domingo, 17 de maio de 2015

Cotidiano ilustrado

Lorena Kaz não é o tipo de garota que se pode definir em uma palavra, e caso fosse necessário, eu diria híbrida. “Lokáz” é personagem de muitas referências e dá nome ao blog que Lorena volta a alimentar com suas tirinhas autobiográficas nesta semana.
Quando criança, respondia à clássica “O que você vai ser quando crescer” com o título de “entomóloga”. E se atualmente não ilustra besouros ou borboletas, desenha histórias que muito conversam com o cotidiano feminino. Sua formação, que passa por um diploma de designer de produto na PUC-Rio e alguns cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, transcende os meios formais e viaja pelo mundo. No Equador, assistiu a uma artista plástica, enquanto na Índia, trabalhou em uma fábrica de joias. Lorena seguiu pelos Estados Unidos, Espanha, Sérvia, até que voltou para o aconchego do Rio e passou a trabalhar com o próprio pai na GPS Direção Gráfica, onde desenhava capas para a indústria fonográfica. Uma coletânea do Mamonas Assassinas e uma box do Raul Seixas estão entre os projetos favoritos desse tempo.

“Lókaz”, entretanto, tem trajetória recente, nasceu em território espanhol preenchendo um blog sobre os tais assuntos cotidianos. Algum tempo depois, cedeu espaço para uma série de tirinhas chamada “Em Busca do Homem Perfeito”, fruto de um desamor. Até que o também ilustrador Ota que durante 34 anos foi editor da revista MAD Brasil e ídolo de infância da moça – as descobriu para logo questionar: “Mas que raiva toda é essa dos homens, menina?”. Pronto, dali nascia uma nova história de amor. Até o Dia dos Namorados, Lorena lança seu primeiro livro de quadrinhos em parceria com Ota. É em “Carametade” que continuam a “discutir a relação” em forma de desenho <3.
Mas os projetos não acabam por aí. Ela também lança em maio “O Museu da Emília” de Monteiro Lobato, seu primeiro livro como ilustradora e divide com o atual namorado, Salvador, uma porção de sonhos em andamento. Sobretudo, Lorena faz campanha para um mundo onde mais mulheres se dediquem aos quadrinhos. O momento é favorável: o mercado está se abrindo para o sexo feminino e a internet é uma plataforma de divulgação excelente. Para criar seu próprio espaço, Lorena produzia de forma independente seus próprios zines, e quando decidiu que precisava ser ilustradora mais do que qualquer outra coisa, fez o que chama de “a parte mais chata”.

Ela recomenda montar um portifólio e enviá-lo para todo tipo de publicação pedindo para se apresentar pessoalmente. Como a maior parte das redações está em São Paulo, é importante tirar uma semana na cidade batendo de porta em porta e comparecendo em cada encontro agendado com o tal portifólio debaixo do braço. “Publicar pela primeira vez faz toda diferença”, garante. É importante entender que o mercado de ilustração possivelmente tem mais oferta do que demanda, mas bons desenhos costumam ser sempre reconhecidos.

Mas ser freela não é para qualquer um. Em sua última viagem, fez um curso de ilustração na School of Visual Arts em NYC (e até criou um álbum de tirinhas pra ilustrar a viagem!); quando voltou, tirou uma ótima lição: já não tinha mais clientes. Este é um mercado onde é preciso se fazer presente, sempre atualizando seus editores com a sua produção mais recente. Saber dialogar seu desenho com diferentes assuntos também é importante. Lorena tem trabalhos publicados em desde a revista Recreio até artigos científicos de botânica (olha aí a entomologia!). No entanto, há também o bônus. Lorena é passarinho, não nasceu para viver em escritório, e confirma: a liberdade vale a pena. Enquanto isso, a gente torce por um mundo com mais Lorenas, Maitenas e Chiquinhas por aí.

Via BUREAU DE ESTILO

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