Milo Manara entra na polêmica em torno de Spider-Woman #1, diz que não há nenhum erro de anatomia no desenho e afirma que todo super-herói é uma pessoa nua com o corpo pintado. E, bem, ele tá certo...
Eventualmente, a Marvel tem chamado o mestre dos quadrinhos eróticos, Milo Manara, para desenhar algumas capas da editora. Famoso por suas histórias cheias de sexo, o italiano tem um estilo característico, com amplo espaço para as curvas do corpo feminino e o apelo sexual. É de se esperar, então, que todas as artes do cara tenham isso.
Mas, a cada nova capa para a Casa das Ideias, o debate recomeça. Dessa vez, foi o desenho para uma das capas variantes do gibi da Mulher-Aranha, o novo Spider-Woman #1. Em pouco tempo surgiram os defensores da moral e dos bons costumes por causa da pose da personagem, críticos do estilo e até que corrigisse a anatomia usada por Manara na arte.
Além disso, tem o simples fato de, ao terem convidado Milo Manara, o resultado seria exatamente isso: uma erotização da personagem. Era esperado.
“Há coisas muito mais importantes e sérios para se preocupar. Os fatos em Ferguson, ou drama do Ebola”, cravou Manara em um papo com o site italiano Fumettologica. “O que eu queria fazer era uma ragazza que, depois de escalar uma parede de um arranha-céu, está rastejando no telhado. Ela se encontra na borda, e sua perna direita ainda está fora do telhado. Assim, as críticas de anatomia que foram feitas, eu acho que eles estão errados: não se trata de ter os dois joelhos no telhado. Uma perna ainda está em baixo, e a outra está sendo puxada para cima. Precisamente por esta razão, também, as costas estão arqueadas. Eu tentei fazer isso”.
“Não é minha culpa se as mulheres são assim. Eu faço apenas o design. Não sou eu que as fiz: é um autor muito mais ‘importante’, por exemplo, para aqueles que acreditam… Para os evolucionistas, inclusive eu, por outro lado, os corpos das mulheres tomaram esta forma ao longo dos milênios, a fim de evitar a extinção das espécies, de fato. Se as mulheres fossem feitas exatamente como os homens, com a mesma forma, eu acho que já teríamos sido extintos há muito tempo. Além disso, não considero uma das capas mais eróticas que eu fiz”.
Há ainda outro ponto levantado por Manara: assim como ele não inventou a mulher, ele também não inventou o erotismo nos quadrinhos. “Os super-heróis são assim: eles estão nus, tudo pintado. Superman é nu pintado de azul, o Homem-Aranha é nu pintado de azul e vermelho, e Mulher-Aranha é nua pintada de vermelho. Mas são coisas que fazem parte do ‘truque’, por assim dizer, que os editores de super-heróis usam para criar essas formas de nudez – que eu não vejo nada de errado – mas não há nudez real. Se nós virmos mais tarde, nas histórias, indo além da óbvia, são personagens cujos corpos estão ‘em vista’”.
Ele tem um ponto: desde sempre, HQs são sobre personagens com roupas colantes. Quem conhece o processo de desenho sabe: o artista faz o personagem seguindo os ideais anatômicos e, a partir daí, desenha o uniforme a partir dos traços do próprio corpo. Na prática, é o seu conhecimento prévio que diz que aquilo ali é uma roupa – mas, pela representação gráfica, poderia ser uma pessoa com um corpo pintado.
Os defensores do italiano relembraram a capa de Amazing Spider-Man #30, do segundo volume do gibi, que traz justamente o Homem-Aranha numa pose parecida. A arte é de J. Scott Campbell e foi publicada em 2001. Outro exemplo, esse vindo de 1991, é a capa de Spider-Man #1. Mais uma vez a pose é parecida – e o desenho é assinado por Todd McFarlane, que é cultuado como um dos grandes artistas do Cabeça-de-Teia e que motivava grandes tiragens e vendas naqueles tempos. As duas imagens CORROBORAM com a ideia de quem o defende de que, bem, na época, ninguém falou nada sobre a bundinha do Aranha, sobre a anatomia bizarra dele pendurado na árvore…
Manara se viu no meio de uma discussão muito maior, sobre a representação do corpo feminino na mídia e num momento que as HQs querem atrair o público feminino – inclusive, o gibi Spider-Woman foi feito justamente pra isso, atrair as leitoras. Talvez o erro da Casa das Ideias tenha sido esse: chamar o Manara para fazer uma capa com óbvio foco no público masculino, enquanto eles querem atingir o feminino.
Foi uma enorme cagada da Marvel. Manara não é o problema, nem o culpado. O italiano tem um vasto histórico no campo erótico e histórias que são, digamos assim, deliciosas. Ele apenas foi lá e fez o que é óbvio: uma mulher. “Simplesmente eu sou profissional e faço o meu melhor”, definiu o cara.
A Marvel é que não deveria ter pedido pra ele fazer essa capa, especificamente. Sim, precisamos falar sobre peitos e quadrinhos, mas…
VIA JUDÃO
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