Por Henrique Magalhães - Marca de Fantasia
Ao passar numa esquina da avenida Ruy Carneiro, na
praia de Tambaú, em João Pessoa, deparei-me com uma inesperada colagem
em um muro de um terreno baldio. Aquilo chamou-me a atenção por ser uma
tira de quadrinhos ampliada e ter conteúdo provocativo e questionador. A
autora é Thaïs Gualberto e a arte, sua personagem "Olga, a sexóloga
taradóloga". Imediatamente essa ação me remeteu ao movimento de arte de
rua que prolifera em São Paulo, onde os stickers, cartazes com
textos e grafismos poéticos, partilham os muros da cidade. Também
levou-me mais além, pelo caráter panfletário e mobilizador, às pichações
com frases políticas que rompiam o cerceamento à liberdade de expressão
no combate à ditadura militar entre os anos 1960 e 1980.
|
Thaïs é uma quadrinista da nova geração na Paraíba, mas já tem presença marcante. Publicou tiras no jornal estadual A União, foi uma das fundadoras do Coletivo WC (webcomics) e lançou duas edições da revista Sanitário,
cujo terceiro número encontra-se em gestação. A obra de Thaïs se
destaca pelo tom sempre crítico, traduzindo em linguagem artística as
inquietações que a cercam. Sua atitude proativa é a de quem pensa a vida
como um palco de transformações, em que os atores devem ser mais que
figurantes.
As colagens de Thaïs falam
bem de sua coerência como indivíduo e artista, numa demonstração de que a
obra não pode estar dissociada da vivência. Mais sobre sua visão de
mundo e sua arte no questionário a seguir, enviado à artista em
05/09/2014. Henrique Magalhães
Thaïs, entre final de agosto
e início de setembro encontra-se afixado em um muro da cidade uma
colagem com uma das tiras de sua personagem "Olga, a sexóloga
taradóloga". Como surgiu a ideia dessa intervenção?
Eu já tinha um pouco de
experiência com colagens. Os maiores trabalhos que eu fiz foram a
intervenção do Coletivo WC no banheiro do Espaço Mundo (bar e espaço
cultural alternativo situado na praça Antenor Navarro, centro histórico
de João Pessoa), com outras pessoas do grupo e o lambe-lambe com a minha
charge do tanque na exposição da Aliança Francesa. Foi a partir dessa
última que eu tive a convicção de que dava pra fazer isso com as minhas
tiras também.
|
|
Em São Paulo, em paralelo
aos grafites, há um movimento de stikers, ou colagens, de poemas
textuais e gráficos. Você inspirou-se nessas ações?
Com certeza, a arte urbana é uma referência forte para mim. Já tive outras experiências com quadrinhos e stickers
também, antes de colar as tiras gigantes eu colei algumas tirinhas
pequenas pelo centro histórico, ainda na época do Coletivo WC.
Há apenas uma colagem ou há outras pela cidade? Quando foi feita a primeira colagem e em que local?
A colagem que está ao lado
da avenida Ruy Carneiro foi a última que fiz e a única que resiste. Fiz
uma em frente à Lagoa (centro da cidade) dia 16 de agosto, durante a
Marcha das Vadias, mas ela foi coberta com os tapumes da reforma. Fiz as
primeiras no fim de maio, na rua Henrique Siqueira e na Praça Rio
Branco (que foi a primeira de todas) e depois mais duas na avenida
Epitácio Pessoa, mas essas já foram cobertas com propagandas de show de
forró.
|
O que você pretende com essa ação?
Eu gosto de fazer tiras que
falam sobre os problemas da sociedade, mas minhas tiras geralmente só
alcançavam meus amigos e pessoas que já acompanhavam a minha fanpage
no Facebook. Eu queria falar pra mais gente, queria alcançar aquelas
pessoas que seria impossível atingir de outra maneira, queria que fosse
impossível pras pessoas da cidade ignorar o que está lá.
Houve alguma reação favorável ou desfavorável à ação de colagem? E ou ao conteúdo da tira?
Na fanpage o
pessoal comenta, elogia, mas por incrível que pareça, não vi nenhuma
ação desfavorável. Sempre fico meio temerosa de me expor tanto ao tratar
de temas polêmicos como aborto e homofobia, assim como também tenho
medo de sofrer alguma repreensão pelas colagens, mas tomo sempre cuidado
de escolher lugares “sem dono”, como tapumes de construção e muros de
prédios demolidos. A única “intervenção” que eu vi em uma tira minha foi
reclamando do PT(7), mas no fim das contas achei até engraçado.
|
Você conta com apoio de um grupo ou se trata de uma ação individual?
É uma ação individual, um
projeto meu, mas sempre tenho ajuda de alguém durante as colagens, às
vezes de amigas, às vezes do meu namorado.
Você vê alguma relação entre suas colagens e as pichações de frases políticas nos muros em décadas passadas?
Acho que no fim das contas a
intenção é a mesma, tentar transformar a sociedade de alguma maneira,
chamar a atenção para certos debates, enfim, fazer do mundo um lugar
melhor para todos. Sei que é pouco e não serei eu que irei mudar o
mundo, mas acredito na galinha que enche o papo de grão em grão.
Acompanhe a obra de Thaïs no Facebook: www.facebook.com/kisuki.me/
As tiras de "Olga, a sexóloga taradóloga" também estão na edição 5 da revista Maria Magazine
<http://marcadefantasia.com/revistas/maria/mariamagazine-05/mariamagazine5.htm>
e no Memorial da HQ da Paraíba <www.memorialhqpb.org>
As tiras de "Olga, a sexóloga taradóloga" também estão na edição 5 da revista Maria Magazine
<http://marcadefantasia.com/revistas/maria/mariamagazine-05/mariamagazine5.htm>
e no Memorial da HQ da Paraíba <www.memorialhqpb.org>
Nenhum comentário:
Postar um comentário