para quem compreende, avalia.
O aproveitamento da linguagem ocorre tanto na leitura quanto na produção. Segundo a professora, é a partir dessa atividade que se pode ver o quanto o aluno realmente entendeu sobre o conteúdo.
-Quando ele compreende o processo histórico dos quadrinhos, pode criar usando o conceito e os personagens, opina Magna.
O trabalho desenvolvido por ela tem relação e encontra subsídios em outra disciplina prevista no currículo da escola, a Oficina de Escrita, que propõe exercícios de criação de histórias em quadrinhos.
Para o coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP, a prática completa o ciclo de absorção e produção de conhecimento.
-É importante que o aluno domine os principais elementos da linguagem e consiga se expressar por meio dela, observa Vergueiro.

Ferramenta de ensino para todas as idades
Os pequenos também são fãs das histórias em quadrinhos. A professora Caroline Bezerra Rodrigues, conta que o retorno dos alunos do 2º ano do ensino fundamental é bastante favorável.
-É uma fase em que estão aperfeiçoando a leitura, então é uma maneira mais divertida e prazerosa de fazer isso, analisa.
A professora leva para a sala de aula histórias e tirinhas consagradas, como as da Turma da Mônica e do Menino Maluquinho, adequando-as ao conteúdo curricular.
-Quando vou montar o plano de aula, muitas vezes pesquiso o tema e insiro a tirinha. Mas às vezes acontece de estar folheando o livro, vejo uma história e levo para a turma, conta Caroline.
O aproveitamento das histórias em quadrinhos para fins didáticos não é exclusividade das escolas regulares. Cursos de idiomas também se valem dos recursos para transmitir o conteúdo de maneira mais lúdica e acessível. Para José Celso Barbosa Filho, coordenador didático-pedagógico da rede de franquias Number One (especializada no ensino de inglês), o engajamento do aluno é maior devido à descontração do material.
-O quadrinho, apesar de ser um registro de informação um pouco discriminado no meio acadêmico, permite o aprendizado ao mesmo tempo em que remete ao lazer, entende. Barbosa Filho lista outras possibilidades que foram implantadas pela escola, como a utilização de áudios aliados à leitura das HQs para dinamizar o processo.
A linguagem da história em quadrinhos ainda é adotada em outras publicações, como manuais de instruções e até para a produção de livros-reportagem, como Palestina, do jornalista e quadrinista maltês Joe Sacco. Para o especialista Waldomiro Vergueiro, de maneira geral, costuma-se obter bons resultados, uma vez que o meio consegue transmitir a mensagem com facilidade, independente da idade.
-Há produção de quadrinhos para todos os públicos, garante o especialista.

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