

Premiado em salões de humor no Brasil e no exterior, Luiz aponta a regionalização dos quadrinhos como uma grande oportunidade para o setor na Bahia. “O baiano se notabilizou pela inquietude. É ver o que as pessoas estão fazendo e trazer para cá do nosso jeito. Foi o que João Gilberto fez com o jazz, Glauber Rocha com a Nouvelle Vague e Gil e Caetano com o Tropicalismo”, diz.
E se para Aú ele buscou referências em uma aldeia gaulesa; para O Cabra, vencedor do prêmio HQMix de melhor publicação independente de autor, Luiz teve inspiração de outros planetas. “Eu misturei o cangaço com a ficção científica. Star Wars (Guerra nas Estrelas) mesmo nada mais é do que samurais transportados para a ficção”. O Cabra conta a história
de um cangaceiro em um futuro distante. Além de buscar referências criativas para escrever as histórias em outros países, o cartunista também coleciona inspirações de marketing para saber como vendê-las.
Ao observar o cenário europeu, Luiz teve a ideia, em 2008, de criar um hotsite para Aú. “Percebi que os europeus faziam muito isso”. Foi através do site que o livro foi descoberto por um linguista da Universidade de São Paulo, que o indicou à Secretaria de Educação do estado. Luiz também é a mente criativa por trás dos quadrinhos Jayne Mastodonte e Rota 66, publicados originalmente no antigo Correio da Bahia. Ele ainda foi ilustrador do extinto jornal Bahia Hoje e da agência Africa.
[B+] – Antes de trabalhar com quadrinhos você se formou em administração?

Como conseguiu dinheiro para o lançamento do primeiro Aú?
Tive a sorte de conseguir um mecenas que bancou todo o projeto. Esse patrocínio me permitiu lançar em cinco capitais: São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador. Na época, um linguista da USP visitou o site do Aú e o recomendou por
ser um personagem brasileiro, de raiz africana. A Secretaria de Educação de São Paulo colocou na lista de indicações para as escolas. Tive uma vendagem tão boa que estou terminando a terceira edição do Aú.
Você chegou a abordar as secretarias de Educação de Salvador e da Bahia, certo?
Sim. Gostaria muito que a prefeitura de Salvador adotasse (o livro nas escolas) também, porque é um livro formador de leitor. É um personagem positivo, que mostra um baiano que não é preguiçoso, é trabalhador. Ele fala com gírias da Bahia, com sotaque. Aú tem muito o estilo do Asterix. É um herói que em vez de estar em uma aldeia da Bélgica, está no Pelourinho. Estamos carentes de histórias assim, que atendam o público infantojuvenil ou a todos os públicos.

Tirinha retirada do livro Aú, o capoeirista, e o fantasma do farol
Como foi o levantamento de recursos para o segundo capítulo do livro?
Não tive uma editora interessada em publicar o Aú 2. Fui buscar no crowdfunding (uma espécie de vaquinha online). O quadrinista independente é um doido que acredita que as coisas vão dar certo. E deram certo. Mas como foi muito caro, pode não ter sido o ideal. O crowdfunding funciona melhor com valores menores. E as pessoas não entendiam que era uma compra antecipada. Fazia também storyboard para um filme ou uma peça publicitária, e o valor que seria para mim, eles jogavam no projeto.
Como você avalia o atual mercado de quadrinhos no Brasil e na Bahia?
Recebi muitas críticas quando lancei Aú pelo valor (R$ 40*). Fui um dos primeiros, em 2008, a tentar publicações com capa dura, com qualidade semelhante à europeia. Agora, as livrarias já vendem quadrinhos aqui em São Paulo que custam R$ 200. O Cabra está vendendo bastante por aqui, tanto que estou planejando o segundo. Em Salvador, acho que falta uma circulação maior de artistas.
“O baiano se notabilizou pela inquietude. É ver o que as pessoas estão fazendo e trazer para cá do nosso jeito” – Flávio Luiz
Antes de as livrarias brasileiras começarem a vender livros de quadrinhos mais caros, Aú teve boas vendas. Como isso foi possível?
Junto do Aú lancei o hotsite do livro. Na Europa, todos já tinham seus hotsites, que é uma propaganda animada do livro. Hoje, vemos muita gente seguindo esse exemplo, mas fui um dos primeiros a fazer isso aqui. O baiano se notabilizou pela inquietude. É ver o que as pessoas estão fazendo e trazer para cá do nosso jeito. Foi o que João Gilberto fez com o jazz, Glauber Rocha com a Nouvelle Vague e Gil e Caetano com o Tropicalismo. Viram lá fora e disseram “pô, legal, vamos fazer também”.
O que os novos quadrinistas podem fazer para conquistar leitores?

E como eles podem se destacar?
A cultura brasileira é rica! A gente tem que buscar essas referências e bater no liquidificador. Tive a ideia de fazer o cangaceiro. Mas pensei “por que colocar ele de novo no início do século?”. Eu misturei o cangaço com a ficção científica e coloquei o cangaceiro na falta d’água. O Star Wars mesmo nada mais é do que samurais transportados para a ficção. Aí, você faz o mashup, joga tudo no liquidificador e vê qual o sabor.
Matéria publicada na edição 29 da Revista [B+]
Via B+
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