Por Renato - IHQ
Traço – música e desenhos ao vivo é o primeiro evento promovido pela Pulo Comunicação, empresa criada pelas jornalistas e produtoras culturais Helen Murta e Tetê Procópio com a proposta de dar espaço para o trabalho de novos artistas. A curadoria musical abrange estilos, formações e propostas diversas. Rock, dub, ska, afrobeat, música instrumental, eletrônica, punk, grunge e “stoner barroco” são ritmos apresentados por bandas que variam de trios a septetos.
A iniciativa é um trabalho experimental, em que os grupos tocam enquanto os desenhistas criam ilustrações ao vivo, projetadas no telão da casa que recebe os shows, o Stonehenge. Composto por quatro edições, com três apresentações por noite, o festival estreia no dia 8 de agosto, às 21h, e tem encerramento marcado para junho do ano que vem.
Os objetivos vão desde apresentar simplicidade por meio de um som direto ou refletir sobre a sociedade contemporânea até “detonar uma experiência sonora alimentada pela cultura negra e urbana, que faça mexer músculos e cérebros”.
Provocar a imaginação é também o intuito da curadoria de artes visuais. A produção dos autores varia entre quadrinhos, tiras e ilustrações, trabalhos feitos a mão, por meio do computador ou até usando carimbos. O desenvolvimento de desenhos ao vivo, além de reproduzir os estilos e técnicas dos artistas, funciona como a projeção de uma perspectiva diferente de seu trabalho, que pode alcançar novas formas e interpretações na combinação com o som.
O festival Traço – música e desenhos ao vivo possibilita tanto a criação artística quanto a realização de uma performance multimídia, resultado da mistura entre o show da banda, o desenho produzido ao vivo pelo artista gráfico e a projeção em vídeo dessas ilustrações em um telão.
O projeto surgiu a partir da parceria entre os artistas gráficos Jão e Bruno Pirata com a banda de rock Tempo Plástico, com a criação de uma história em quadrinhos ao vivo ao longo do show. Viagens, sonhos, reflexões sobre relações entre as pessoas e interferências do acaso no cotidiano – temas em comum entre as letras da banda e a proposta dos desenhistas – possibilitaram essa experimentação. Entre o real e o imaginário e a partir da coexistência dos dois cenários, o projeto Passaporte – Rock e Quadrinhos ao vivo se consolidou.
O evento que deu origem ao festival foi realizado em novembro de 2013, como programação paralela do Festival Internacional de Quadrinhos.
Confira a programação completa:
Sarah Assis com Quadrinhos Rasos – Sarah é autodidata em acordeom. Foi a primeira brasileira premiada no principal concurso internacional voltado para o instrumento – a Coupe Mondiale de Acordeon. Seu repertório vai da música popular à erudita, usando pedais para experimentações que aproximam seu som do rock. As narrativas gráficas da série online Quadrinhos Rasos, produzida há mais de três anos, são desenvolvidas a partir de letras de música. Os artistas Eduardo Damasceno e Luiz Felipe Garrocho, criadores do projeto, aproveitaram o espaço aberto pela internet para lançar também trabalhos impressos. O mais novo lançamento dos desenhistas, que acontece em setembro de 2014, é Bidu – Caminhos, parte da série Graphic MSP.
Tempo Plástico com Passaporte – Criada em 2006, a banda define seu som atual como power rock. O grupo tem um disco lançado – Fazendo a lata velha voar, de 2013 – e está gravando seu segundo álbum. Já se apresentou em festivais como o BrazilFest (Seattle), o S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L. 4! e o Conexão BH 2013. Jão tem trabalhos em antologias como MSP Novos 50, Imaginários em Quadrinhos e Pequenos Heróis. Editou a revista Peiote, a série Viajante Jão e hoje desenvolve uma série de animação para a Rede Minas. Bruno Pirata construiu um trabalho voltado para estudos de onomatopeias em quadrinhos, que deram origem às narrativas Panis et Circenses e Gustavo. Juntos, criaram o selo Passaporte.
The Junkie Dogs com Cleuber – Clássicos do rock e elementos do trip-hop são algumas das influências para o trabalho autoral da banda The Junkie Dogs, composta por músicos que atuam em diversos projetos, como o coletivo Alcova Libertina. O grupo, que surgiu em 2008, acaba de finalizar seu primeiro disco. Cleuber começou sua produção nos zines feitos em xerox ainda na década de 1990. Criou a série Arroz Integral, publicada em jornais brasileiros, coletâneas nacionais e francesas. Representa, em seus personagens, os obstáculos e ideais no cotidiano de uma banda independente.
Desorquestra com Ricardo Tokumoto – Ska, surf music, reggae e rock se misturam para dar origem ao som da banda mineira Desorquestra, a partir da combinação de guitarras, baixo e bateria com instrumentos de sopro. Em 2012, o grupo lançou seu primeiro CD, disco que leva o mesmo nome da banda, composto por 13 músicas autorais. Ricardo Tokumoto, desde 2007, conquista leitores do Brasil e de fora do país com suas tiras do site Ryotiras. Publicou, em 2011, o livro Ovelha Negra e reuniu seu trabalho da web no álbum impresso Ryotiras Omnibus no ano seguinte.
Os Marrones com Daniel de Carvalho – A banda foi criada em 2012 para homenagear o quarteto de Nova York que protagonizou a história do punk rock mundial. Os Marrones, anagrama de Os Ramones, apresentam ao público do século XXI os clássicos que marcaram a carreira do grupo. Daniel de Carvalho publicou histórias em quadrinhos nas antologias independentes Totem e Peiote. Em 2011, lançou seu primeiro trabalho solo, a revista Garoto Silver Tape. Atualmente, edita seus trabalhos pelo selo Maritaca.
Fodastic Brenfers com Luciano Irrthum – Criada há um ano, a banda reúne músicos de grupos como Fadarobocoptubarão, 4Instrumental e Grupo Porco de Grindcore Interpretativo. O som é definido pelos integrantes como “stoner barroco”, com influências de blues, rock psicodélico e composições em português. O primeiro disco acaba de ser finalizado. Irrthum faz histórias expressionistas que remetem aos sonhos, encontrando beleza em temas violentos e mórbidos. Criou, em 2009, uma adaptação em quadrinhos para o conto O Corvo, de Edgar Allan Poe (Peirópolis), além de lançar o livro A Comadre do Zé (Graffiti 76% Quadrinhos). Atua também nas áreas de animação, pintura e escultura.
Mentol com Flávio Gatti e Hugo Rezende – Criada em 2007, a Mentol se consolidou com repertório de artistas como Jimi Hendrix, Stevie Ray Vaughan e Cream. Em seguida, o grupo optou pelo caminho autoral, que deu origem ao seu primeiro EP, lançado em 2013, com músicas em português. O trio está produzindo seu segundo trabalho. Flávio Gatti publicou uma coleção de cards pela editora Marvel Comics e já deu aulas de desenho na Casa dos Quadrinhos. Hugo Rezende se formou em Cinema de Animação e hoje trabalha como ilustrador. Eles se encontraram nos corredores da Escola de Belas Artes da UFMG e formaram a banda Os Marrones.
Paquiderme Escarlate com Matheus Ferreira – Com trabalho autoral e cancioneiro, a banda surgiu em 2011. As principais marcas do grupo são a atuação de três compositores – que revezam instrumentos e vocais entre si – e o humor. Em 2013, saiu o primeiro registro do grupo, O Incrível Espécime que se Alimenta de Harmonias. O lançamento do segundo disco da banda é em agosto. Matheus Ferreira é graduado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG. Desenvolve pesquisas a respeito do universo das imagens e das publicações independentes. Participou de produções como a revista Refil e a experimental Nuvem, tendo coordenado uma das edições.
Electrophone com Bel Pozes – Shows, performances, trilhas sonoras e conteúdo audiovisual fazem parte dos trabalhos do grupo Electrophone, que surgiu em 2009. A partir do improviso e da experimentação, a banda constrói camadas de signos sonoros que refletem estudos dos integrantes sobre linguagens musicais diversas. Bel Pozes saiu de sua cidade natal no interior mineiro para desenvolver seu trabalho artístico na Escola de Belas Artes da UFMG, onde transitou em habilitações como Desenho e Cinema de Animação. Hoje, trabalha como ilustradora e colorista.
Madame Rrose Sélavy com Bi Anca – Madame Rrose Sélavy surgiu em 2009 a partir de vários estudos com o punk, a música eletrônica e experimental. Com experiência em outras áreas culturais, a banda leva o nome de uma das obras do artista Marcel Duchamp. Em 2014, o grupo lançou seu oitavo álbum, Bossa Punk. Bi Anca iniciou seu trabalho com quadrinhos por meio de tiras e histórias pornográficas lançadas na página Anna Bolenna – A perturbada da corte. Em cerca de um ano, conquistou mais de 40 mil curtidas. Hoje, experimenta possibilidades narrativas unindo poemas a desenhos.
Ram com Luiz vs Zé – Ram se inspira em elementos do blues-rock, folk, soul, free-jazz e kraut para criar suas músicas. Em 2011, lançou seu álbum de estreia, intitulado Orange Orgio Orbis. Produzido de forma independente, o disco conta com a participação de 12 músicos. Os estilos semelhantes de Luiz Moreira e José Lara fazem com que uma criação em dupla se torne uma obra homogênea. Temas como libertinagem, devassidão e extravagância servem como inspiração para Luiz vs Zé, que traz críticas à cidade e às pessoas usando um traço em preto e branco.
Coletivo Dinamite com Bruno Rios – Coletivo Dinamite surgiu em 2006 depois de muitas jam sessions e experimentações. A banda faz música autoral, a partir de improvisações e manifestações da cultura negra e urbana, criando um som em que estilos como soul, reggae, rap, rock, afrobeat, dub e funk são revisitados e reapropriados. Circulando pelas galerias de Belo Horizonte, Bruno Rios explora novos territórios na arte contemporânea, ao mesmo tempo em que se utiliza de técnicas tradicionais, como desenho ou pintura. Já expôs seus trabalhos no Palácio das Artes e no 11º SPA das Artes, em Recife.
Primeira edição do festival Traço – música e desenhos ao vivo
Local: Stonehenge – Rua dos Tupis, 1448, Barro Preto
Apresentações: Sarah Assis com Quadrinhos Rasos
Tempo Plástico com Passaporte
The Junkie Dogs com Cleuber
Abertura da casa: 21h
Ingressos: R$20,00 (preço único)
Informações para o público: 3271-3476 / 9247-2020 / 9281-5239
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