Por Édnei Pedroso - O Café
Um vilão que pretende dominar tudo o que vê e possui o necessário para isso (é só ver o que o personagem andou aloprando nas HQs, nos últimos tempos) é Norman Orborn, o Duende Verde do primeiro Homem-Aranha. Graças a um acidente de laboratório que o deixou com uma força descomunal e complemanete pirado, Osborn começa aos poucos: primeiro eliminando seus sócios, depois desenvolvendo armas interessantes para o governo, e mais tarde aterrorizando o melhor amigo do próprio filho. Na pele do ator Willem Dafoe, o Duende Verde apronta mil e uma confusões para começar sua ascensão ao mundo do crime e não duvido que – num segundo momento e pelos canais burocráticos – ele teria conseguido fazer barulho a nível mundial, se não fosse um certo cabeça de teia. O Norman do cinema merece destaque, não por seu uniforme de tokusatsu, mas por Dafoe ser uma das melhores coisas no filme do diretor Sam Raimi, e protagonizar algumas cenas realmente brilhantes (como a cena abaixo, onde o ator interpreta dois papéis ao mesmo tempo, no mesmo take). Sensacional.
OS VILÕES
Se existe algo em que o cinema – de super-herói ou não – é especialista, é em fabricar vilões. Desde o cinema mudo, quando o antagonista ostentava um fino bigode para encarnar o mal, a sétima arte vem refinando personagens e suas capacidades de fazer o que há de pior na mente humana (ou alienígena, ou divina, ou robótica, ou…ah, enfim). Basta dar uma pequena olhada na galeria de vilões dos inúmeros filmes de terror que fizeram a febre e a carnificina nos acampamentos de adolescentes dos Anos 80para ver que a vilania e o cinema andam de mãos dadas.
E se um personagem presumivelmente “humano” como Hannibal Lecter dá arrepio até em esquimós, é nos filmes de super-heróis que os vilões ganham ares de “semideuses” e a capacidade de propagar sua maldade em escala global. Assim como nas HQs, os vilões das adaptações possuem objetivos bem definidos e, analisando suas motivações, podemos dividi-los em duas vertentes:
- Os que almejam o poder supremo;
- Os que existem exclusivamente para confrontar o herói.
É claro que o olhar torpe do vilão pode ver o poder supremo de várias maneiras: para Wilson Fisk, o Rei do Crime do duvidoso filme Demolidor – O Homem sem Medo, tal poder se resume a ser o Chefão do Crime em Nova York e manter este status. Se analisarmos friamente, esse objetivo não é nada que um mafioso de qualquer outro filme não tente, mas para Fisk manter seu império, ele terá de se livrar de um homem cego com sentidos absurdamente ampliados e que se veste de diabo. O Rei do Crime dos quadrinhos é sobre-humano em sua força e tamanho, e tem ambições maiores que a sua contraparte das telas (que é somente um homem normal bastante musculoso). Além disso, há o fato curioso do diretor Mark Steven Johnson (ou do estúdio, não se sabe ao certo) ter optado por um Wilson Fisk negro (Michael Clarke Duncan, que já provou ser bom ator em À Espera de um Milagre) para interpretar um personagem reconhecidamente branco e careca. Quase uma piada pronta.
Um vilão que pretende dominar tudo o que vê e possui o necessário para isso (é só ver o que o personagem andou aloprando nas HQs, nos últimos tempos) é Norman Orborn, o Duende Verde do primeiro Homem-Aranha. Graças a um acidente de laboratório que o deixou com uma força descomunal e complemanete pirado, Osborn começa aos poucos: primeiro eliminando seus sócios, depois desenvolvendo armas interessantes para o governo, e mais tarde aterrorizando o melhor amigo do próprio filho. Na pele do ator Willem Dafoe, o Duende Verde apronta mil e uma confusões para começar sua ascensão ao mundo do crime e não duvido que – num segundo momento e pelos canais burocráticos – ele teria conseguido fazer barulho a nível mundial, se não fosse um certo cabeça de teia. O Norman do cinema merece destaque, não por seu uniforme de tokusatsu, mas por Dafoe ser uma das melhores coisas no filme do diretor Sam Raimi, e protagonizar algumas cenas realmente brilhantes (como a cena abaixo, onde o ator interpreta dois papéis ao mesmo tempo, no mesmo take). Sensacional.
Por sua vez, os vilões do Homem-Morcego normalmente pertencem ao time dos antagonistas crônicos, e tanto nas HQs, quanto nos filmes, é comum que personagens como a Mulher-Gato ou o Coringarealizem suas ações em torno da existência do próprio Batman. Na banda desenhada, a vilã que curte felinos é uma ladra sofisticada e, inclusive, atua como “heroína” em algumas histórias (é mania dos autores de “jogar bandidos para o lado do bem”, que tomou conta dos quadrinhos nestes últimos dez anos), porém, em Batman – O Retorno, a Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer (que tem o melhor uniforme feminino de todos os tempos e nenhum homem de verdade ousaria dizer o contrário) é esquizofrênica, alucinada e motivada em seduzir e destruir Batman (tanto que ela não pára de atazanar a vida do herói, mesmo depois de ter executado sua vingança contra o ex-patrão Max Shreck). Em 2004, a personagem resolveu seguir – no cinema – um caminho parecido com a versão heróica das HQs: surgia Mulher-Gato, filme dirigido por um ser chamado Pitof, e que contou com a bela Halle Berry no papel título. O filme é tão odioso que ambos, diretor e atriz, ganharam Framboesa de Ouro pelos seus trabalhos.
Não há como falar de vilões sem falar, é claro, do Coringa. Muito antes de Heath Ledger imortalizar uma atuação magnífica do personagem em Batman – Cavaleiro das Trevas, o palhaço do crime já era o nêmesis por excelência (em HQs cultuadas como A Piada Mortal, A Morte de Robin ou Batman – O Cavaleiro das Trevas, há evidências claras de que o Coringa não existe sem o Batman, e vice versa). Esta alusão dos quadrinhos foi levada aos cinemas por Tim Burtom em seu primeiro Batman, ao colocar o homem-morcego como o causador do acidente que desfigurou o criminoso e – antes disso – delegar ao vilão o manto de assassino da Família Wayne. É claro que, nas histórias clássicas do Batman, nada disso aconteceu, mas a relação cármica dos dois personagens se manteve, e se mantém até hoje, já que é citado – nos filmes dirigidos por Christopher Nolan – que o Coringa de Ledger é um efeito colateral de se ter um vigilante vestido de morcego.
Podemos ver um ótimo exemplo de vilão que levou o conceito de antagonista até ás últimas conseqüências em Corpo Fechado, do diretor M. Night Shyamalan. O indiano entregou aos fãs do gênero uma verdadeira pérola em forma de filme, ao contar a história de David Dunne (Bruce Willis), único sobrevivente de um desastre de trem que, após conhecer o enigmático Elijah Price (Samuel L. Jackson), começa a suspeitar que possui super poderes. Além de contar com o assombroso clima de suspense, o filme explora o universo dos super-heróis com uma abordagem bastante incomum e várias referências às HQs (o próprio Price é um colecionador aficcionado). Falar mais seria estragar o prazer de assistir esse filmão, se bem que, se você ainda não assistiu Corpo Fechado, talvez não mereça tanta consideração…=P
E há aqueles vilões que andam no limiar das duas vertentes: numa versão, ele quer poder, na outra, quer vingança; é uma questão de abordagem e no caso de Lex Luthor, a TV conseguiu a façanha de entregar uma versão do vilão melhor do que DUAS versões cinematográficas juntas. Na primeira versão, da quadrilogia clássica do Superman protagonizada por Christopher Reeve, tínhamos um Lex Luthor bonachão excêntrico, que vivia de golpes e usava peruca; era uma versão fraca, mesmo com Gene Hackman no papel, e estava muito distante do gênio criminoso que era o Luthor dos quadrinhos. Na segunda tentativa, com Bryan Singer na direção, temos o competente Kevin Spacey na pele do vilão, e seu comportamento é praticamente o mesmo da versão anterior: mais megalomaníaco, é verdade, porém o mesmo golpista, fanfarrão, e irreverente nos piores momentos. Seu plano do mal era criar um novo continente feito de Kriptonita…e agora me digam: QUE RAIO DE PLANO É ESSE???
Eis que o seriado Smallville faz a única coisa que realmente se aproveitou em 10 anos de programa: salvar a reputação do arquiinimigo do Super-Homem. O Lex Luthor da série, interpretado pelo ótimoMichael Rosenbaum, é um homem ambicioso, obstinado, com um milhão de traumas e um pai tão maquiavélico que faria Darth Vader falar fino. Sua relação com Clark Kent (Tom Welling) começa em um salvamento impossível engendrado pelo futuro Super-Homem, e é justamente este acidente de carro que faz com que Lex fique obcecado pelo fazendeiro (olha a relação cármica de novo). É óbvio que um seriado tem muito mais possibilidades (e tempo) para dissecar e expandir um personagem do que as duas horas de um filme, mas o trabalho feito no jovem Lex Luthor praticamente apaga qualquer lembrança das suas cópias cinematográficas.
Desejosos de vingança ou apenas tiranos que querem dominar o mundo, o vilão no cinema compõe o elemento principal para a existência de qualquer super-herói, afinal, ele é o próprio obstáculo narrativo do gênero, recurso este que é primordial e inerente em qualquer filme.
E quem, hoje em dia, não gosta de um bom vilão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário