Sem ele os quadrinhos não seriam o que são hoje. E se ainda hoje cuidasse do Homem-Aranha, quanta coisa seria diferente…
Por Judão
True believers! Ontem, dia 28 de dezembro de 2012, é uma data especial. Stanley Martin Lieber, mais conhecido como o Generalíssimo Stan “The Man” Lee completa 90 anos. HOORAY!Você sabe o motivo de tanta importância para Stan Lee. E não é por causa das pontas no cinema. Foi ele quem criou a base do Universo Marvel, desenvolvendo personagens como Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Os Vingadores, Thor, X-Men, Hulk, Demolidor e tantos outros. Tudo a partir de uma mente transbordando criatividade lá nos anos 60.
Se estamos aqui hoje falando de quadrinhos, devemos muito ao Stan Lee. E isso não aconteceu de uma hora pra outra, claro. Stan começou a trabalhar na então Timely Comics ainda em 1939, com a ajuda do tio Robbie Solomon – que, por sua vez, era genro de Martin Goodman, publisher da editora. Quando Joe Simon e Jack Kirby, os criadores do Capitão América, deixaram a editora, Goodman colocou Stan Lee como editor. Ele tinha apenas 19 anos. Ainda assim, a habilidade do garoto impressionou o publisher, que o transformou logo em editor-chefe.
Aqueles eram tempos de ouro para os quadrinhos, mas que não duraram muito: após a Segunda Guerra Mundial, as vendagens caíram e as HQs enfrentaram tempos difíceis. Nessa época, histórias de terror e sombrias eram o que dava algum dinheiro. O golpe fatal veio em 1955, quando Frederic Wertham publicou o livro A Sedução do Inocente. Naquele momento, boa parte da população dos EUA acredita que as HQs faziam mal para as crianças, trazendo mensagens de violência e homossexualismo. Desde as revistas de horror às poucas de super-heróis que sobreviveram (como o Batman) foram afetadas.
Quem melhor entendeu aquele momento foi a Distinta Concorrência. Com a recriação do Flash, em 1956, o editor Julius Schwartz mostrou o caminho: era preciso investir mais nos super-heróis e que eles fossem inocentes e próximos do arquétipo básico do herói, além de incluir elementos de ficção científica (que faziam sucesso no cinema e na TV). Pronto, nascia a Era de Prata dos Quadrinhos.
Não dá para dizer que Stan Lee foi um gênio que, logo de cara, pensou no caminho para o futuro. A Timely, que passou a se chamar Atlas, penou naqueles tempos criando super-heróis e personagens de western, humor e afins que não engrenaram e hoje são desconhecidos. Jack Kirby, que havia superado as diferenças com Lee, retornou para a Atlas. Porém, foi apenas anos depois que a virada finalmente aconteceu. A pedido de Goodman, que via na Liga da Justiça da DC um ótimo parâmetro para fazer uma HQ de super-heróis, Stan Lee criou algo nessa linha. Com a arte de Kirby surgia o Quarteto Fantástico, que tinha como principal atrativo não ser uma equipe, como era a LJA, mas sim uma família. A Atlas, que nessa altura já se chamava Marvel Comics, reencontrou o sucesso perdido nos anos 40. O Quarteto Fantástico explodiu, levando Lee a reconsiderar a aposentadoria dos quadrinhos que já estava planejada e a criar os outros personagens. Isso não foi, claro, um processo rápido e planejado. O Homem-Aranha, por exemplo, só foi publicado porque Amazing Fantasy estava para ser cancelada na edição 15 e Goodman concordou em dar uma chance para aquele personagem estranho. Os Vingadores só surgiram em 1964.
Ainda assim, todo aquele movimento expandiu o boom editorial dos quadrinhos alcançado pela DC anos antes, além de trazer uma evolução importante para o meio. Em alguns anos as histórias bobinhas criada para fugir dos seguidores de Wertham ganharam um tom mais maduro. Além disso, o fato de muitos heróis terem vindo das mesmas mentes criativas foi importantíssimo para a formação de um universo coeso, trunfo da Marvel até hoje.
Uma das principais críticas a essa fase de ouro da Marvel e do Stan Lee é que o editor-chefe se aproveitava das ideias alheias, reduzindo o crédito aos colaboradores e assumindo para si toda a criatividade. Não é verdade. Em toda a história, os grandes artistas (sejam eles artistas plásticos, escritores e tudo mais) se valem da ajuda de outros para criar as grandes obras, seja em menor ou maior escala. São vários os casos de pintores clássicos que pediam para os alunos, sob a supervisão deles, que pintassem quadros e aí, no final, eles apenas assinavam. Os quadrinhos possuem essa característica maravilhosa de quase nunca serem filhos de apenas um pai. Cada HQ possui a assinatura de dois, três caras, o que não diminui a importância de nenhum deles. O fato de Stan Lee estar envolvido na criação de tantos personagens famosos e importantes apenas mostra o quanto ele é brilhante. E o mesmo pode ser estendido a Jack Kirby. Tanto é que, hoje, Stan Lee faz parte do Hall da Fama dos quadrinhos que se chama, justamente, Jack Kirby Hall of Fame.
Se Stan Lee, até por ser editor-chefe, conseguiu colher mais frutos dessas criações e do sucesso nas décadas seguintes, mérito dele. Essa é uma visão empreendedora que todos devemos ter, mas que nem sempre é fácil conseguir.
De certa forma, podemos dizer que o editor e roteirista teve nos anos 60 uma visão que, em muita coisa, não é superada até hoje. Ele sempre foi um grande defensor da evolução constante dos personagens. Um grande exemplo disso é o próprio Quarteto Fantástico. Em 1965, em Fantastic Four Annual #3, ele promoveu o casamento entre a então Garota Invisível, Sue Storm, com Reed Richards. Em 1968, na sexta edição do anual, o casal teve o primeiro filho, Franklyn. Por conta desse crescimento, ela passou a usar o codinome de Mulher Invisível.
Com o Homem-Aranha, como comentei ontem, foi a mesma coisa: Peter Parker cresceu, indo do colégio para a faculdade e quase casando com a Gwen Stacy – algo que Lee queria, mas não era bem visto na Marvel. Há alguns anos, na San Diego Comic-Con, o quadrinista contou que aproveitaram uma viagem dele para a Europa para publicar A Noite em que Gwen Stacy Morreu. “Agora vocês sabem por que nunca mais voltei para a Europa”, brincou ele na época. Nos anos 80, Lee pressionou para que a Casa das Ideias promovesse o casamento entre Peter Parker e Mary Jane, que foi desfeito recentemente.
Na virada dos anos 60 para os 70 (quase na mesma época que Kirby foi para a DC), Stan Lee foi se afastando do trabalho como roteirista. Em 1972 deixou o cargo de editor-chefe da Marvel e no ano seguinte tivemos a última história escrita por ele para o Homem-Aranha. Com os anos, a influência de Lee na Casa das Ideias foi diminuindo, levando-o finalmente a embarcar em outros projetos nos anos 90. Um deles foi a Stan Lee Media, que não deu certo e foi deixada de lado pelo próprio criador. A empresa ainda assim foi resgatada e resolveu entrar em uma disputa judicial sem sentido contra a própria Marvel, alegando ter direitos sobre as criações do quadrinista. Em 2001, finalmente Lee trabalhou para a DC. Foi em Just Imagine Stan Lee, minissérie em 13 edições no qual ele recriou os principais personagens da editora com aquele jeito “Marvel”.
Atualmente, Stan Lee se divide entre os pontas nos filmes baseados nos personagens criados por ele, reality shows e novas HQs (produzidas pela POW! Entertainment, da qual é sócio), aparições em eventos e até um canal no YouTube. É bastante coisa para um senhor de 90 anos, né?
Há décadas Lee não tem mais qualquer pitaco editorial nas HQs da Marvel. Homem-Aranha, por exemplo, acabou de passar por grandes mudanças em seu status quo nesta semana, algo que foi motivo de brincadeira pelo próprio criador no Twitter (leia por sua conta e risco, há spoilers no tweet).
Assim, ficamos com o preview de Superior Spider-Man #1, que será lançado pela Marvel nos Estados Unidos em janeiro. Apenas para mostrar que seja para um pai ou para um quadrinista, criamos nossos filhos para o mundo. Depois de um tempo, eles devem sair por aí e viverem por si só. Mesmo que seja em um caminho completamente diferente daquele que o “pai” planejou.
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