Por Judão
Ah, a Vertigo. Fruto das histórias mais adultas
surgidas na segunda metade dos anos 80 na DC (principalmente pelas mãos
de caras como Alan Moore e Neil Gaiman), o selo criado em 1993 prosperou
– e muito – por causa de uma pessoa: Karen Berger. Agora,
depois de 19 anos desse marco histórico da editora, Karen, que
atualmente ocupa o cargo de Editora Executiva do selo e Senior VP da
editora, está deixando a DC, como informado pela própria empresa via
press release.
Tá aí mais um sintoma do triste fim da Vertigo.
Karen começou na DC como assistente do editor Paul Levitz e, depois, foi ser editora do próprio Levitz na antológica passagem dele como roteirista da Legião dos Super-Heróis. Mais interessada nas histórias de horror, em pouco tempo era editora do gibi do Monstro do Pântano, já escrito por Alan Moore na época. Quando Neil Gaiman começou o projeto de Sandman, ela era a escolha natural para editar a revista.
As duas publicações serviram de base para o que seria, poucos anos depois, a criação do selo Vertigo, que teria Karen Berger como editora executiva até hoje. Quem já leu entrevistas e livros sobre os títulos daquele começo de Vertigo, como o próprio Sandman, sabe que Karen sempre fez a linha de editora durona, daquelas que apontava correções e mudanças em um roteiro vindo até de Neil Gaiman e que era dura com artistas que não cumpriam prazos ou não estavam dentro dos padrões de qualidade que ela exigia. Uma das vítimas desse formato de trabalho foi Sam Kieth, o primeiro desenhista do Morpheus.
O fato é que, durona ou não, Karen conseguiu criar um dos mais sólidos selos do mercado de quadrinhos dos EUA, algo tão marcante que, no começo, foi chamado de “Bergerverse” por muitos.
A saída de Karen Berger é um sintoma de como as coisas mudaram na DC desde a chegada de outra mulher, Diane Nelson, a mesma que conseguiu levar a franquia Harry Potter para a Warner. Como presidente da nova DC Entertainment, Diane é obrigada a não só criar mais produções em outras mídias com os personagens da editora, mas também tornar as HQs da DC mais vendáveis. Por isso Dan Didio e Jim Lee foram alçados a co-publishers da editora. Por isso que tivemos o reboot da cronologia dos gibis, que foi um grande sucesso. E por isso que os personagens da Vertigo estão sendo incorporados ao Universo DC, que tem levado a cancelamentos como o de Hellblazer — Constantine, agora, terá um gibi próprio no UDC.
Se as decisões fortificam Os Novos 52, também esvaziam a Vertigo, que agora seria restrita a títulos que são propriedade dos próprios criadores, algo parecido (e maior) com que a Marvel faz com o selo Icon.
No meio disso tudo, sempre me perguntei como Karen Berger enxergava o resto da empresa tomando tudo aquilo que ela criou e solidificou por duas décadas. Até na hierarquia o poder dela diminuiu: passou a reportar ao editor-chefe Bob Harras, e não mais ao presidente da editora. Ela não iria fazer nada? Nadinha? Bom, o anúncio de Sandman Zero, com o retorno de Morpheus pelo próprio Neil Gaiman, parecia a retomada do que ela queria. Parecia. Provavelmente é o último suspiro. Karen Berger fatalmente saiu ao ver seu selo esvaziado e com as possibilidades que vê para o futuro totalmente podadas. Quem perde não é só ela: é também a DC e nós, leitores, que vamos ficar sem a cabeça pensante do melhor selo adulto de quadrinhos nos EUA.
No final das contas, a DC deve estar feliz. As mudanças surtiram efeito. A editora vende tanto quanto a Marvel (e até mais, dependendo do mês). Sem falar que existe vida fora da DC. A Karen Berger, ao lado do marido (que também trabalha com quadrinhos), poderia criar uma editora independente própria. Quadrinistas de sucesso que topariam trabalhar lá é o que não faltam.
Leitores também não iram faltar, com certeza.
Tá aí mais um sintoma do triste fim da Vertigo.
Karen começou na DC como assistente do editor Paul Levitz e, depois, foi ser editora do próprio Levitz na antológica passagem dele como roteirista da Legião dos Super-Heróis. Mais interessada nas histórias de horror, em pouco tempo era editora do gibi do Monstro do Pântano, já escrito por Alan Moore na época. Quando Neil Gaiman começou o projeto de Sandman, ela era a escolha natural para editar a revista.
As duas publicações serviram de base para o que seria, poucos anos depois, a criação do selo Vertigo, que teria Karen Berger como editora executiva até hoje. Quem já leu entrevistas e livros sobre os títulos daquele começo de Vertigo, como o próprio Sandman, sabe que Karen sempre fez a linha de editora durona, daquelas que apontava correções e mudanças em um roteiro vindo até de Neil Gaiman e que era dura com artistas que não cumpriam prazos ou não estavam dentro dos padrões de qualidade que ela exigia. Uma das vítimas desse formato de trabalho foi Sam Kieth, o primeiro desenhista do Morpheus.
O fato é que, durona ou não, Karen conseguiu criar um dos mais sólidos selos do mercado de quadrinhos dos EUA, algo tão marcante que, no começo, foi chamado de “Bergerverse” por muitos.
A saída de Karen Berger é um sintoma de como as coisas mudaram na DC desde a chegada de outra mulher, Diane Nelson, a mesma que conseguiu levar a franquia Harry Potter para a Warner. Como presidente da nova DC Entertainment, Diane é obrigada a não só criar mais produções em outras mídias com os personagens da editora, mas também tornar as HQs da DC mais vendáveis. Por isso Dan Didio e Jim Lee foram alçados a co-publishers da editora. Por isso que tivemos o reboot da cronologia dos gibis, que foi um grande sucesso. E por isso que os personagens da Vertigo estão sendo incorporados ao Universo DC, que tem levado a cancelamentos como o de Hellblazer — Constantine, agora, terá um gibi próprio no UDC.
Se as decisões fortificam Os Novos 52, também esvaziam a Vertigo, que agora seria restrita a títulos que são propriedade dos próprios criadores, algo parecido (e maior) com que a Marvel faz com o selo Icon.
No meio disso tudo, sempre me perguntei como Karen Berger enxergava o resto da empresa tomando tudo aquilo que ela criou e solidificou por duas décadas. Até na hierarquia o poder dela diminuiu: passou a reportar ao editor-chefe Bob Harras, e não mais ao presidente da editora. Ela não iria fazer nada? Nadinha? Bom, o anúncio de Sandman Zero, com o retorno de Morpheus pelo próprio Neil Gaiman, parecia a retomada do que ela queria. Parecia. Provavelmente é o último suspiro. Karen Berger fatalmente saiu ao ver seu selo esvaziado e com as possibilidades que vê para o futuro totalmente podadas. Quem perde não é só ela: é também a DC e nós, leitores, que vamos ficar sem a cabeça pensante do melhor selo adulto de quadrinhos nos EUA.
No final das contas, a DC deve estar feliz. As mudanças surtiram efeito. A editora vende tanto quanto a Marvel (e até mais, dependendo do mês). Sem falar que existe vida fora da DC. A Karen Berger, ao lado do marido (que também trabalha com quadrinhos), poderia criar uma editora independente própria. Quadrinistas de sucesso que topariam trabalhar lá é o que não faltam.
Leitores também não iram faltar, com certeza.
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