sábado, 4 de fevereiro de 2012

Quadrinhos e educação

Por Alexandre Callari
HQs e a educação. Procuro com este breve ensaio responder a uma pergunta: será que as histórias em quadrinhos são, efetivamente, pulverizadores da cultura e educação? E mais, como se encaixa a figura das gibitecas nessa equação?
Se o eixo do trabalho pedagógico de uma proposta cultural/educacional for a qualidade da formação a ser oferecida ao público, então é imperativo que ela proporcione acesso a bens culturais, já que é precisamente esse mesmo acesso que permite aos jovens construírem estruturas mentais que os capacitem para o processo de conscientização, cidadania e, por conseguinte, de uma educação permanente.
Com base nessa premissa, a existência de uma gibiteca catalisa as condições básicas para que um indivíduo faça seu primeiro contato com o montante de conhecimento que a humanidade acumulou ao longo de sua história – o que detona com o conceito antiquado de que histórias em quadrinhos são mera forma de entretenimento. Se vencermos as barreiras dos preconceitos e enfrentarmos estereótipos infantis, poderemos reconhecer que a produção de quadrinhos é uma forma de arte – a Nona Arte, para ser mais exato – e admitir que eles são veículos capazes de, entre outras coisas, estimular o hábito da leitura, portanto, veículos educacionais.
Evidentemente, considerando que o ato de ler por si só, não constitui uma ação de grande apelo, já que o fundamental não é a leitura em si, mas sim o conteúdo que o indivíduo pode absorver por meio dela, cabe ao profissional cujo discernimento é maior, orientar as ações de leitura dos mais jovens. Essa máxima pode ser aplicada a todo tipo de texto escrito, da poesia à prosa, histórias em quadrinhos ou letras de música, peças de teatro ou roteiros de filmes – o filtro sempre se faz necessário. Obviamente, seja qual for a forma de expressão artística, sempre haverá bons e maus exemplares (isso é algo que não se pode questionar) contudo, é correto afirmar que a leitura direcionada de histórias em quadrinhos é capaz de suprir o acesso sem restrições aos mais diversos suportes de informação existentes.
Quadrinhos são um infindável banco de dados que discute moral, ética, ciências, história, filosofia, comportamento, política, religião ou qualquer outro assunto que a literatura tradicional já tenha abordado. Não raro o fazem com sem qualquer embaraço, algo tão característico da TV alienadora, e com inegável propriedade, mantendo o mesmo nível de qualidade que gozam as mais tradicionais obras da literatura. É importantíssimo que o Poder Público tenha ciência desse fato, já que a partir desse princípio, ele será capaz de promover uma série de ações em prol da população. A implantação de uma Gibiteca Municipal é decerto uma delas, pois auxiliará o leitor na obtenção de ferramentas que o ajudem na formação de sua personalidade, pensamento crítico, caráter e hábitos.
Em conjunto com a estrutura física que a gibiteca representa, com seu acervo para consulta, há também uma série de ações culturais/educacionais que fazem parte do contexto do órgão e preenchem seu dia a dia, como o estudo dirigido de textos, cursos relacionados a quadrinhos e produção de material próprio, inédito e independente. A leitura de histórias em quadrinhos, por ser uma atividade que encontra amplo respaldo e simpatia junto ao público jovem, deve assumir seu lugar no espaço pedagógico. Como já foi mencionado, além de ser um centro difusor do conhecimento humano, se constitui efetivamente na primeira oportunidade concreta de contato para grande parte dos jovens com todo o patrimônio científico e cultural da humanidade. E, caso durante todo esse processo ainda for possível divertir-se um pouco, então por que não?

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