quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Heróis de olhos gigantes

Por Diário do Pará
 

As histórias em quadrinhos têm super-heróis com poderes capazes de combater o mal. No final da aventura, o mocinho se dá bem e o bondade sempre vence. Mas no mundo dos quadrinhos orientais não funciona bem assim. Vindo de uma tradição secular, os mangás despontaram pelo planeta em meados da década de 1970, e se tornaram a maior indústria de quadrinhos do mundo. Só no Brasil, são vendidos mais de 420 mil exemplares ao ano. Em 2011, o mangá mais popular alcançou a cifra de 180 milhões de cópias vendidas, número digno de um fenômeno do entretenimento. Nada mal para uma vertente de HQ que vai contra o american way of life ao qual os leitores estavam acostumados, e aposta em ilustrações mais artísticas, com menos cor, e histórias que, muitas vezes, passam longe do politicamente correto. “Os personagens são muito mais humanizados, mais realistas, diferentes dos americanos, que são idealizados.
Nos mangás, eles erram, são meio anti-heróis. Têm conflitos densos, usam drogas, tomam decisões egoístas. Então acompanhar a história deles é vê-los crescer também como pessoa, amadurecer. Esse tipo de narrativa aproxima os personagens do nosso mundo, mesmo que eles venham do Japão, e a gente os leia aqui em Belém”. As palavras da estudante de ciências sociais Camila Sousa, 20 anos, parecem sintetizar um dos segredos do sucesso do quadrinho oriental no ocidente. Assim como quase todos de sua geração, o contato com os mangás veio a reboque de outra febre: os animes.
Quem foi moleque em meados da década de 80 para os anos 90, não escapou aos desenhos barulhentos, com muita luta e cheio de personagens de olhos bem arregalados. Os animes invadiram a tela da tevê aberta brasileira e popularizaram os heróis japoneses. Porta aberta para o universo que é a cultura pop oriental. “Desde criança eu acompanhava animes como Pokémon e Dragon Ball na televisão aberta”, diz Rafael Cabral, 19 anos, estudante de arquitetura.
Em Belém, blog se tornou reduto de fãs

“Eu comprava revistas como a Ultra Jovem e a Neo Tokyo para saber das novidades dos mangás e animes, colecionava pôsteres”, lembra Rafael. “Já adolescente o meu interesse foi aumentando e eu fui procurando conhecer cada vez mais esse universo, até descobrir que aqui eram realizados eventos voltados à cultura pop oriental. Hoje eu escuto música pop coreana, assisto animes, frequento eventos, faço cosplay e me considero um otaku (fã)”, diz Rafael Cabral, 19 anos, estudante de arquitetura, que, ao lado de Camila e Michelle Barreto, administra o blog belemotaku.blogspot.com. Dedicado à cultura pop oriental, o blog surgiu em 2010. Além de colunas e notícias, o blog disponibiliza a agenda e a cobertura de eventos que abordam temas como anime, mangá e cosplay – quando fãs se fantasiam como os personagens. Entre as principais programações realizadas em Belém, estão o Animazon Connection e o Otaku No Matsuri, que acontecem anualmente.
“Quando perdi um desses eventos, fui procurar saber quando haveria outro, mas não achava informação alguma. Aí veio a ideia de criar um blog para eu mesmo fazer a divulgação de eventos voltados à cultura pop oriental. Michelle me ofereceu ajuda com o design do blog e com conteúdo e a Camila entrou para falar sobre moda urbana japonesa. Hoje temos colaboradores que postam sobre outros assuntos como cinema, doramas (novelas japonesas), j-rock e etc”, explica Rafael, que contabiliza uma média de 150 acessos diários no site.
Toda essa movimentação revela uma cena efervescente na cidade voltada para o consumo do chamado entretenimento nerd, que cresce impulsionado pela internet. “Se trata de uma onda que chegou a vários lugares, e Belém não é uma exceção. Somado a isso a grande influência da colônia japonesa que existe no Pará, tornando tudo mais fácil, amenizando os possíveis estranhamentos com o choque de culturas diferentes”, defende Sérgio Leite, fã de mangá que fez dessa paixão um negócio, e abriu a primeira loja de Belém voltada para os entusiastas dos quadrinhos orientais, que já encontra leitores de todas as idades.
Segmentada em centenas de estilos, tem mangá para todos os gostos. Entre os temas abordados nas páginas lidas de trás para frente, desde os mais palatáveis, como comédias românticas, aventuras com lutas sangrentas, ciborgues e ficção científica, aos enredos impróprios para menores de 18 anos: as histórias de erotismo e sexo explícito. “Com o mercado do mangá consolidado, e sendo atualmente maior que a indústria de quadrinhos americana, a cultura oriental tem facilidade para penetrar em qualquer mercado no mundo, difundindo costumes, moda, música e estilo de vida”, conclui Sérgio.
Mestre dos mangás
O termo mangá é uma junção de duas palavras japonesas: manketsu (conto ou história) e fáshiko (ilustração). Sua origem data ainda do começo do século 18, onde as histórias eram escritas em rolos de papel e ilustradas. Mas iria demorar para que o mangá se tornasse o que conhecemos hoje. O pulo do gato dessa trajetória tem nome e sobrenome: Ossamu Tezuka. Em meados dos anos 40, o desenhista japonês trouxe influências dos traços de Walt Disney e de Max Fleischer, criador de sucessos como Betty Boop e Popey, e modernizou o mangá: boca, sobrancelhas, nariz e, sobretudo, olhos passam a ser desenhados de maneira exagerada para aumentar a expressividade dos personagens. Bingo. O próximo passo foi dar vida dos quadrinhos. Em 1963, Tezuka produz através de seu próprio estúdio a primeira série de animação para a televisão japonesa: vindo dos mangás, o Astro Boy ganha o mundo em anime. Foi Tezuka quem também começou a explorar diferentes gêneros — na sua maioria, os mangás tinham como público-alvo as crianças e jovens —, trabalhando na criação de mangás para adultos nos anos 60. Seu estilo influenciou artistas em escala global. No Brasil, o cartunista Mauricio de Sousa, inconfundível criador da Turma da Mônica, acaba de anunciar que vai unir seus personagens aos do pai do mangá. Mauricio e Tezuka ficaram amigos nos anos 1980 e se encontraram algumas vezes no Brasil e no Japão. Foi quando imaginaram a colaboração. A família do japonês deu seguimento à ideia, que junta personagens clássicos de Tezuka, como Astro Boy, Kimba, o Leão Branco, com Mônica, Cebola, Cascão e Magali. Eles vivem uma aventura em defesa da Amazônia. O resultado sai ainda este ano, na revista “Turma da Mônica Jovem 43”.
MANGÁ PARA QUE TE QUERO
Os mangás se enquadram em uma categoria específica, de acordo com o tema e com o seu público-alvo:

Shounen: Dirigidos para o público masculino, tratam normalmente de histórias de ação, amizade e aventura, como Dragon Ball, Naruto e One Piece.
Shoujo: Abordam temáticas femininas: Sakura Card Captor, Lovely Complex e Onegai Teacher.
Tokusatsu: Significa “filme de efeitos especiais”. Exemplos: Power Rangers e Ultraman.
Gekigá: Corrente mais realista voltada ao público adulto, como, por exemplo, o mangá Lobo Solitário.
Hentai: Significa pervertido. Anime pornográfico. Entre os de maior sucesso atualmente, a Futari H, a comédia erótica mais vendida do mundo.
Yuri: Histórias que abordam a relação homossexual feminina.
Yaoi: Ou “Boys Love”, tratam da relação amorosa entre homens.

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