Por Édnei Pedroso - O Café
AS MOCINHAS
Paixões avassaladoras, amores platônicos ou meras decorações, as chamadas “mocinhas” (como diria meu avô, leitor de Mandrake) ou “namoradas dos super-heróis“ sempre dão o que falar nas histórias em quadrinhos e é claro que, no cinema, isso não seria diferente. O curioso é que as mulheres que tiram o sossego dos nossos heróis quase nunca são, de fato, suas namoradas, mas a expressão é tão difundida na cultura popular quando nos referimos às mesmas que o termo acaba pegando até nas cruzadinhas de jornal (ou você não crê que a namorada do Super-Homem com 8 letras é “loislane”, mesmo sabendo que a moça cozinhou o Homem de Aço em banho-maria por anos até aceitar seu pedido de casamento?). E se “interesse romântico” fica muito formal, usemos “namoradas” mesmo, certo?
Para começar, nada melhor do que listar uma mocinha que também demorou HOR-RO-RES para virar namorada. Mary Jane Watson, a ruiva mais confirmada da Marvel, sempre foi a melhor amiga de Peter Parker/Homem-Aranha e namorada do melhor amigo do sujeito nos gibis, e demorou mais de 20 anos de edições (e uma lista generosa de namoradas e tragédias) para que o romance entre ela e o Aranhafinalmente engrenasse. Além de descolada, a moça fazia as vezes de atriz do Brooklin até tornar-se uma famosa modelo, sendo sempre retratada como uma mulher voluptuosa de longos cabelos vermelhos. Não se sabe ao certo onde foi parar aquela MJ altamente pegável dos quadrinhos (e do desenho acima), mas os cinéfilos tiveram de se contentar com a bonitinha-mas-jamais-gostosa Kirsten Dunst no papel da moça, em uma adaptação onde a licença poética limou Gwen Stacy (o grande amor de Parker nas HQs, morta em um confronto do aracnídeo com o Duende Verde) dos primeiros filmes e jogou a ruiva como a “musa inalcançável” do Homem-Aranha. Sob este aspecto, podemos dar graças a Crom por estar vindo um novo reboot do herói, trazendo uma MJ novinha em folha.
Pior que as namoradas que não são namoradas, só aquelas que podem te matar. Matt Murdock, oDemolidor, é um dos campeões quando o assunto é relacionamento problemático: suas namoradas – nos quadrinhos – ou são mortas, ou se tornam suas inimigas mortais. Elektra Natchios conseguiu a façanha de ser as duas coisas, sendo que em Demolidor – O Homem Sem Medo, a personagem vivida por Jennifer Garner bate as botas, ganhando uma aventura solo pavorosa em 2005 (Elektra) onde fazia o caminho de volta e aprontava todas num clima de azaração total, mas sem o herói.
Mocinhas difíceis tem em todo lugar, mas às vezes, elas não são o problema, e há aquele super-herói que é a própria encarnação da palavra “problemático”, que coleciona interesses românticos, mas não fica com ninguém. Quem apostou no Batman, pode pegar seu dinheiro na Mansão Wayne, um lugar onde o romantismo nunca existiu e o mais próximo de uma mocinha a pisar por lá responde pela alcunha de Robin. Brincadeiras a parte, nos filmes do homem-morcego, as mocinhas são uma miscelânea de interesses românticos inacabados (alguns sequer começam, e servem apenas de disfarce para Bruce Wayne parecer um multimilionário normal). Vai de Vicki Vale (Kim Basinger emBatman – O Filme) a Mulher-Gato , de Chase Meridian (Nicole Kidman, mais gata do que nunca em Batman Eternamente) a Rachel Dawes (interpretada por duas atrizes em dois filmes diferentes, e sem final feliz em ambos), e o pior de tudo é que nem nos gibis o Batman se salva: sua obsessão pela morte dos pais o transformou em um dos personagens mais amargurados de todos os tempos.
Para não dizer que tudo sempre acaba mal no circuito amoroso heróico, citemos o espírito-que-anda e sua aventura para a tela grande. O Fantasma, um dos mais amados e mais antigos heróis em atividade, ganhou uma adaptação homônima em 1996, dirigida pelo australiano Simon Wincer (que será para sempre lembrado como o diretor de Free Willy) e protagonizado por Billy Zane (aquele ator que todo mundo jura ter visto na franquia A Múmia, mas não era ele). Sua cônjuge, a funcionária burocrática dasNações Unidas e faixa preta em karatê Diana Palmer, foi interpretada por Kristy Swanson (um doce de côco na época) e sua relação com o herói das selvas foi das mais felizes no fim das contas (os dois formam um dos casais mais sólidos da banda desenhada). Uma pena que o filme, embora bastante fiel à origem, tenha sido lastimável em quase todos os outros aspectos, ficando tão maldito que a única coisa que vingou depois dele foi a carreira de Catherine Zeta-Jones, que interpretava uma vilã. Enquanto Zeta-Jones ganhava o Oscar por Chicago, Kristy Swanson casava com um patinador.
E já que comecei o texto citando-a, vamos finalizar com a mais célebre reporter do Planeta Diário e suas SEIS versões para a tela (três para a grande, e três para a pequena). Dona de um instinto jornalístico invejável e – na maioria das vezes – uma beleza ímpar de deixar até alienígena apaixonado, Lois Lane é o que podemos chamar de mulher geniosa. A moça fica com borboletas no estômago toda vez que oSuper-Homem aparece para salvar o dia, porém, sua relação com o colega Clark Kent curiosamente beira o inverso em alguns momentos. Nas histórias em quadrinhos, faz um bom par de décadas que Lois descobriu a verdadeira identidade do homem-de-aço, mas quando isso acontece nas telas, sempre surge uma boa desculpa ou um beijo-apagador-de-memória (valeu, Richard Donner) para proteger a identidade secreta do herói. Seja como for, Kal-El sempre esteve bem servido quando o assunto era Lois Lane nas telas, e atrizes como Teri Hatcher, Phyllis Coates e Erica Durance não me deixam mentir. Assim como Lex Luthor , as melhores e mais belas versões da namorada do Super-Homem vieram da TV.
Não há dúvidas de que o amor é um forte motivacional para que o super-herói continue com sua luta diária contra o crime (ignore o Batman neste sentido). Decididas ou delicadas, nervosas ou calculistas, bonitinhas ou extremamente ordinárias, ajudando ativamente ou servindo de refém, as mocinhas também espelham um lado mais humano destes poderosos seres para o público, além de deixarem a tela grande muito mais agradável aos olhos.
OBS: Adoraria ter incluído um “(os)” no título, logo após o “mocinhas” (já que, desta forma, teríamos super-heroínas gostosas desfilando pela tela grande), mas a verdade é que nem a Mulher Maravilha, expoente máximo de heroína das HQs, rendeu um longa-metragem para o cinema. Quando os estúdios sanarão esta afronta? Só o Sombra sabe.
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